MITOLOGIA MESOPOTAMICA
Mitologia Mesopotamica:
A Mesopotâmia compreendia o extremo sul da planície que se estende
entre os rios Tigre e Eufrates, que atualmente é chamado de Iraque. O
terreno semidesértico necessitava do regadio, ao mesmo tempo em que a
quase ausência de madeira e pedras levou que os edifícios fossem
construídos com tijolos.
Os primeiros assentamentos se deram pôr volta de 4500 anos antes de Cristo, nas proximidades do Golfo Pérsico. Os seus habitantes foram os sumérios, um povo conhecido pôr sua criatividade. A complexa religião e mitologia da antiga Mesopotâmia foi uma invenção sumeriana. Arraigou-se e prosperou nas cidades que se desenvolveram, a partir do séc. 3 a.C., nos assentamentos primitivos. Muitas cidades ainda tinham nomes sumérios reconhecíveis em época posterior, o que apenas demonstra uma continuidade do povoamento. Do mesmo modo, apesar de ter sido inundada pôr vindas sucessivas dos semitas - sobretudo babilônios e assírios, a tradição cultural sumeriana se manteve praticamente intocada. Os semitas assimilaram a filosofia suméria e lhe incorporaram características próprias.
Até a conquista de Alexandre, o Grande, rei da Macedônia, no século 4 a.C., a tendência religiosa era a evolução das deidades nacionais. Tanto Marduk, deus babilônio, como Assur, deus assírio da guerra, foram considerados potências supremas do universo em vez de serem vistos como membros de um panteão que controla as forças naturais.
A religião mesopotâmica se origina da veneração dos fenômenos naturais. Parece que, ao princípio, os sumérios imaginaram algumas dessas forças como tendo forma animal, mas posteriormente preferiram a forma humana como modo de representar os deuses.
Gradualmente, os deuses se aproximaram aos seres humanos e entraram nos templos construídos em sua honra. Freqüentemente essas "casas" estavam nos zigurats, imensos montículos artificiais de tijolos secados ao sol. De acordo com a épica babilônica da criação - que leva o nome das primeiras palavras, Enuma elish (Quando do alto...), os homens foram criados somente para aliviar os deuses da carga de trabalho. Este poema da criação explica o dilúvio dizendo que Enlil, deus sumério do ar, já não podia suportar o barulho da cidade onde estava erguido o seu templo.
Depois de inúmeras tentativas para silenciar o povo com a praga, a seca e a infertilidade, Enlil lançou um descomunal dilúvio sobre a terra. Somente sobreviveram a família e os animais do sábio Atrahasis.
A máxima autoridade do panteão era Am (sumério) ou Anú (babilônio), cujo nome significa "céu". Provavelmente os sumérios acreditavam que a vida surgiu do matrimônio entre Am (o céu) e Ki (a terra). Entretanto, no período em que a população da Mesopotâmia se concentrou nas cidades, Enlil - deus de Nuppur – era a deidade mais importante.
A dependência da agricultura intensiva levou à crença que o crescimento das cidades era conseqüência de um presente de Enlil: a enxada. Como os sumérios também consideravam esta deidade como o dono daquele instrumento, o templo possuía e explorava a maior parte das terras irrigadas.
O dever principal do governante temporário era, portanto, salvaguardar os interesses do deus da cidade, dado que a monarquia "descendia do céu" como meio de interpretar a vontade divina perante os homens.
A relação entre os deuses e os governantes se tornam claras nas grandes cerimônias de veneração que aconteciam nas festas das estações. No Ano Novo, pôr exemplo, o monarca personificava o deus em um casamento sagrado com a suma-sacerdotisa, que representava a mãe-terra.
A assembléia dos deuses - autoridade máxima do universo mesopotâmico - se reunia em um canto da antecâmara do templo de Enlil, em Nippur. Salvo pôr motivo do seu próprio julgamento, Enlil costumava executar as decisões da assembléia mediante uma tempestade. Em Enuma Elish se descreve o debate divino mais dramático que se tem registrado. Refere-se à ameaça plantada pôr Tiamat, o dragão babilônico do caos.
Desesperados diante da enormidade das forças que Tiamat tinha colocado contra eles, os deuses escolheram Marduk como governante absoluto. A vitória de Marduk concedeu a liderança da Mesopotâmia à cidade de Babilônia.
De forma diferente ao isolado vale do Nilo dos antigos egípcios, a experiência histórica da planície entre o Tibre e o Eufrates foi turbulenta e esteve impregnadas de mudanças bruscas. As invasões estrangeiras e os conflitos internos se somaram ao caudal irregular dos grandes rios e moldaram uma perspectiva mitológica que deu importância tanto à luta cósmica como ao ordenamento divino do universo.
Mitologia Sumeriana
Os mitos da Suméria são cosmológicos e procuram investigar a origem do povo, da raça, da sociedade. É a mitologia subjetiva: representa aquele estágio em que a reflexão humana, pela primeira vez, tomou conhecimento dos fenômenos psíquicos, internos, e do mundo exterior em função do Homem como ser racional; é, sem dúvida, a mais antiga "reflexão humana" que conhecemos. Os elementos que a mitologia sumeriana utiliza são terrenos e familiares.
..
Procura explicar a diversidade entre o estável e o instável, entre o que é duradouro e o que é fugaz ou efêmero, entre o que é seco e o que é úmido; depois vem o mar, último, talvez, em ordem cronológica, mas o primeiro elemento de espanto para o povo sumeriano, o mar, figura misteriosa e temível; ele representa a eterna luta entre a água e a terra firme. .
O panteão sumeriano é o reflexo das famílias organizadas em grupo social. Era imenso mas é verdade que a maioria representava pequenos deuses locais que foram assimilados ou esquecidos; os grandes deuses, porém, eram adorados na maioria das cidades; muitos chegaram mesmo a figurar no panteão babilônico.
Segundo a crença comum, os deuses haviam criado os homens para o seu serviço; além de construir templos e oferecer sacrifícios, o homem deveria respeitar as leis, das quais as divindades eram protetoras; os deuses, pôr sua vez, nada deviam aos homens: com a criação haviam esgotado o elemento providencial; não eram obrigados a recompensar o bem; tudo o que acontecesse de ruim era sinal de que os deuses não estavam satisfeitos com os atos humanos.
Os deuses usavam os demônios para atormentar os homens e estes contavam-se pôr legiões: "os arrebentadores", "os devoradores de criança", etc. Os mesopotâmicos, em geral, viviam em um estado de temor interminável; não conheceram a doçura e o otimismo que a civilização egípcia cultivou com tanto empenho; e depois da morte, nenhuma esperança lhes sorria.
Sua idéia sobre a morte confirma o aspecto severo e terrível da concepção religiosa que aceitavam. Morto o homem, restava-lhe apenas uma espécie de espectro, um espírito muito vago, que viveria na eterna sombra. Deste modo, a idade avançada era considerada um favor dos deuses para com o mortal que vivesse mais anos que o normal.
Os Deuses Sumerianos
Os deuses sumerianos são chefiados pôr An (o Deus-céu), Enlil (o Senhor-vento) e uma deusa, Nin-ur-sag (a Senhora da Montanha), conhecida pôr outros nomes também.
Enlil passou para o culto da Babilônia; seu nome passou a chamar-se Bel, que significa "senhor". Seu reino era a terra; na Suméria, o principal local de culto dele estava localizado em Nipur, uma cidade antiga. Na época arcaica os reis de Lagash (outra cidade importante) o chamavam de "rei dos deuses"; tinha o epíteto de "sábio". Enqui, o Senhor da Terra, aparece às vezes como filho de Enlil; dominava as águas, exceto as do mar.
Nin-tu, Nin-mah ou Aruru eram os outros nomes de Nin-ur-sag. Namu era a deusa do mar; Nintura, Utu e Eresquigal completavam o quadro dos Grandes Deuses, chamados "Anunáqui". os mitos relatavam o nome de Ninsiquila, filha de Enqui.
A Árvore Cósmica
Existe um mito antiquíssimo sobre a existência de uma árvore cósmica que unia a terra ao céu. Essa árvore chamava-se "gish-gana do apsu" ("O Abismo Primordial") e crescia sobre todos os países; é o símbolo da viga que une as duas regiões visíveis: Terra-Céu. O templo era o símbolo da árvore cósmica, à porta deste erguia-se um outro símbolo, uma estaca ou viga que "tocava o céu".
O rei de Isin chamará o templo de Lagash de "O grande mastro do país de Sumer". A expressão e o próprio símbolo, contudo, desaparecem com o tempo. Mesmo assim, fica a concepção mitológica de um local sagrado na Suméria que seria o ponto de união entre o Céu e a Terra.
Mar, Terra e Céu
A deusa Namu é chamada de "A mãe que deu o nascimento ao Céu e à Terra"; aliás, muitas vezes é designada como a mãe de todos os deuses ou de Enqui, a deidade responsável pelo mundo dos homens.
A criação do cosmos se fez pôr emanações sucessivas; do mar primordial nasceram a Terra e os Céus. Os dois elementos, gêmeos, estavam, no início, unidos e se interpenetravam. Enlil os separou, talvez com um sopro, já que seu nome significa "Senhor Vento".
Mitologia Babilônica
Sobre a Mitologia da Babilônia, pouco conhecida mas impressionante, existem dois dados básicos, que devem ser compreendidos em uma primeira instância.
