ZUMBIS

POR QUE AMAMOS ZUMBIS?
Alguns anos atrás, a grande estrela internacional do Cinefantasy foi o diretor Marc Price, um inglês que realizou o filme de zumbis: “Colin”.
Marc é um jovem nerd, que nunca teve formação cinematográfica, aprendeu a fazer cinema assistindo a extras de dvds e acabou como uma grande atração com seu filme independente em Cannes.
Pessoas se impressionaram com o orçamento de “Atividade Paranormal” a ponto de usar a expressão “apenas 15 mil dólares”, eu fico imaginando qual seria a reação dele se soubesse que Marc Colin fez o filme de zumbis dele contando com a amizade de parceiros, a boa ação de amigos fiéis, e um custo prático de… 78 dólares.
Eu vou repetir: o cara sem formação cinematográfica fez um longa-metragem de zumbis com menos de 80 dólares (!), e foi parar em Cannes (e se Marc fez aquilo com 78 dólares, se dessem 15 mil na mão dele, ele faria um blockbuster!).
E o filme é bom!
Na trama, nós acompanhamos de cara a tensa transformação de homem em zumbi e depois acompanhamos toda a invasão zumbi do ponto de vista dele.
Mas a questão aqui a ser levantada hoje é: por que, afinal de contas, zumbis são como azeite extra-virgem de boa qualidade; quase tudo com eles fica bom?
Por que eles se entranharam tanto na cultura pop a ponto de funcionarem desde aliados ao gênero terror, sua casa original, até as comédias escrachadas e comics de super-heróis?
A questão do nosso post é: afinal de contas, por que diabos amamos tanto zumbis?
Qual o futuro do gênero zumbi?
Bom, eu sei. E não sei se vocês irão gostar. Mas para chegarmos até lá, vamos fazer uma recapitulação do que representa esse gênero de maneira dinâmica.
É, foi aqui que tudo começou na prática, queria ou não a wikipédia concordar com isso.
Um bando de haitianos e cubanos doidões e sem noção do perigo resolveu bater um tambor com vontade, a ponto de reverberar lá no Inferno. Daí vem a definiçao do vodu: um zombie é um corpo sem alma ou com a alma aprisionada por magia negra, a que se devolve a vida para se utilizar em fins mundanos.
E aí já viu, né? Com índice de desemprego grande, em vez de pagar dez pratas pra um camarada ganhar uma grana e fazer o trabalho, o pessoal resolveu trazer os mortos de volta pra fazer serviço de graça.
Só que, feliz ou infelizmente, nada é de graça nessa vida.
Resultado: os renascidos se mostraram retardados demais para compreender quem seriam seus mestres, ficaram com fome e começaram a devorar todo o mundo.
É um fato: zumbis costumam representar uma metáfora da atual sociedade em que seus criadores estão envolvidos. Ou ao menos essa era a idéia original.
É a idéia de uma nova sociedade que devora a antiga e reinicia o ciclo.
Entretanto, nunca um criador foi tão honesto e genial nesse trabalho e com esse mito quanto George Romero.
A genialidade de sua forma de narrar esse tipo de gênero é que ele faz você não saber em uma mesma cena se ri ou se grita de horror, como no caso da cena da velha que começa observando um inseto como quem não quer nada… e depois o come!
Qual a sua reação diante disso?
Seu primeiro filme, “A Noite dos Mortos Vivos”, foi filmado em preto e branco, no mínimo uns 40 anos atrás, e já era uma crítica forte, direta e agressiva (é, isso nem dá para contestar…) ao racismo americano, com aqueles zumbis levantando-se à caça de carne fresca e miolos com vermes.
Imaginem; era lá pelo final dos anos 60, época dos hippies e em que as pessoas mantinham todo aquele ideal de não aceitar as regras pré-estabelecidas pela sociedade; em que pregavam o amor livre, um amor sem laços de fidelidade, crença ou raça.
Uma época de Guerra Fria e da presença ainda sempre traumática da Guerra do Vietnã no imaginário norte-americano. Até mesmo o protagonista do filme, Duana Jones, se tornou o primeiro herói negro de um filme de horror.
Além disso, tal qual como Drácula fizera com as histórias de vampiro, com esta obra George Romero definiu um “guia prático” e toda uma mitologia ao redor da “filosofia zombie”, que não existia antes dele.
O mais curioso é que Romero fez o filme inspirado no romance “Eu Sou a Lenda”, de Richard Matheson, que possui uma mensagem parecida, e que o filme com Will Smith, tantos e tantos anos depois,passou longe em se focar.
crítica social de Romero continuou ao longo de sua obra.
Em “O Despertar dos Mortos”, os (que ainda estão) vivos ficam presos em um shopping center cercado de mortos vivos e, pasmem, acabam se deslumbrando com tudo que podem pegar de graça!
