INFERNO SAGRADO

Autor: Brian dos Santos




HELLRAISER
SACRED HELL
(INFERNO SAGRADO)


Índice


Prólogo ......................................................................................... 3
Capítulo 1: O Amor, O Ritual ...................................................... 4
Capítulo 2: O Pecado Que Nos Trás Aqui
Prólogo

“Tudo que você vê é tudo que você acredita, mas nem tudo que você acredita é o que você vê.”

Há, mais ou menos um século, um francês chamado Le Merchant, criou um artefato, uma espécie de caixa quebra-cabeça que diziam abrir os portais de um inferno de carnes expostas, gritos sufocados e prazeres desconhecidos, mas que também trazia demônios que buscavam aqueles que os invocavam, procuravam pelos pecadores que eram seduzidos pelas almas presas neste artefato, um artefato que foi adquirindo nomes, assim como os demônios que ele liberava.
Atualmente a história é contada desta forma, mas, o verdadeiro e original artefato, foi criado há muito mais tempo, há mais ou menos, 1000 anos atrás, em uma igreja que era usada para estudos de padres, freiras, e outros membros do clero. Essa igreja, que se situava no interior da Espanha, em um pequeno vilarejo, foi palco de atrocidades terríveis, tão terríveis que aquilo precisava ser julgado, ser limpo da história... ou talvez sujá-la eternamente.
Foi lá onde tudo começou, onde nosso mundo foi ligado à quarta dimensão, a esse mundo tão fantástico e inimaginável, e foi em um lugar desses que se presenciaram demônios... em uma igreja.
Mas a conclusão sobre as consequências desses acontecimentos será sua, afinal tudo isso foi mesmo necessário para haver justiça, ou foi apenas um modo de trazer demônios para a Terra e condenar toda a humanidade?



Capítulo 1: O Amor, O Ritual

“Há amores sagrados e almas condenadas.”