A primeira informação é de que a religião babilônica dependia dos sumerianos, ou seja, foram influenciados em suas crenças pôr elementos estrangeiros. O segundo dado é mais informativo: a religião babilônica era naturista, ou seja, adorava as forças vitais. O homem seria a medida de todas as coisas; "as forças vitais, portanto eram representadas sob formas de espíritos de fertilidade e de fecundidade, encarnados num casal, bem como nas famílias humanas. Um jovem deus, que tinha os atributos e poderes do pai, representava papel não bem definido, pois ora era filho da deusa, ora seu amante, ora as duas coisas ao mesmo tempo. (...) Havia a seguir, deuses especializados : o do Grão, o da Floresta, o da Vinha, o da Fonte, etc., e espíritos inferiores, demônios, para explicar o mal que atingia a Humanidade".
O Enuma Elish
O Épico Babilônico da Criação, o Enuma elish, está escrito em sete tabletes, cada um com algo em torno de 115 e 170 linhas de texto. Foi feito para ser recitado no festival do Ano Novo na Babilônia e fala sobre o sucesso do deus-herói Marduk, o deus da Babilônia... conta como se tornou a deidade suprema, rei de todos os deuses do céu e da terra.
"Quando o céu acima não possuía ainda nome
Nem a terra abaixo era pronunciada pôr nome,
Apsu, o primeiro, o criador de ambas as coisas
E o fabricante Tiamat, que os chateava a todos,
Misturaram suas águas,
Mas não formaram os pastos, ou descoberto as camas de junco;
Quando os deuses não tinham se manifestado ainda,
Nem nomes pronunciados, nem destinos criados,
Então os deuses foram criados dentro deles."
A Epopéia de Gilgamesh
Gilgamesh é o grande herói da poesia épica Babilônica e Sumeriana. É o precursor de Héracles de outras histórias folclóricas. Gilgamesh é o filho da deusa Ninsun e do sacerdote de Kullab (uma das partes de Uruc), e o quinto rei de Uruc depois do grande dilúvio. Se tornou famoso como um grande construtor ("...erigiu muralhas, um grande fosso e o templo abençoado de Eanna...") e como uma espécie de juiz da morte.
A Epopéia de Gilgamesh foi preservada em tabletes de argila que foram decifradas no século passado. Eles contêm as aventuras do grande Rei de Uruc (cidade ao sul da Babilônia) em sua busca pela imortalidade e de sua amizade com Enkidu, o homem das colinas selvagens, que comia com as gazelas e com as bestas...
A maioria dos poemas deste épico já tinha sido escrito nos primeiros séculos do segundo milênio antes de Cristo, mas é provável que existiu quase que da mesma forma muitos séculos antes. A edição mais completa, entretanto, vem da biblioteca de Assurbanipal, antiquário e último grande rei do império Assírio.
Os primeiros assentamentos se deram pôr volta de 4500 anos antes de Cristo, nas proximidades do Golfo Pérsico. Os seus habitantes foram os sumérios, um povo conhecido pôr sua criatividade. A complexa religião e mitologia da antiga Mesopotâmia foi uma invenção sumeriana. Arraigou-se e prosperou nas cidades que se desenvolveram, a partir do séc. 3 a.C., nos assentamentos primitivos. Muitas cidades ainda tinham nomes sumérios reconhecíveis em época posterior, o que apenas demonstra uma continuidade do povoamento. Do mesmo modo, apesar de ter sido inundada pôr vindas sucessivas dos semitas - sobretudo babilônios e assírios, a tradição cultural sumeriana se manteve praticamente intocada. Os semitas assimilaram a filosofia suméria e lhe incorporaram características próprias.
Até a conquista de Alexandre, o Grande, rei da Macedônia, no século 4 a.C., a tendência religiosa era a evolução das deidades nacionais. Tanto Marduk, deus babilônio, como Assur, deus assírio da guerra, foram considerados potências supremas do universo em vez de serem vistos como membros de um panteão que controla as forças naturais.
A religião mesopotâmica se origina da veneração dos fenômenos naturais. Parece que, ao princípio, os sumérios imaginaram algumas dessas forças como tendo forma animal, mas posteriormente preferiram a forma humana como modo de representar os deuses.
Gradualmente, os deuses se aproximaram aos seres humanos e entraram nos templos construídos em sua honra. Freqüentemente essas "casas" estavam nos zigurats, imensos montículos artificiais de tijolos secados ao sol. De acordo com a épica babilônica da criação - que leva o nome das primeiras palavras, Enuma elish (Quando do alto...), os homens foram criados somente para aliviar os deuses da carga de trabalho. Este poema da criação explica o dilúvio dizendo que Enlil, deus sumério do ar, já não podia suportar o barulho da cidade onde estava erguido o seu templo.
Depois de inúmeras tentativas para silenciar o povo com a praga, a seca e a infertilidade, Enlil lançou um descomunal dilúvio sobre a terra. Somente sobreviveram a família e os animais do sábio Atrahasis.
A máxima autoridade do panteão era Am (sumério) ou Anú (babilônio), cujo nome significa "céu". Provavelmente os sumérios acreditavam que a vida surgiu do matrimônio entre Am (o céu) e Ki (a terra). Entretanto, no período em que a população da Mesopotâmia se concentrou nas cidades, Enlil - deus de Nuppur – era a deidade mais importante.
A dependência da agricultura intensiva levou à crença que o crescimento das cidades era conseqüência de um presente de Enlil: a enxada. Como os sumérios também consideravam esta deidade como o dono daquele instrumento, o templo possuía e explorava a maior parte das terras irrigadas.
O dever principal do governante temporário era, portanto, salvaguardar os interesses do deus da cidade, dado que a monarquia "descendia do céu" como meio de interpretar a vontade divina perante os homens.
A relação entre os deuses e os governantes se tornam claras nas grandes cerimônias de veneração que aconteciam nas festas das estações. No Ano Novo, pôr exemplo, o monarca personificava o deus em um casamento sagrado com a suma-sacerdotisa, que representava a mãe-terra.
A assembléia dos deuses - autoridade máxima do universo mesopotâmico - se reunia em um canto da antecâmara do templo de Enlil, em Nippur. Salvo pôr motivo do seu próprio julgamento, Enlil costumava executar as decisões da assembléia mediante uma tempestade. Em Enuma Elish se descreve o debate divino mais dramático que se tem registrado. Refere-se à ameaça plantada pôr Tiamat, o dragão babilônico do caos.
Desesperados diante da enormidade das forças que Tiamat tinha colocado contra eles, os deuses escolheram Marduk como governante absoluto. A vitória de Marduk concedeu a liderança da Mesopotâmia à cidade de Babilônia.
De forma diferente ao isolado vale do Nilo dos antigos egípcios, a experiência histórica da planície entre o Tibre e o Eufrates foi turbulenta e esteve impregnadas de mudanças bruscas. As invasões estrangeiras e os conflitos internos se somaram ao caudal irregular dos grandes rios e moldaram uma perspectiva mitológica que deu importância tanto à luta cósmica como ao ordenamento divino do universo.
Mitologia Sumeriana
Os mitos da Suméria são cosmológicos e procuram investigar a origem do povo, da raça, da sociedade. É a mitologia subjetiva: representa aquele estágio em que a reflexão humana, pela primeira vez, tomou conhecimento dos fenômenos psíquicos, internos, e do mundo exterior em função do Homem como ser racional; é, sem dúvida, a mais antiga "reflexão humana" que conhecemos. Os elementos que a mitologia sumeriana utiliza são terrenos e familiares.
..
Procura explicar a diversidade entre o estável e o instável, entre o que é duradouro e o que é fugaz ou efêmero, entre o que é seco e o que é úmido; depois vem o mar, último, talvez, em ordem cronológica, mas o primeiro elemento de espanto para o povo sumeriano, o mar, figura misteriosa e temível; ele representa a eterna luta entre a água e a terra firme. .
O panteão sumeriano é o reflexo das famílias organizadas em grupo social. Era imenso mas é verdade que a maioria representava pequenos deuses locais que foram assimilados ou esquecidos; os grandes deuses, porém, eram adorados na maioria das cidades; muitos chegaram mesmo a figurar no panteão babilônico.
Segundo a crença comum, os deuses haviam criado os homens para o seu serviço; além de construir templos e oferecer sacrifícios, o homem deveria respeitar as leis, das quais as divindades eram protetoras; os deuses, pôr sua vez, nada deviam aos homens: com a criação haviam esgotado o elemento providencial; não eram obrigados a recompensar o bem; tudo o que acontecesse de ruim era sinal de que os deuses não estavam satisfeitos com os atos humanos.
Os deuses usavam os demônios para atormentar os homens e estes contavam-se pôr legiões: "os arrebentadores", "os devoradores de criança", etc. Os mesopotâmicos, em geral, viviam em um estado de temor interminável; não conheceram a doçura e o otimismo que a civilização egípcia cultivou com tanto empenho; e depois da morte, nenhuma esperança lhes sorria.
Sua idéia sobre a morte confirma o aspecto severo e terrível da concepção religiosa que aceitavam. Morto o homem, restava-lhe apenas uma espécie de espectro, um espírito muito vago, que viveria na eterna sombra. Deste modo, a idade avançada era considerada um favor dos deuses para com o mortal que vivesse mais anos que o normal.
Os Deuses Sumerianos
Os deuses sumerianos são chefiados pôr An (o Deus-céu), Enlil (o Senhor-vento) e uma deusa, Nin-ur-sag (a Senhora da Montanha), conhecida pôr outros nomes também.
