POR QUE É DIFÍCIL DIZER NÃO ÀS DROGAS
Quem usa drogas pela primeira vez não
vê
os amigos se acabando nas sarjetas e não
acredita que vai ser um viciado
os amigos se acabando nas sarjetas e não
acredita que vai ser um viciado
As
campanhas contra o uso de drogas e a exibição na televisão do efeito devastador
que elas têm sobre a vida dos viciados deveriam ser suficientes para riscar
esse mal da superfície do planeta. Não é o que acontece. Num desafio ao bom
senso, um número enorme de adolescentes continua dizendo sim às drogas.
Pesquisa recente mostrou que um em cada quatro estudantes do ensino fundamental
e médio da rede pública brasileira já experimentou algum tipo de droga, além do
cigarro e das bebidas alcoólicas. A idade do primeiro contato com esse tipo de
substância caiu dos 14 para os 11 anos em uma década. Tais dados sinalizam um
futuro bem ruim. Quanto mais cedo se experimenta uma droga, maiores são os
riscos de se tornar viciado. As pesquisas também revelam que a maioria dos
jovens sabe que as drogas podem se transformar num problema sério. Mas isso não
basta para mantê-los longe de um baseado ou de um papelote de cocaína.
Por
que é assim? É claro que quem experimenta pela primeira vez não deseja virar
viciado. Um estudo do Grupo Interdisciplinar de Estudos de Álcool e Drogas da
Universidade de São Paulo (Grea) diz que a curiosidade é a motivação que leva
nove em cada dez jovens a consumir drogas pela primeira vez. Em seguida vem o
desejo de se integrar a algum grupo de amigos. No momento da iniciação das
drogas, o adolescente não vê os amigos morrendo, sendo pressionados por
traficantes nem se acabando nas sarjetas. Também é difícil perceber a
importância que a droga pode assumir em sua vida no futuro. A maioria das
drogas só provoca dependência depois de algum tempo de uso. Ou seja, quem entra
nessa só percebe tarde demais que está num caminho sem volta. Apenas uma
parcela dos usuários se torna dependente grave, do tipo que aparece nas novelas
de TV. Apostar nesse argumento para usar drogas é uma loteria perigosíssima,
porque ninguém sabe ao certo se vai virar viciado ou não.
Há
alguns fatores que contribuem para que um jovem tenha maiores probabilidades de
se viciar. O primeiro é genético. Já se provou que pessoas com histórico
familiar de alcoolismo ou algum outro vício correm maiores riscos de também ser
dependentes. Os demais estão relacionados com a personalidade. Adolescentes
tímidos, ansiosos por algum tipo de reconhecimento entre os amigos, apresentam
maior comportamento de risco para a dependência. Eles acreditam que as drogas
os ajudarão a ser mais populares entre os colegas ou que serão uma boa maneira
de vencer a travação na hora de se declarar e namorar, tarefa sempre complicada
para quem é introvertido. Jovens inseguros, que sofrem de depressão ou
ansiedade, costumam procurar as drogas como alívio para seus problemas. É ainda
uma forma de mostrar aos pais que algo não vai bem com eles ou com a vida
familiar. No extremo oposto, aqueles que parecem não ter medo de nada e que
buscam todo tipo de emoções também correm grande risco de se envolver com drogas.
O
melhor jeito de dizer não às drogas é entender que ninguém precisa ser igual ao
amigo ou repetir padrões de comportamento para ser aceito no grupo. É por isso
que a prevenção em casa funciona melhor que os anúncios do governo. "Dá
para fazer uma boa campanha doméstica sem falar necessariamente em droga",
diz o psiquiatra Sérgio Dario Seibel, de São Paulo. Em outras palavras: é
natural o adolescente repelir reprimendas e conversas formais sobre esse
assunto. Imediatamente fecha a cara e os ouvidos a quem lhe diz em tom grave:
"Precisamos conversar sobre drogas", seja o pai, a mãe, seja o
governo ou qualquer instituição. A situação ainda é pior quando o pai bebe todo
dia sob o pretexto de relaxar ou quando está nervoso e deprimido. Ele pode passar
para o filho a idéia de que a bebida é um poderoso aliado para enfrentar
obstáculos. A mãe que toma comprimidos para dormir também está dando ao filho a
falsa idéia de que as substâncias químicas garantem a felicidade. Daí a ele
achar natural usar drogas é apenas um passo.
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