E os zumbis invadem e caminham pelo shopping até mesmo depois de mortos!
O filme é uma crítica interessantíssima ao consumismo e ao mundo “gossip girl” de ser. Da mesma forma como os zumbis nunca param de comer carne humana, em um apetite insaciável a sociedade de consumo incentiva um consumo desenfreado, além dos limites de qualquer lógica, bom-senso, pudor ou autocrítica de seus infectados.
Incentiva um sentimento que vai passando de um “contaminado” para os outros ainda não “aderidos” ao redor (tal qual o contágio de uma mordida de um morto-vivo), até que a horda de mortos-vivos (ou “mortos em vida”) vá aumentando e devore tudo ao redor.
Em “Dia dos Mortos”, os humanos ficam presos em bunker e são os zumbis que andam a luz do dia. É uma metáfora que nos diz para sairmos das nossas covas e aceitarmos o que somos, devorarmos tudo que é falso e que nos impede de sermos verdadeiros (a mesma metáfora do muro “The Wall”, do Pink Floyd) e de evoluir.
No caso, os zumbis aqui são uma evolução e a sociedade que se diz a real é que está na escuridão, sonhando com um lugar ao sol.
Em “A Terra dos Mortos”, os personagens ricos e pobres (que ainda estão) vivos geram uma tensão extrema envolvendo a forma como lidarão com os zumbis. Os ricos vivem em torres de vidro, cercados de exércitos particulares. Os pobres vivem no perímetro, fazendo o trabalho que os ricos jamais sujariam as mãos para fazer.
É uma metáfora contra a indiferença política à pobreza mundial; a mesma metáfora que Bono Vox e o U2 se engajam em outro extremo.
O fato é que histórias de zumbis são ao mesmo tempo reacionárias, anarquistas e revolucionárias. Ou inicialmente o objetivo era esse.
Entretanto, aconteceu algo. Afinal, tudo que fascina (e vende), tal qual um morto-vivo, é devorado pela mídia.
E os zombies foram devorados pela cultura pop.
É difícil se dizer onde começou essa contaminação.
Talvez a culpa seja dos videogames, talvez da internet, talvez da literatura ou dos diretores ruins. Não importa; o fato é que todo aquele conceito de metáforas sociais que os zumbis tinham no início foi se perdendo e perdendo e perdendo… até que chegou a uma geração que não fazia a menor idéia da crítica inicial que era feita.
Até chegar a uma geração em que Zombies não eram mais assustadores. Era uma das coisas mais legais que já haviam inventado!
E então a geração atual descobriu algo ainda mais fascinantes, e foi aqui que o capitalismo – o mesmo criticado lá no “Despertar dos Mortos” – fez a festa: as gerações mais novas começaram a descobrir que tão legal quanto zumbis era matar zumbis!
É claro; faz todo o sentido. Se você fosse calar o instinto homicida que existe em você dando com um taco de baseball na cabeça do trombadinha que tá correndo com a bolsa da velhinha, isso envolveria todo um julgamento moral, afinal, existem regras na sociedade em que você vive e pode ser que você tenha uma parcela de culpa pelo trombadinha não ter o que comer.
Agora, se quem estiver atrás da velhinha for um trombadinha zombie, então você não apenas pode como deve dar com o taco de baseball na cabeça dele!
E quem vai reclamar? Eles já estão mortos mesmo!
E aí já viu, entrou na cultura pop já era!
E nossos zombies começaram a ficar menos retardados, a pular, a falar, a pensar, a correr, a nadar, a saltar de pára-quedas (sério…), a fazer passeatas, a dançar!
Eles passaram a assombrar personagens de filmes, livros, quadrinhos, games! Zombies passaram a fazer frente a pessoas comuns, heróis, super-heróis!
Suas origens deixaram de ser apenas magia negra e se transformaram em acidentes nucleares e radioativos, vírus, simbioses alienígenas, lotação máxima no Inferno, sinal do apocalipse, falta de amor no coração!
Quase tudo passou a figurar ao lado dos coitados, desde a nova versão de “Orgulho e Preconceito”, da Jane Austen, até… zumbis nazistas!
E o interessante é que os zumbis geraram os “zombies hunter” ou “zombies killers”! Olha que interessante; o mundo mudou, as metáforas mudaram, e tudo mudou com elas a ponto de gerar um upgrade!
Antes os zumbis representavam uma metáfora contra os conceitos da sociedade que nos impediam de evoluir. Só que a sociedade se adaptou ao mito, e começou a destruir essa metáfora de dentro para fora.
As pessoas antes tentavam sobreviver a um ataque zumbi; hoje elas já gostam de enfrentá-lo!