Enlil passou para o culto da Babilônia; seu nome passou a chamar-se Bel, que significa "senhor". Seu reino era a terra; na Suméria, o principal local de culto dele estava localizado em Nipur, uma cidade antiga. Na época arcaica os reis de Lagash (outra cidade importante) o chamavam de "rei dos deuses"; tinha o epíteto de "sábio". Enqui, o Senhor da Terra, aparece às vezes como filho de Enlil; dominava as águas, exceto as do mar.
Nin-tu, Nin-mah ou Aruru eram os outros nomes de Nin-ur-sag. Namu era a deusa do mar; Nintura, Utu e Eresquigal completavam o quadro dos Grandes Deuses, chamados "Anunáqui". os mitos relatavam o nome de Ninsiquila, filha de Enqui.
A Árvore Cósmica
Existe um mito antiquíssimo sobre a existência de uma árvore cósmica que unia a terra ao céu. Essa árvore chamava-se "gish-gana do apsu" ("O Abismo Primordial") e crescia sobre todos os países; é o símbolo da viga que une as duas regiões visíveis: Terra-Céu. O templo era o símbolo da árvore cósmica, à porta deste erguia-se um outro símbolo, uma estaca ou viga que "tocava o céu".
O rei de Isin chamará o templo de Lagash de "O grande mastro do país de Sumer". A expressão e o próprio símbolo, contudo, desaparecem com o tempo. Mesmo assim, fica a concepção mitológica de um local sagrado na Suméria que seria o ponto de união entre o Céu e a Terra.
Mar, Terra e Céu
A deusa Namu é chamada de "A mãe que deu o nascimento ao Céu e à Terra"; aliás, muitas vezes é designada como a mãe de todos os deuses ou de Enqui, a deidade responsável pelo mundo dos homens.
A criação do cosmos se fez pôr emanações sucessivas; do mar primordial nasceram a Terra e os Céus. Os dois elementos, gêmeos, estavam, no início, unidos e se interpenetravam. Enlil os separou, talvez com um sopro, já que seu nome significa "Senhor Vento".
Mitologia Babilônica
Sobre a Mitologia da Babilônia, pouco conhecida mas impressionante, existem dois dados básicos, que devem ser compreendidos em uma primeira instância.
A primeira informação é de que a religião babilônica dependia dos sumerianos, ou seja, foram influenciados em suas crenças pôr elementos estrangeiros. O segundo dado é mais informativo: a religião babilônica era naturista, ou seja, adorava as forças vitais. O homem seria a medida de todas as coisas; "as forças vitais, portanto eram representadas sob formas de espíritos de fertilidade e de fecundidade, encarnados num casal, bem como nas famílias humanas. Um jovem deus, que tinha os atributos e poderes do pai, representava papel não bem definido, pois ora era filho da deusa, ora seu amante, ora as duas coisas ao mesmo tempo. (...) Havia a seguir, deuses especializados : o do Grão, o da Floresta, o da Vinha, o da Fonte, etc., e espíritos inferiores, demônios, para explicar o mal que atingia a Humanidade".
O Enuma Elish
O Épico Babilônico da Criação, o Enuma elish, está escrito em sete tabletes, cada um com algo em torno de 115 e 170 linhas de texto. Foi feito para ser recitado no festival do Ano Novo na Babilônia e fala sobre o sucesso do deus-herói Marduk, o deus da Babilônia... conta como se tornou a deidade suprema, rei de todos os deuses do céu e da terra.
"Quando o céu acima não possuía ainda nome
Nem a terra abaixo era pronunciada pôr nome,
Apsu, o primeiro, o criador de ambas as coisas
E o fabricante Tiamat, que os chateava a todos,
Misturaram suas águas,
Mas não formaram os pastos, ou descoberto as camas de junco;
Quando os deuses não tinham se manifestado ainda,
Nem nomes pronunciados, nem destinos criados,
Então os deuses foram criados dentro deles."
A Epopéia de Gilgamesh
Gilgamesh é o grande herói da poesia épica Babilônica e Sumeriana. É o precursor de Héracles de outras histórias folclóricas. Gilgamesh é o filho da deusa Ninsun e do sacerdote de Kullab (uma das partes de Uruc), e o quinto rei de Uruc depois do grande dilúvio. Se tornou famoso como um grande construtor ("...erigiu muralhas, um grande fosso e o templo abençoado de Eanna...") e como uma espécie de juiz da morte.
A Epopéia de Gilgamesh foi preservada em tabletes de argila que foram decifradas no século passado. Eles contêm as aventuras do grande Rei de Uruc (cidade ao sul da Babilônia) em sua busca pela imortalidade e de sua amizade com Enkidu, o homem das colinas selvagens, que comia com as gazelas e com as bestas...
A maioria dos poemas deste épico já tinha sido escrito nos primeiros séculos do segundo milênio antes de Cristo, mas é provável que existiu quase que da mesma forma muitos séculos antes. A edição mais completa, entretanto, vem da biblioteca de Assurbanipal, antiquário e último grande rei do império Assírio.
Mitos assírios e babilônicos
A dívida dos assírios para com os seus predecessores na "terra entre rios" torna-se particularmente patente na mitologia e no campo do simbólico e o emblemático.
E, assim, se os sumérios tinham introduzido o sistema numérico sexagesimal, criando o calendário de doze meses, os assírios sacralizaram os números e dividiram o espaço em doze partes: "Aqui nascem as teorias astrológicas" das chamadas "Casas do Céu", isto é, o céu aparece dividido em doze partes que correspondem aos doze signos do Zodíaco".
Portanto, estes povos mesopotâmicos tinham aos astros uma grande estima e estudavam os seus movimentos e interpretavam todo o caminho que aqueles percorriam. As diferentes criaturas sentiam, de uma forma ou de outra, a influência dos astros; embora se pusesse especial cuidado em esclarecer que nem por isso se estava destinado obrigatoriamente a um total condicionamento.
A verdade é que tanto as duas luminárias ( o Sol e a Lua ), como os outros planetas ( por aqueles tempos só se conheciam cinco ), eram objeto de sacralização, isto é, representavam deidades que era necessário adorar. Estes cinco planetas, mais as duas luminárias, recebiam o nome de "deuses intérpretes", dado que, observando todos os seus movimentos e o sentido dos seus giros, se chegava a conhecer com antecedência determinados acontecimentos, tanto no aspecto pessoal como no social. Portanto, o protagonismo dos humanos, assim como a consecução dos seus objetivos ou empresas, não dependiam só das suas próprias faculdades, mas também ( e talvez de maneira decisiva, em certas ocasiões ) da vontade desses "deuses intérpretes".
RESPLENDOR DA NOITE
A Lua,entre os mesopotâmicos, era a primeira deidade do cosmos e recebia o nome de Sin.Uma das suas principais funções consista em iluminar a noite para que os inumeráveis ladrões e assaltantes não pudessem levar a termo as suas patifarias. A lenda explica que Sin tinha uma barca ( aqui existe certo paralelismo com o ancião Caronte que, segundo o mito clássico que os gregos forjarão mais tarde, cruzava inumeráveis vezes a pestilente lagoa Estígia com a sua barca carregada de mortais para serem julgados- que lhe servia para percorrer o espaço imenso e levar, assim, a sua luz a todos os cantos do cosmos. Em ocasiões, Sin se transformava de tal modo que o seu brilho não tinha sempre a mesma intensidade nem plenitude. Daqui que houvesse Lua cheia e quarto crescente, e todas as outras fases que esta luminária atravessava. A tradição popular falava do diadema do deus Sin, quando havia Lua cheia.
De resto, esta deidade que iluminava a escuridão guardava certa semelhança com uma deusa da mitologia romana que se chamará Lucina, que será considerada pelos povos clássicos como uma deidade da luz que tinha como principal missão iluminar na escuridão; por isso será invocada nos partos e considerada a mais idônea protetora dos nascimentos entre os humanos.
Ninguém podia conhecer o sentido último destas transformações que Sin levava a cabo, antes eram uma mais amostra da sua sabedoria e entendimento pelo qual, em ocasiões, o deus Sin aparecia representado sob a figura de um ancião venerável, com semblante tranqüilo e longa barba azul-prateada, e muitos deuses acudiam à morada de Sin para pedir-lhe conselho e ajuda.
O DIA E A NOITE
Sin tinha como descendentes Shamash o deus do Sol, e Isthar personificação do planeta Vênus, a deusa do amor.
Shamash percorria a terra do Este para Oeste montado na sua resplandecente carruagem.
Conta a lenda assíria que, quando tinha chegado ao limite ocidental e já o crepúsculo cobria tudo, se abriam umas enormes portas, até a essa altura dissimuladas entre os cimo das grandes montanhas, e por elas penetrava o deus Sol, ocultando-se nas próprias entranhas da Terra. Deste modo começava a noite no mundo dos humanos. Mas Shamash seguia incansável o seu caminho pelas longas passagens subterrâneas até chegar ao extremo oriental, onde outras enormes portas, dissimuladas nas mais altas e inacessíveis cimeiras, se abriam de par em par para deixá-lo passar. E, assim, começava o dia no mundo dos humanos.
Shamash semeava jatos de claridade e luz no seu contínuo caminhar, o qual era especialmente apreciado no mundo dos mortais dado que,graças a isso,os malfeitores não se atreviam a cometer erros por temor a serem descobertos. Deste modo, Shamash era considerado um deus justiceiro que, com os seus raios de luz, sabia construir uma tupida rede para apanhar os malfeitores e assim evitar a proliferação do mal entre os mortais. Foi-lhe erguido um templo na Babilônia,que a população denominou "casa do Sumo Juiz",e acudia-se a ele com a intenção de conhecer cenas da vida futura. A população mesopotâmica considerava também o deus Sol como possuidor de poderes adivinhadores para prever o porvir dos humanos. Não obstante, para conseguir que lhes fossem revelados determinados aspectos da sua vida futura, os humanos tinham que realizar custosos rituais em ocasiões cruentos em honra do deus Shamash.
A AURORA E O OCASO
A população assíria não só contava com o citado mito do dia e a noite, mas também tinha forjado a lenda da aurora e do ocaso, ou a manhã e a tarde. Era este, com certeza, um tempo deificado, dado que era presidido pela deusa Isthar. E a população proclamava-a "deusa da manhã e da tarde"; era associada também com o planeta Vênus e guardava certa semelhança com a futura Afrodite dos posteriores relatos gregos.
Isthar era descendente de Sin, a deusa Lua, e relacionada também com o bélico e com a caça. Por seguir o seu esposo Ashur (deus supremo entre os assírio-babilônios, criador de todas as criaturas, e que aparecia representado a lombos de um touro bravo) aos campos de batalha,tinha-se enchido de medo e conhecia todos os piores sofrimentos e terrores. Era muito freqüente considerá-la como uma deusa guerreira e, em ocasiões, aparecia representada portando arco e flechas e montada numa carruagem puxada por sete animais selvagens e velozes, num gesto persecutório.
No entanto,em outras zonas da Mesopotâmia, Isthar aparecia associada com certos aspectos radicalmente diferentes dos expostos. Por exemplo, entre a população de Erech, era considerada como a deusa mãe e a deusa do amor. Todo o sensual provinha de Isthar e, segundo a crença popular, descia ao mundo dos humanos de certo em certo tempo para trazer com ela prazer e dita e, ao mesmo tempo, afastar toda a desgraça, miséria e sofrimento da superfície da Terra.
PAIXÃO AMOROSA
Tinha decorrido já um tempo prudencial desde que Isthar descera ao mundo dos humanos mortais e tudo indicava que estes não eram muito mais felizes do que antes da vinda da deusa. E é que a primitiva paixão amorosa tinha derivado em suspeita e suspicácia entre os amantes e, pelo mesmo motivo, os ciúmes tinham-se apresentado para dominar toda a situação. A mútua desconfiança substituirá o idílico entendimento entre os amantes. Desde essa altura não existirá amor sem o seu contrário, o ódio, sobre a Terra.
A própria deusa Isthar terminou por abandonar em breve o mundo dos humanos e todos os seus amantes mortais, para dirigir-se para os lugares freqüentados pelos outros deuses. Lá encontrou-se com Tamuz - jovem deus e belo como um efebo, que presidia as colheitas- e ficou imediatamente impressionada pela sua beleza. Até se diz que, quando aquele morreu, a deusa do amor desceu aos abismos insondáveis da Terra à sua procura. Deste modo, se cumpre o relato popular dos assírios, segundo o qual também os lugares de perdição -"a casa onde se entra, mas donde não se sai"- conheceram o amor, dado que houve ocasiões em que foram visitados pela deusa Isthar.
A FONTE DA VIDA
Entre os povos mesopotâmicos, o deus Tamuz era especialmente adorado e reconhecido, dado que dele dependiam as colheitas e a fertilidade da Terra.
Segundo a lenda, Tamuz se manifestava em toda a sua intensidade no começo da estação primaveral, quando a semente já tinha germinado;o qual se interpretava simbolicamente como a morte desta deidade.E, por isso mesmo, a deusa Isthar foi procurá-lo à morada dos deuses do mal. Pretendia resgatar o seu amado dos tormentos que suportava em tão tétrico lugar. Para isso, a deusa Isthar, uma vez que chegou às portas da mansão "impossível de abandonar, depois de ter entrado", dirigiu-se para o seu interior sem temor algum. Em cada estância que atravessava ia deixando algum adorno pessoal -colares, aros, pulseiras, anéis...- e desprendendo-se das suas vestiduras, até que, por fim, chegou nua perante a presença da soberana dos lugares de perdição, que ordenou aos seus servidores e lacaios que encerrassem a atrevida intrusa no mais recôndito e escuro dos quartos e que lhe enviassem doenças e desgraça sem fim.
Isthar tinha-se proposto ajudar o jovem Tamuz e ressuscitá-lo com as águas da "Fonte da Vida"; por isso tinha descido aos lugares de perdição e desprendido de todas as suas roupas e atavios.
Outras versões do mito indicam que, dado que Isthar era considerada uma deusa sideral associada, como já dissemos, com o planeta Vênus, tinha penetrado na região das trevas subterrâneas, transformada em figura humana, com o propósito de introduzir o culto aos astros.
TERRA SEM RETORNO
Já na mitologia dos povos mesopotâmicos, segundo o citado, aparece uma referência a lugares escuros e tétricos, radicalmente diferentes daqueles que serviam não só de morada,mas também de ponto de reunião das assembléias das deidades. Posteriormente, outros povos farão seus esses mitos assírio-babilônios; e, assim, nascerá entre os clássicos o relato do Tártaro, lugar abissal e de perdição, cujo único soberano será o deus Hades /Plutão,rei do mal e da dor, e senhor da escuridão e das sombras.
A lenda mesopotâmica,em compensação, chama este lugar de castigo "Terra sem retorno" ou, também, "mansão onde se pode entrar, mas donde não se pode sair". É uma zona escura que se estende pelos confins subterrâneos da Terra e umas enormes portas resguardam-na do mundo exterior. Quanto ao seu interior, estava composto por sete estâncias o sete estava considerado como um número mágico e sagrado entre os povos assírios e babilônios , e cada uma delas albergava um sem-número de condenados que sofriam, ininterruptamente,os efeitos das "sessenta doenças" e outras tantas desgraças.
Ereshkigal era a dona e senhora da "Terra sem retorno", embora em breve teve que compartilhar o seu reinado com o deus Nergal, que queria expulsá-la dos seus domínios subterrâneos, de bom grado ou à força. Mas a astuta deusa, informada da força e da belicosidade de tão funesto deus, propôs a Nergal um arranjo pacífico que consista em unir-se em casamento -o que foi aceitado sem reservas pelo marcial deus- e, assim, governar ambos a "Terra sem retorno".
SÁBIO E PODEROSO
Depois de que os servidores de Ereshkigal,seguindo à letra as instruções da soberana das trevas, terem encerrado a deusa do amor no mais escuro dos habitáculos daquele lugar de perdição e de dor, o mundo dos seres humanos caiu sumido na mais abjeta das misérias. E até os próprios deuses foram presa de certa solidão até a essa altura não sentida por aqueles lares divinais. Terra e Céu cobriram-se de uma espessa névoa e gigantescas sombras se espalharam pelo cosmos infinito. A desolação era total e um sepulcral silêncio invadia tudo; só de vez em quando se ouvia chorar com desespero e umas vozes desgarradas -já exaustas- suplicavam o regresso da deusa Isthar da "Terra sem retorno".
Foi então quando o mais sábio e poderoso dos deuses, que os mesopotâmicos chamavam Ea e que se caracterizava por favorecer e ajudar os seres humanos, decidiu enviar um mensageiro seu bem instruído, pela própria deidade, nos mistérios esotéricos, e apetrechado com todas as fórmulas e poderes mágicos até a essa altura conhecido à "Terra sem retorno". A lenda assírio-babilônica explica que, assim que o emissário de Ea chegou à presença de Ereshkigal,e como esta notasse o afeminamento daquele, assim como o poder de convencimento das suas palavras, decidiu talvez para perder de vista tão amaneirado embaixador do sábio, benévolo e poderoso deus Ea pôs em liberdade a deusa do amor. Esta foi acompanhada até a saída daquele lugar de trevas por um dos criados de Ereshkigal e, durante o caminho de regresso, ia recuperando as peças e adereços que anteriormente tinha abandonado em cada estância que atravessava.
"O AMOR PODE TUDO"
Desde essa altura aumentou o culto à deusa Isthar entre as populações mesopotâmicas e se ergueram templos na sua honra, e voltou o amor ao mundo dos homens e os deuses acabaram com as trevas e as sombras gigantescas e, de novo, a claridade, a luz e o resplendor invadiram o espaço imenso.
A partir de agora,a povoação assírio-babilônico honrava à deusa do amor,não só pelas conseqüências beneficiosas derivadas do seu regresso, mas também porque era considerada um símbolo emblemático pleno de significação: ela tinha conseguido regressar da "Terra sem retorno"; e o seu poder era agora sublime e único. Só levava como bagagem a sua paixão amorosa quando percorria os sinistros aposentos da morada dos deuses do mal, e ninguém pôde fazer-lhe mal. Isso indica, portanto, que o amor pode tudo.
Outras versões do mito da deusa Isthar explicam que houve tempos escuros na história dos seres humanos; épocas de guerra e de luta entre irmãos e vizinhos. Um tempo em que só se via miséria e necessidade por todo o mundo. E, quando já os seres humanos desesperavam por encontrar uma saída a tanta desolação, tudo parou como por encanto. Mas a explicação deste novo e satisfatório desfecho segundo contam os mitólogos devia ter ao seu redor a deusa do amor; e, de resto, todos os eventos tinham sucedido durante o tempo em que Isthar se encontrava cativa na escura e lúgubre "Terra sem retorno".