O capitalismo começou a transformar em pop a própria crítica a si próprio (não é um perfeito zombie comedor da própria carne?). E com isso, ele criou um ícone (o tal do zombie hunter) que funciona como um anticorpo que mata o vírus inicial que tentava destruí-lo!
Só que de fato, é inegável: matar zumbis é muito divertido.
Se você explode a cabeça de um deles com um shotgun nas mãos de Chris Redfield; se você corta um deles ao meio em Dead Rising; se você vê (zombie) Magneto arrancar o couro cabeludo do (zombie) Capitão América com o próprio escudo dele; enfim, é sempre divertido!
(Não sei o que é mais pop; o game Plants vs Zombie ou o clipe musical que não sai da cabeça!)
E como todo um gênero, assim como o foi com o Vampiro, o Lobisomen e tudo o mais, sempre haverá aqueles que compreenderão a origem dos mitos e farão coisas geniais a seu próprio modo, ainda que atualizados com sua atual geração.
Logo, “Extermínio”, “Todo Mundo Quase Morto”, “REC” (que deveria ser uma abreviação de “Resident Evil Competente”, sendo tudo que a adaptação oficial do jogo gostaria de ter sido), “Dead Snow” (o tal dos zumbis nazistas), o brasileiríssimo “Mangue Negro”
, o recente “Zombieland”, e a HQ “The Walking Dead”, só para citar alguns exemplos, não apenas honram a tradição, como demonstram que é um mito que nunca morrerá.
Aliás, em se tratando de mortos-vivos, essa é até mesmo uma expressão digna de nota.
Agora, lá no início, havia citado que eu sabia qual o futuro do gênero. E que eu não sabia se você iria gostar ou não de saber, mas eu vou lhe dizer.
Quando eu contei o que vou lhe contar ao diretor Marc Price (aquele do filme “Colin”, do início do post)
, ele colocou as mãos na cabeça e fez: “noooooo!”.
Seguinte: visitando a minha editora, eu descobri dentre os direitos adquiridos por ela, o livro que tem tudo para ser uma próxima antropofagia canibal capitalista, que editoras ao redor do mundo andam se estapeando por e que já tem até os direitos cinematográficos comprados!
Trata-se de uma história de amor zumbi, em que o protagonista através do amor de redenção em busca da sua amada, descobre a pureza e começa… a voltar a ser humano.
Ou seja, em outras palavras, preparem seus estômagos para o bem ou para o mal: afinal, o futuro do gênero, tal qual aconteceu com os vampiros, será…
… zumbis emos!
COMO MATAR DEFINITIVAMENTE UM ZUMBI?
Todos que freqüentam aqui, o Cine Terror Trash, já devem ter vistos no mínimo um filme do subgênero zumbi, e neles aprendido como matar definitivamente um zumbi: um tiro certeiro na cabeça! Pois o caso é o seguinte: esses filmes estavam errados! Não se mata um zumbi simplesmente se inutilizando o seu cérebro, pois se os zumbis são comedores de cérebro e atacam as pessoas normais para devorar os seus “mioooooolos”, como então essas pessoas – sem cérebro, que já foram devorados – conseguem se levantar e sair atrás de comida fresca?
Esse “mito do mito” origina-se lá longe, acredito eu na década de 70, antes do classicismo oitentista do cinema de terror, nos filmes de Romero – um dos deuses do panteão "cineterrorista" (gostei dessa palavra), a partir da criação de “Dia dos mortos”! Pode-se ver uma diferença bem marcante desta serie de filmes para a série de “A Volta dos Mortos-Vivos” da década de 80, onde os zumbis não tinham a sua morte definitiva (nem com tiro, nem decepando-lhes a cabeça) exceto é claro por medidas extremas – bombas nucleares, incinerando-os e etc. O que nos traz um ambiente muito mais apavorante, onde nós, mesmo que quiséssemos, não poderíamos exterminá-los, como acontece na franquia de jogos e filmes de “Residente Evil – Hospede Maldito”. Essa diferença praticamente cria uma fronteira entre o Terror e a Aventura. Deixando a “Sementinha do Mal” em nossas mentes para que tenhamos pesadelos a noite ao invés de sonhar ser o herói que salva o mundo da infestação de zumbis. Pois eu e meus companheiros entusiastas do terror, depois de muitas especulações, achamos a resposta para esta questão de como realmente matar um zumbi! O caso é o seguinte: os zumbis morrem quando se atiram nas suas cabeças não por causa do cérebro danificado, mas sim pela quebra de um pequeno osso craniano, que na realidade é o centro nervoso do sistema instintivo/locomotor do zumbi, é lógico! Não interessa a calibre de sua arma, ou o peso de seu taco de beisebol, desde que você acerte o maldito ossinho da testa!

Posted by DJ BURP | às 10:44

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