"ESPÍRITOS E GÊNIOS"
No entanto, ninguém teve a sorte que correspondeu à deusa do amor. E, assim, esta terra de desolação, a "Terra sem retorno", regida pela deusa Ereshkigal e pelo seu esposo Nergal amos e senhores do mundo das trevas, alberga tantas almas de condenados que não tinha suficientes habitáculos para contê-las, pelo qual se alinhavam e amontoavam em perpétua desordem. Estas almas dos mortos eram denominadas "Edimmú", não tinham sido objeto de culto, ou rito funerário, nem enterradas e, segundo estava escrito nas tábuas de argila, recebiam como único alimento pó e barro. Não obstante, entre os "Edimmú" havia alguns privilegiados que eram recompensados com algum gole de água fresca e clara. Ao parecer, estes tinham tido no mundo terreal a proteção de GÊNIOS benévolos e, pelo mesmo motivo, mereciam um trato especial.
Os GÊNIOS, especialmente os GÊNIOS benignos-, segundo a mitologia assírio-babilônica, tinham a função de relacionar os humanos com os deuses; realmente, eram intermediários dos seres mortais perante os seres divinais; desenvolviam, principalmente, uma função protetora e os humanos se encomendavam e confiavam neles.
Os GÊNIOS do mal, em compensação, enviavam ao mundo dos mortais todas as classes de doenças e horrores. Eles introduziam as desigualdades entre as sociedades humanas e induziam os homens a realizar ações contra os seus semelhantes. Eram responsáveis pelas brigas entre os familiares, amigos e amantes. Levavam a amargura a todos os lugares da terra porque, segundo a crença popular, tinham-se originado da bílis arrojada pelo deus Ea das profundas águas dos rios, mananciais e fontes que, em ocasiões, constituíam a sua morada, o próprio nome de Ea significava "casa de água", para a sua superfície. Estes GÊNIOS malignos viviam nas profundidades das mais escuras cavernas e, quando apareciam aos humanos, adotavam formas de monstros terríveis e horrorosos. Podiam ser vencidos utilizando conjuros e, também, por meio de ritos mágicos e esotéricos conhecidos por poucos.
TÁBUAS DO DESTINO
O destino dos seres humanos, segundo a mitologia dos povos assírios,era discutido e acordado na assembléia anual de deuses. O deus Nabú que,segundo a tradição mítica dos povos da Mesopotâmia, tinha idealizado e introduzido a escritura, devia transcrever os acordos lá alcançados e, seguidamente, guardar as tabelas ou tábuas de argila. Desde agora chamar-se-iam "Tabelas do Destino" e nelas se encontrariam gravados, com signos cuneiformes, todas as circunstâncias e acontecimentos que o futuro reservava a cada criatura humana ao longo do ano que começava. Era muito importante que Nabú guardasse as "Tabelas do Destino" e que guardasse em segredo as decisões da assembléia de deuses para que, assim, os seres humanos realizassem sem sobressaltos o seu próprio destino anual. Ninguém, exceto os deuses, conhecia o conteúdo das "Tabelas do Destino", mas, no entanto, os humanos podiam ter certos indícios, ou determinada informação, sobre o seu porvir, mediante os sonhos, que também eram enviados pelos deuses, ou mediante emissários.
O ROUBO MAIS AUDAZ
Portanto, o verdadeiro e o falso, o beneficioso e o prejudicial e, em definitivo, o bom e o mau, provinha dos deuses. A vida, os males dos seres humanos, já estava pré-determinado de antemão, gravado com punção de cana manuseado por um escrivão hábil: o deus Nabú.
As "Tabelas do Destino" significavam poder sobre o mundo dos humanos e, pelo mesmo motivo, a sua custódia tinha que ser encomendada ao guarda. Mas, segundo a lenda popular mesopotâmica, um teimoso ladrão conseguiu eludir a vigilância do deus Nabú e apoderou-se das "Tabelas do Destino". Este foi o mais importante de todos os roubos cometidos até a essa altura por uma criatura. Foi efetuado pela ave-tempestade Zu, de quem se dizia que voava tão veloz e era tal a sua ferocidade que nem sequer os deuses se atreveram a perseguí-la. Não obstante, conta a lenda que o deus Marduk, personificação da ordem e da justiça, valoroso e forte como ninguém-, saiu em perseguição do pássaro Zu e conseguiu alcançá-lo; partiu-lhe a cabeça e resgatou as "Tabelas do Destino". Evitou-se assim uma possível manipulação que teria conduzido a um terrível caos no mundo dos humanos, e ainda dos próprios deuses que, ao não conhecer o novo destino daqueles, já não poderiam impor-lhes a sua vontade.
CRIAÇÃO DO MUNDO
Não há duvida de que a mitologia dos povos mesopotâmicos deve bastante às civilizações anteriores mas,em quase todos os casos, sobressai pela sua originalidade tanto como pela sua criatividade. Foram os assírios que introduziram lendas carregadas de simbolismo mítico,entre as quais cabe destacar, por exemplo, a narração sobre a"Criação do Mundo", o relato acerca do "Dilúvio Universal" e a célebre "Epopéia de Gilgamesh".
Antes, muito antes, de Assur capital que deve o seu nome ao grande e poderoso deus assírio, Assur; este aparecia representado,com certa freqüência,sob a figura de um humano que levava duas enormes asas de águia e Babilônia existirem, ou seja, no princípio dos tempos, aconteceu, segundo a lenda mesopotâmica, o relato da Criação.
Por então não havia nem acima nem abaixo, isto é, nem Céu nem Terra, pois ainda não lhes tinha sido dado um nome. As deidades que moravam entre as águas bravas de oceanos e mares lutaram entre si para demonstrar a sua hegemonia. Das profundidades abissais do mar surge Tiamat que, em união de outros deuses, pretende erigir-se em deidade suprema. Servindo-se das suas más artes, provoca tempestades e faz correr ventos e furacões por todos os lados; consegue criar inumeráveis monstros, tais como cães raivosos e escorpiões gigantescos para formar, por assim dizer, uma espécie de exército invencível.
E, entretanto, as outras deidades elegeram o poderoso Marduk, que se iniciará aqui como destacado protagonista da história mítica e será reconhecido, por parte dos mesopotâmicos, como deus encarregado de pôr ordem e fazer justiça, para que enfrente Tiamat.
A FLECHA DA MORTE
Marduk tinha-se destacado sempre pela sua coragem e arrojo e, pelo mesmo motivo, assim que conseguiu que os outros deuses delegassem nele para que acabasse com uma deidade tão volúvel como Tiamat, não duvidou um instante. Escolheu imediatamente as suas armas prediletas, aquelas que melhor sabia manejar: o seu arco bem tensado e o seu saco repleto de afiadas flechas. Teceu também uma túpida e forte rede, com a intenção de apanhar nela Tiamat e partiu à sua procura. Encontraram-se ambos os adversários e travaram feroz batalha; uma certeira flecha sai do arco bem tensado de Marduk e consegue acabar com a vida de Tiamat. O primeiro parte em duas metades o crânio do segundo. Com uma das partes formará a cúpula celeste; enche-la-á de estrelas e astros e levantará uma mansão para as deidades que o ajudaram na sua luta contra os deuses rebeldes. Com a outra parte, construiu os cimentos do mundo terrenal e, assim, o mundo ficará enraizado e ordenado.
Ainda a superfície da Terra se encontrava alagada pela água dos oceanos. Então, Marduk decidiu fabricar uma gigantesca gelosia que depositou na superfície das águas; cobriu todos os seus buracos e celas com pó e barro e surgiu a Terra. Foi originada pela força criadora de Marduk.
O MUNDO DOS HUMANOS
Seguidamente, o deus Marduk amassou com o seu próprio sangue as criaturas humanas, fez brotar mananciais e fontes entre prados e montanhas,e a Terra se cobriu de rios,arroios e lagos; por fim, pôs nela os animais selvagens e domésticos e as diversas espécies de aves, e a criação ficou concluída.
Outras versões explicam que os seres humanos foram modelados primeiro com argila, o qual constituirá a semente da Humanidade e, graças a isso, Marduk pôde criar o homem. Esta semente tinha sido obtida pela deusa Aruru, que gozava de grande prestígio entre a população de Sumer e Akad. Conta a lenda que Aruru tinha modelado com argila figuras femininas, semelhantes a ela própria. Segundo se desprende deste mito mesopotâmico, a mulher foi criada antes do que o homem e constituiu-se em semente da Humanidade. Não obstante, o que se propunham os assírio-babilônios, em todos os casos, era realçar a origem divina da raça humana e, pelo mesmo motivo, a partir disso, confeccionaram os seus mitos sobre a criação do homem e da mulher.
Depois de vencer Tiamat,o resto dos deuses repartiu o mundo entre eles. E, assim, Marduk escolheu ser soberano da Terra; o deus Anú erigiu-se em dono e senhor do espaço imenso e do Céu; e a última deidade que completava a trindade de deuses, isto é, Ea, correspondeu reinar sobre as águas.
LENDA DO DILÚVIO
Mas os humanos, ainda tendo uma origem divina, não se comportavam em conseqüência com isso e incomodavam os deuses. Estes decidiram inundar a Terra para que, assim, perecesse a raça humana. Mas, segundo conta a lenda popular, um dos deuses ( Ea ), deidade que governava sobre as águas apiedou-se dos humanos e escolheu entre eles o mais inteligente e preparado para levar a cabo o seu plano de salvação de todas as criaturas. Ordenou-lhe que construísse uma embarcação grande e que se introduzisse nela com a sua família e os seus utensílios. Também devia ter um lugar para os animais domésticos e selvagens e para um exemplar das diferentes espécies de aves.
Quando estava tudo concluído, e já as portas daquela enorme arca segundo se indica no poema, o seu comprimento tinha que ser igual à sua largura se tinham fechado, começou a chover torrencialmente e desatou-se um vento forte. O temporal durou "seis dias e seis noites" e a água alagou a Terra inteira: "toda a espécie humana ficou convertida em lodo".
Mas, ao amanhecer do sétimo dia, a calma voltou, como por encanto, a reinar. A barca encalhou no cimo do monte Nissir, que não tinha sido coberto pelas águas: dela saíram uma pomba e uma andorinha mas, ao cabo de algum tempo, voltaram porque não tinham encontrado lugar onde repousar. Passou um tempo prudencial e, desta vez, saiu da barca um corvo que já não regressou, dado que tinha encontrado um local onde pousar-se e carne com que alimentar-se. Então abandonaram aquela imensa arca todas as outras criaturas e, de novo, houve vida na Terra fértil.
EPOPÉIA DE GILGAMESH
Há já mais de 4000 anos que foram gravadas as andadas e aventuras do legendário herói babilônico Gilgamesh. Doze tabelas de argila, achadas na famosa biblioteca, composta por mais de vinte e duas mil tabelas de argila, que Assurbanipal tinha criado na cidade de Nínive, constituíam o suporte do célebre poema de Gilgamesh.
Trata-se, portanto, de uma obra única no mundo, de incalculável valor, tanto literário como mítico. O poema narra a história da amizade entre personagens que tinham sido criados para odiar-se. E também descreve o temor que invade os mortais perante a força de Gilgamesh, que tinha sido criado pela deusa Aruru. Além disso, se relatam os sonhos dos seus principais protagonistas e se realça a importância do mundo onírico e a sua interpretação.
Gilgamesh mostrou em muitas ocasiões o seu arrojo e valentia lutando, e vencendo, monstros gigantescos como Khumbava, embora sempre recebesse a ajuda incondicional do seu companheiro e amigo Enkidu. No entanto, houve um tempo em que, segundo narra o poema, tinham sido inimigos:
"Contra Gilgamesh se lançou Enkidu, gadelhudo". Se levantou contra ele. E mediram as suas forças na grande praça.
"Através de tanta façanha e aventura, descritas no poema, o herói Gilgamesh pretendia encontrar a imortalidade".
A dívida dos assírios para com os seus predecessores na "terra entre rios" torna-se particularmente patente na mitologia e no campo do simbólico e o emblemático.
E, assim, se os sumérios tinham introduzido o sistema numérico sexagesimal, criando o calendário de doze meses, os assírios sacralizaram os números e dividiram o espaço em doze partes: "Aqui nascem as teorias astrológicas" das chamadas "Casas do Céu", isto é, o céu aparece dividido em doze partes que correspondem aos doze signos do Zodíaco".
Portanto, estes povos mesopotâmicos tinham aos astros uma grande estima e estudavam os seus movimentos e interpretavam todo o caminho que aqueles percorriam. As diferentes criaturas sentiam, de uma forma ou de outra, a influência dos astros; embora se pusesse especial cuidado em esclarecer que nem por isso se estava destinado obrigatoriamente a um total condicionamento.
A verdade é que tanto as duas luminárias ( o Sol e a Lua ), como os outros planetas ( por aqueles tempos só se conheciam cinco ), eram objeto de sacralização, isto é, representavam deidades que era necessário adorar. Estes cinco planetas, mais as duas luminárias, recebiam o nome de "deuses intérpretes", dado que, observando todos os seus movimentos e o sentido dos seus giros, se chegava a conhecer com antecedência determinados acontecimentos, tanto no aspecto pessoal como no social. Portanto, o protagonismo dos humanos, assim como a consecução dos seus objetivos ou empresas, não dependiam só das suas próprias faculdades, mas também ( e talvez de maneira decisiva, em certas ocasiões ) da vontade desses "deuses intérpretes".
RESPLENDOR DA NOITE
A Lua,entre os mesopotâmicos, era a primeira deidade do cosmos e recebia o nome de Sin.Uma das suas principais funções consista em iluminar a noite para que os inumeráveis ladrões e assaltantes não pudessem levar a termo as suas patifarias. A lenda explica que Sin tinha uma barca ( aqui existe certo paralelismo com o ancião Caronte que, segundo o mito clássico que os gregos forjarão mais tarde, cruzava inumeráveis vezes a pestilente lagoa Estígia com a sua barca carregada de mortais para serem julgados- que lhe servia para percorrer o espaço imenso e levar, assim, a sua luz a todos os cantos do cosmos. Em ocasiões, Sin se transformava de tal modo que o seu brilho não tinha sempre a mesma intensidade nem plenitude. Daqui que houvesse Lua cheia e quarto crescente, e todas as outras fases que esta luminária atravessava. A tradição popular falava do diadema do deus Sin, quando havia Lua cheia.
De resto, esta deidade que iluminava a escuridão guardava certa semelhança com uma deusa da mitologia romana que se chamará Lucina, que será considerada pelos povos clássicos como uma deidade da luz que tinha como principal missão iluminar na escuridão; por isso será invocada nos partos e considerada a mais idônea protetora dos nascimentos entre os humanos.
Ninguém podia conhecer o sentido último destas transformações que Sin levava a cabo, antes eram uma mais amostra da sua sabedoria e entendimento pelo qual, em ocasiões, o deus Sin aparecia representado sob a figura de um ancião venerável, com semblante tranqüilo e longa barba azul-prateada, e muitos deuses acudiam à morada de Sin para pedir-lhe conselho e ajuda.
O DIA E A NOITE
Sin tinha como descendentes Shamash o deus do Sol, e Isthar personificação do planeta Vênus, a deusa do amor.
Shamash percorria a terra do Este para Oeste montado na sua resplandecente carruagem.
Conta a lenda assíria que, quando tinha chegado ao limite ocidental e já o crepúsculo cobria tudo, se abriam umas enormes portas, até a essa altura dissimuladas entre os cimo das grandes montanhas, e por elas penetrava o deus Sol, ocultando-se nas próprias entranhas da Terra. Deste modo começava a noite no mundo dos humanos. Mas Shamash seguia incansável o seu caminho pelas longas passagens subterrâneas até chegar ao extremo oriental, onde outras enormes portas, dissimuladas nas mais altas e inacessíveis cimeiras, se abriam de par em par para deixá-lo passar. E, assim, começava o dia no mundo dos humanos.
Shamash semeava jatos de claridade e luz no seu contínuo caminhar, o qual era especialmente apreciado no mundo dos mortais dado que,graças a isso,os malfeitores não se atreviam a cometer erros por temor a serem descobertos. Deste modo, Shamash era considerado um deus justiceiro que, com os seus raios de luz, sabia construir uma tupida rede para apanhar os malfeitores e assim evitar a proliferação do mal entre os mortais. Foi-lhe erguido um templo na Babilônia,que a população denominou "casa do Sumo Juiz",e acudia-se a ele com a intenção de conhecer cenas da vida futura. A população mesopotâmica considerava também o deus Sol como possuidor de poderes adivinhadores para prever o porvir dos humanos. Não obstante, para conseguir que lhes fossem revelados determinados aspectos da sua vida futura, os humanos tinham que realizar custosos rituais em ocasiões cruentos em honra do deus Shamash.
A AURORA E O OCASO
A população assíria não só contava com o citado mito do dia e a noite, mas também tinha forjado a lenda da aurora e do ocaso, ou a manhã e a tarde. Era este, com certeza, um tempo deificado, dado que era presidido pela deusa Isthar. E a população proclamava-a "deusa da manhã e da tarde"; era associada também com o planeta Vênus e guardava certa semelhança com a futura Afrodite dos posteriores relatos gregos.
Isthar era descendente de Sin, a deusa Lua, e relacionada também com o bélico e com a caça. Por seguir o seu esposo Ashur (deus supremo entre os assírio-babilônios, criador de todas as criaturas, e que aparecia representado a lombos de um touro bravo) aos campos de batalha,tinha-se enchido de medo e conhecia todos os piores sofrimentos e terrores. Era muito freqüente considerá-la como uma deusa guerreira e, em ocasiões, aparecia representada portando arco e flechas e montada numa carruagem puxada por sete animais selvagens e velozes, num gesto persecutório.
No entanto,em outras zonas da Mesopotâmia, Isthar aparecia associada com certos aspectos radicalmente diferentes dos expostos. Por exemplo, entre a população de Erech, era considerada como a deusa mãe e a deusa do amor. Todo o sensual provinha de Isthar e, segundo a crença popular, descia ao mundo dos humanos de certo em certo tempo para trazer com ela prazer e dita e, ao mesmo tempo, afastar toda a desgraça, miséria e sofrimento da superfície da Terra.
PAIXÃO AMOROSA
Tinha decorrido já um tempo prudencial desde que Isthar descera ao mundo dos humanos mortais e tudo indicava que estes não eram muito mais felizes do que antes da vinda da deusa. E é que a primitiva paixão amorosa tinha derivado em suspeita e suspicácia entre os amantes e, pelo mesmo motivo, os ciúmes tinham-se apresentado para dominar toda a situação. A mútua desconfiança substituirá o idílico entendimento entre os amantes. Desde essa altura não existirá amor sem o seu contrário, o ódio, sobre a Terra.
A própria deusa Isthar terminou por abandonar em breve o mundo dos humanos e todos os seus amantes mortais, para dirigir-se para os lugares freqüentados pelos outros deuses. Lá encontrou-se com Tamuz - jovem deus e belo como um efebo, que presidia as colheitas- e ficou imediatamente impressionada pela sua beleza. Até se diz que, quando aquele morreu, a deusa do amor desceu aos abismos insondáveis da Terra à sua procura. Deste modo, se cumpre o relato popular dos assírios, segundo o qual também os lugares de perdição -"a casa onde se entra, mas donde não se sai"- conheceram o amor, dado que houve ocasiões em que foram visitados pela deusa Isthar.
A FONTE DA VIDA
Entre os povos mesopotâmicos, o deus Tamuz era especialmente adorado e reconhecido, dado que dele dependiam as colheitas e a fertilidade da Terra.
Segundo a lenda, Tamuz se manifestava em toda a sua intensidade no começo da estação primaveral, quando a semente já tinha germinado;o qual se interpretava simbolicamente como a morte desta deidade.E, por isso mesmo, a deusa Isthar foi procurá-lo à morada dos deuses do mal. Pretendia resgatar o seu amado dos tormentos que suportava em tão tétrico lugar. Para isso, a deusa Isthar, uma vez que chegou às portas da mansão "impossível de abandonar, depois de ter entrado", dirigiu-se para o seu interior sem temor algum. Em cada estância que atravessava ia deixando algum adorno pessoal -colares, aros, pulseiras, anéis...- e desprendendo-se das suas vestiduras, até que, por fim, chegou nua perante a presença da soberana dos lugares de perdição, que ordenou aos seus servidores e lacaios que encerrassem a atrevida intrusa no mais recôndito e escuro dos quartos e que lhe enviassem doenças e desgraça sem fim.
Isthar tinha-se proposto ajudar o jovem Tamuz e ressuscitá-lo com as águas da "Fonte da Vida"; por isso tinha descido aos lugares de perdição e desprendido de todas as suas roupas e atavios.
Outras versões do mito indicam que, dado que Isthar era considerada uma deusa sideral associada, como já dissemos, com o planeta Vênus, tinha penetrado na região das trevas subterrâneas, transformada em figura humana, com o propósito de introduzir o culto aos astros.
TERRA SEM RETORNO
Já na mitologia dos povos mesopotâmicos, segundo o citado, aparece uma referência a lugares escuros e tétricos, radicalmente diferentes daqueles que serviam não só de morada,mas também de ponto de reunião das assembléias das deidades. Posteriormente, outros povos farão seus esses mitos assírio-babilônios; e, assim, nascerá entre os clássicos o relato do Tártaro, lugar abissal e de perdição, cujo único soberano será o deus Hades /Plutão,rei do mal e da dor, e senhor da escuridão e das sombras.
A lenda mesopotâmica,em compensação, chama este lugar de castigo "Terra sem retorno" ou, também, "mansão onde se pode entrar, mas donde não se pode sair". É uma zona escura que se estende pelos confins subterrâneos da Terra e umas enormes portas resguardam-na do mundo exterior. Quanto ao seu interior, estava composto por sete estâncias o sete estava considerado como um número mágico e sagrado entre os povos assírios e babilônios , e cada uma delas albergava um sem-número de condenados que sofriam, ininterruptamente,os efeitos das "sessenta doenças" e outras tantas desgraças.
Ereshkigal era a dona e senhora da "Terra sem retorno", embora em breve teve que compartilhar o seu reinado com o deus Nergal, que queria expulsá-la dos seus domínios subterrâneos, de bom grado ou à força. Mas a astuta deusa, informada da força e da belicosidade de tão funesto deus, propôs a Nergal um arranjo pacífico que consista em unir-se em casamento -o que foi aceitado sem reservas pelo marcial deus- e, assim, governar ambos a "Terra sem retorno".
SÁBIO E PODEROSO
Depois de que os servidores de Ereshkigal,seguindo à letra as instruções da soberana das trevas, terem encerrado a deusa do amor no mais escuro dos habitáculos daquele lugar de perdição e de dor, o mundo dos seres humanos caiu sumido na mais abjeta das misérias. E até os próprios deuses foram presa de certa solidão até a essa altura não sentida por aqueles lares divinais. Terra e Céu cobriram-se de uma espessa névoa e gigantescas sombras se espalharam pelo cosmos infinito. A desolação era total e um sepulcral silêncio invadia tudo; só de vez em quando se ouvia chorar com desespero e umas vozes desgarradas -já exaustas- suplicavam o regresso da deusa Isthar da "Terra sem retorno".
Foi então quando o mais sábio e poderoso dos deuses, que os mesopotâmicos chamavam Ea e que se caracterizava por favorecer e ajudar os seres humanos, decidiu enviar um mensageiro seu bem instruído, pela própria deidade, nos mistérios esotéricos, e apetrechado com todas as fórmulas e poderes mágicos até a essa altura conhecido à "Terra sem retorno". A lenda assírio-babilônica explica que, assim que o emissário de Ea chegou à presença de Ereshkigal,e como esta notasse o afeminamento daquele, assim como o poder de convencimento das suas palavras, decidiu talvez para perder de vista tão amaneirado embaixador do sábio, benévolo e poderoso deus Ea pôs em liberdade a deusa do amor. Esta foi acompanhada até a saída daquele lugar de trevas por um dos criados de Ereshkigal e, durante o caminho de regresso, ia recuperando as peças e adereços que anteriormente tinha abandonado em cada estância que atravessava.
"O AMOR PODE TUDO"
Desde essa altura aumentou o culto à deusa Isthar entre as populações mesopotâmicas e se ergueram templos na sua honra, e voltou o amor ao mundo dos homens e os deuses acabaram com as trevas e as sombras gigantescas e, de novo, a claridade, a luz e o resplendor invadiram o espaço imenso.
A partir de agora,a povoação assírio-babilônico honrava à deusa do amor,não só pelas conseqüências beneficiosas derivadas do seu regresso, mas também porque era considerada um símbolo emblemático pleno de significação: ela tinha conseguido regressar da "Terra sem retorno"; e o seu poder era agora sublime e único. Só levava como bagagem a sua paixão amorosa quando percorria os sinistros aposentos da morada dos deuses do mal, e ninguém pôde fazer-lhe mal. Isso indica, portanto, que o amor pode tudo.
Outras versões do mito da deusa Isthar explicam que houve tempos escuros na história dos seres humanos; épocas de guerra e de luta entre irmãos e vizinhos. Um tempo em que só se via miséria e necessidade por todo o mundo. E, quando já os seres humanos desesperavam por encontrar uma saída a tanta desolação, tudo parou como por encanto. Mas a explicação deste novo e satisfatório desfecho segundo contam os mitólogos devia ter ao seu redor a deusa do amor; e, de resto, todos os eventos tinham sucedido durante o tempo em que Isthar se encontrava cativa na escura e lúgubre "Terra sem retorno".
"ESPÍRITOS E GÊNIOS"
No entanto, ninguém teve a sorte que correspondeu à deusa do amor. E, assim, esta terra de desolação, a "Terra sem retorno", regida pela deusa Ereshkigal e pelo seu esposo Nergal amos e senhores do mundo das trevas, alberga tantas almas de condenados que não tinha suficientes habitáculos para contê-las, pelo qual se alinhavam e amontoavam em perpétua desordem. Estas almas dos mortos eram denominadas "Edimmú", não tinham sido objeto de culto, ou rito funerário, nem enterradas e, segundo estava escrito nas tábuas de argila, recebiam como único alimento pó e barro. Não obstante, entre os "Edimmú" havia alguns privilegiados que eram recompensados com algum gole de água fresca e clara. Ao parecer, estes tinham tido no mundo terreal a proteção de GÊNIOS benévolos e, pelo mesmo motivo, mereciam um trato especial.
Os GÊNIOS, especialmente os GÊNIOS benignos-, segundo a mitologia assírio-babilônica, tinham a função de relacionar os humanos com os deuses; realmente, eram intermediários dos seres mortais perante os seres divinais; desenvolviam, principalmente, uma função protetora e os humanos se encomendavam e confiavam neles.
Os GÊNIOS do mal, em compensação, enviavam ao mundo dos mortais todas as classes de doenças e horrores. Eles introduziam as desigualdades entre as sociedades humanas e induziam os homens a realizar ações contra os seus semelhantes. Eram responsáveis pelas brigas entre os familiares, amigos e amantes. Levavam a amargura a todos os lugares da terra porque, segundo a crença popular, tinham-se originado da bílis arrojada pelo deus Ea das profundas águas dos rios, mananciais e fontes que, em ocasiões, constituíam a sua morada, o próprio nome de Ea significava "casa de água", para a sua superfície. Estes GÊNIOS malignos viviam nas profundidades das mais escuras cavernas e, quando apareciam aos humanos, adotavam formas de monstros terríveis e horrorosos. Podiam ser vencidos utilizando conjuros e, também, por meio de ritos mágicos e esotéricos conhecidos por poucos.
TÁBUAS DO DESTINO
O destino dos seres humanos, segundo a mitologia dos povos assírios,era discutido e acordado na assembléia anual de deuses. O deus Nabú que,segundo a tradição mítica dos povos da Mesopotâmia, tinha idealizado e introduzido a escritura, devia transcrever os acordos lá alcançados e, seguidamente, guardar as tabelas ou tábuas de argila. Desde agora chamar-se-iam "Tabelas do Destino" e nelas se encontrariam gravados, com signos cuneiformes, todas as circunstâncias e acontecimentos que o futuro reservava a cada criatura humana ao longo do ano que começava. Era muito importante que Nabú guardasse as "Tabelas do Destino" e que guardasse em segredo as decisões da assembléia de deuses para que, assim, os seres humanos realizassem sem sobressaltos o seu próprio destino anual. Ninguém, exceto os deuses, conhecia o conteúdo das "Tabelas do Destino", mas, no entanto, os humanos podiam ter certos indícios, ou determinada informação, sobre o seu porvir, mediante os sonhos, que também eram enviados pelos deuses, ou mediante emissários.
O ROUBO MAIS AUDAZ
Portanto, o verdadeiro e o falso, o beneficioso e o prejudicial e, em definitivo, o bom e o mau, provinha dos deuses. A vida, os males dos seres humanos, já estava pré-determinado de antemão, gravado com punção de cana manuseado por um escrivão hábil: o deus Nabú.
As "Tabelas do Destino" significavam poder sobre o mundo dos humanos e, pelo mesmo motivo, a sua custódia tinha que ser encomendada ao guarda. Mas, segundo a lenda popular mesopotâmica, um teimoso ladrão conseguiu eludir a vigilância do deus Nabú e apoderou-se das "Tabelas do Destino". Este foi o mais importante de todos os roubos cometidos até a essa altura por uma criatura. Foi efetuado pela ave-tempestade Zu, de quem se dizia que voava tão veloz e era tal a sua ferocidade que nem sequer os deuses se atreveram a perseguí-la. Não obstante, conta a lenda que o deus Marduk, personificação da ordem e da justiça, valoroso e forte como ninguém-, saiu em perseguição do pássaro Zu e conseguiu alcançá-lo; partiu-lhe a cabeça e resgatou as "Tabelas do Destino". Evitou-se assim uma possível manipulação que teria conduzido a um terrível caos no mundo dos humanos, e ainda dos próprios deuses que, ao não conhecer o novo destino daqueles, já não poderiam impor-lhes a sua vontade.
CRIAÇÃO DO MUNDO
Não há duvida de que a mitologia dos povos mesopotâmicos deve bastante às civilizações anteriores mas,em quase todos os casos, sobressai pela sua originalidade tanto como pela sua criatividade. Foram os assírios que introduziram lendas carregadas de simbolismo mítico,entre as quais cabe destacar, por exemplo, a narração sobre a"Criação do Mundo", o relato acerca do "Dilúvio Universal" e a célebre "Epopéia de Gilgamesh".
Antes, muito antes, de Assur capital que deve o seu nome ao grande e poderoso deus assírio, Assur; este aparecia representado,com certa freqüência,sob a figura de um humano que levava duas enormes asas de águia e Babilônia existirem, ou seja, no princípio dos tempos, aconteceu, segundo a lenda mesopotâmica, o relato da Criação.
Por então não havia nem acima nem abaixo, isto é, nem Céu nem Terra, pois ainda não lhes tinha sido dado um nome. As deidades que moravam entre as águas bravas de oceanos e mares lutaram entre si para demonstrar a sua hegemonia. Das profundidades abissais do mar surge Tiamat que, em união de outros deuses, pretende erigir-se em deidade suprema. Servindo-se das suas más artes, provoca tempestades e faz correr ventos e furacões por todos os lados; consegue criar inumeráveis monstros, tais como cães raivosos e escorpiões gigantescos para formar, por assim dizer, uma espécie de exército invencível.
E, entretanto, as outras deidades elegeram o poderoso Marduk, que se iniciará aqui como destacado protagonista da história mítica e será reconhecido, por parte dos mesopotâmicos, como deus encarregado de pôr ordem e fazer justiça, para que enfrente Tiamat.
A FLECHA DA MORTE
Marduk tinha-se destacado sempre pela sua coragem e arrojo e, pelo mesmo motivo, assim que conseguiu que os outros deuses delegassem nele para que acabasse com uma deidade tão volúvel como Tiamat, não duvidou um instante. Escolheu imediatamente as suas armas prediletas, aquelas que melhor sabia manejar: o seu arco bem tensado e o seu saco repleto de afiadas flechas. Teceu também uma túpida e forte rede, com a intenção de apanhar nela Tiamat e partiu à sua procura. Encontraram-se ambos os adversários e travaram feroz batalha; uma certeira flecha sai do arco bem tensado de Marduk e consegue acabar com a vida de Tiamat. O primeiro parte em duas metades o crânio do segundo. Com uma das partes formará a cúpula celeste; enche-la-á de estrelas e astros e levantará uma mansão para as deidades que o ajudaram na sua luta contra os deuses rebeldes. Com a outra parte, construiu os cimentos do mundo terrenal e, assim, o mundo ficará enraizado e ordenado.
Ainda a superfície da Terra se encontrava alagada pela água dos oceanos. Então, Marduk decidiu fabricar uma gigantesca gelosia que depositou na superfície das águas; cobriu todos os seus buracos e celas com pó e barro e surgiu a Terra. Foi originada pela força criadora de Marduk.
O MUNDO DOS HUMANOS
Seguidamente, o deus Marduk amassou com o seu próprio sangue as criaturas humanas, fez brotar mananciais e fontes entre prados e montanhas,e a Terra se cobriu de rios,arroios e lagos; por fim, pôs nela os animais selvagens e domésticos e as diversas espécies de aves, e a criação ficou concluída.
Outras versões explicam que os seres humanos foram modelados primeiro com argila, o qual constituirá a semente da Humanidade e, graças a isso, Marduk pôde criar o homem. Esta semente tinha sido obtida pela deusa Aruru, que gozava de grande prestígio entre a população de Sumer e Akad. Conta a lenda que Aruru tinha modelado com argila figuras femininas, semelhantes a ela própria. Segundo se desprende deste mito mesopotâmico, a mulher foi criada antes do que o homem e constituiu-se em semente da Humanidade. Não obstante, o que se propunham os assírio-babilônios, em todos os casos, era realçar a origem divina da raça humana e, pelo mesmo motivo, a partir disso, confeccionaram os seus mitos sobre a criação do homem e da mulher.
Depois de vencer Tiamat,o resto dos deuses repartiu o mundo entre eles. E, assim, Marduk escolheu ser soberano da Terra; o deus Anú erigiu-se em dono e senhor do espaço imenso e do Céu; e a última deidade que completava a trindade de deuses, isto é, Ea, correspondeu reinar sobre as águas.
LENDA DO DILÚVIO
Mas os humanos, ainda tendo uma origem divina, não se comportavam em conseqüência com isso e incomodavam os deuses. Estes decidiram inundar a Terra para que, assim, perecesse a raça humana. Mas, segundo conta a lenda popular, um dos deuses ( Ea ), deidade que governava sobre as águas apiedou-se dos humanos e escolheu entre eles o mais inteligente e preparado para levar a cabo o seu plano de salvação de todas as criaturas. Ordenou-lhe que construísse uma embarcação grande e que se introduzisse nela com a sua família e os seus utensílios. Também devia ter um lugar para os animais domésticos e selvagens e para um exemplar das diferentes espécies de aves.
Quando estava tudo concluído, e já as portas daquela enorme arca segundo se indica no poema, o seu comprimento tinha que ser igual à sua largura se tinham fechado, começou a chover torrencialmente e desatou-se um vento forte. O temporal durou "seis dias e seis noites" e a água alagou a Terra inteira: "toda a espécie humana ficou convertida em lodo".
Mas, ao amanhecer do sétimo dia, a calma voltou, como por encanto, a reinar. A barca encalhou no cimo do monte Nissir, que não tinha sido coberto pelas águas: dela saíram uma pomba e uma andorinha mas, ao cabo de algum tempo, voltaram porque não tinham encontrado lugar onde repousar. Passou um tempo prudencial e, desta vez, saiu da barca um corvo que já não regressou, dado que tinha encontrado um local onde pousar-se e carne com que alimentar-se. Então abandonaram aquela imensa arca todas as outras criaturas e, de novo, houve vida na Terra fértil.
EPOPÉIA DE GILGAMESH
Há já mais de 4000 anos que foram gravadas as andadas e aventuras do legendário herói babilônico Gilgamesh. Doze tabelas de argila, achadas na famosa biblioteca, composta por mais de vinte e duas mil tabelas de argila, que Assurbanipal tinha criado na cidade de Nínive, constituíam o suporte do célebre poema de Gilgamesh.
Trata-se, portanto, de uma obra única no mundo, de incalculável valor, tanto literário como mítico. O poema narra a história da amizade entre personagens que tinham sido criados para odiar-se. E também descreve o temor que invade os mortais perante a força de Gilgamesh, que tinha sido criado pela deusa Aruru. Além disso, se relatam os sonhos dos seus principais protagonistas e se realça a importância do mundo onírico e a sua interpretação.
Gilgamesh mostrou em muitas ocasiões o seu arrojo e valentia lutando, e vencendo, monstros gigantescos como Khumbava, embora sempre recebesse a ajuda incondicional do seu companheiro e amigo Enkidu. No entanto, houve um tempo em que, segundo narra o poema, tinham sido inimigos:
"Contra Gilgamesh se lançou Enkidu, gadelhudo". Se levantou contra ele. E mediram as suas forças na grande praça.
"Através de tanta façanha e aventura, descritas no poema, o herói Gilgamesh pretendia encontrar a imortalidade".
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