O nome da igreja e sua localização exata é melhor não ser dito, pois há muitas controvérsias na história, muitos fatos que são duvidosos e discutidos, talvez criticados, mas isso é algo que precisa ser contado, com apenas o necessário, apenas a pura história, sem muitos detalhes sórdidos e medíocres.
O ano de 1099 foi um ano marcante para aquele vilarejo, além de ser o início da Primeira Cruzada, muitas coisas se iniciaram naquele ano, muitas coisas aconteceram, fatos marcantes, que marcaram, não somente a vida daqueles moradores, mas também a vida da freira Catarina Cotão, uma bela mulher de rosto suave, olhos calmos e azuis que havia sido mandada lá pela Igreja, para aprender com o Padre Miguel Castaño, pois era normal naquela época, serem treinados muitos homens para a guerra, e mulheres para algo mais interno e para um confronto mais indireto como o poder da oração, o exorcismo, a unção dos enfermos, entre outros conhecimentos.
À primeira vista, Catarina olha o vilarejo de dentro da carruagem preta e luxuosa e se pergunta qual o motivo dela estar ali, afinal ela não entende o que há para ser aprendido naquele lugar pobre e sofrido, a não ser que talvez seja para que ela aprenda a valorizar a vida ou tentar salvar aquele povo, talvez der algo para que eles possam se apoiar, um objetivo de vida, um sonho de uma vida melhor.
Enquanto isso o povo do vilarejo também olham estupefatos a carruagem passando vagarosamente, afinal, o que alguém que aparentemente tinha tanto poder financeiro fazia em um lugar daqueles? Eles vão parando tudo aquilo que estavam fazendo e vão seguindo com os olhos a trajetória que a carruagem faz até a igreja do Pe. Miguel, pois havia muito tempo em que não se via ninguém da Igreja ser mandado para lá, talvez, até mesmo, mais de uma geração, antes mesmo de Pe. Miguel chegar.
Chegando a carruagem à igreja, Catarina desce vagarosamente e admira a estrutura da igreja, que apesar de estar em um lugar pobre, aparenta possuir grandes acomodações, e por algum motivo, aparenta ter certo valor especial para a Igreja.
Após ter descido da carruagem, o cocheiro pega suas malas com seus braços grossos e cobertos pela pelugem branca de sua idade avançada e a acompanha até a porta da igreja. Ele abre as grandiosas portas de madeira refinada e os dois adentram o amplo átrio da igreja, que se mostra ser bem grande e espaçoso. Eles olham para o altar e da sacristia saem dois coroinhas que saúdam Catarina com muita alegria e hospitalidade:
– Seja bem vinda irmã Catarina, é um prazer vê-la aqui. – diz um dos coroinhas.
 Catarina também demonstra muita alegria em vê-los e pergunta seus nomes:
– Olá, meus jovens, é bom saber que sou esperada com tamanha hospitalidade aqui – exulta Catarina. – Gostaria de saber os seus nomes, por favor.
 Os coroinhas se apresentam como Henrique, um garoto de aparência calma, olhos misteriosos, castanho escuros, combinando com seus cabelos arrepiados e de mesma cor, e Carlos, mais baixo, aparentemente mais novo, de rosto um tanto quanto fofo, olhos de mesma cor e cabelos lisos de estilo tijelinha, que vão logo apresentando o lugar a ela, assim como o modo como as coisas funcionam por lá:
– Eu sou Henrique e este é Carlos. – explica Henrique. – Somos coroinhas do Pe. Miguel, nascemos aqui, por isso somos bem familiarizados com tudo desde cedo.
– É um pouco difícil no começo para se acostumar, mas logo você se adapta ao lugar e passa a gostar bastante daqui. – completa Carlos.
– Por isso, não há com o que se preocupar, a história do lugar também é um pouco complexa, mas o Pe. Miguel explicará tudo direitinho para a irmã. – ajunta Henrique.
 Catarina entende tudo com muita facilidade, e diz já ter lido sobre a história do lugar e compreendido muito bem, o que fascina os dois por sua vasta inteligência. A jovem freira também se fascina com os dois, pois são tão jovens e já são homens de tanta fé.
Os dois jovens vão caminhando pelos corredores da igreja, junto com Catarina e seu motorista, enquanto vão se conhecendo um pouco e criando um certo laço de amizade:
– Eu e Carlos nascemos aqui... – soa um tanto fraca a voz de Henrique. – então não sabemos como é em Roma, como são as igrejas de lá e tudo mais, será que a irmã poderia nos falar um pouco sobre lá?
– É claro... – responde com muita graça Catarina. – eu nasci em Roma, minha família sempre foi muito devota da Igreja, sempre fomos uma família de muita fé, então, um dia, quando eu tinha uns nove anos, Deus me convocou para seu exército e eu fui para um convento da irmã Patrice. Lá eu me tornei o que sou hoje, até que fui convocada pelo Vaticano e os Bispos me deram a missão de vir aqui aprender com o Pe. Miguel, que até agora eu não tenho certeza do quão é importante isso que ele tem para me ensinar.
– Quando suas sessões na biblioteca começarem, você vai entender melhor o porquê de estar aqui. – explica Carlos.
 E assim eles vão conversando até que, vindo em sua direção, surge o Pe. Miguel, cabelos grisalhos, um tanto calvo, olhos calmos, barba fina e com um sorriso no rosto, que também a saúda com muita alegria:
– Olá, irmã. A senhorita deve ser Catarina Cotão. É muito importante para nós termos uma aprendiza depois de tanto tempo.
– Olá, a paz de Cristo.
– Amém.
– Então o senhor é o Pe. Miguel Castaño?
– Isso mesmo, estava aguardando ansiosamente pela sua chegada.
– Nossa, mas por que eu sou tão esperada?
– Porque a irmã será mais uma a adquirir o conhecimento que temos a oferecer para que possamos vencer essa guerra contra os pagãos e as forças do Inimigo.
 Ela fica com medo, mas o padre diz que não há o que temer, pois a fé daquele povo é tudo que eles têm para mantê-los a salvo. Então, Catarina, faz outra pergunta:
– Por que essa igreja é tão grande e de tamanha importância se o lugar é tão miserável?
E o Padre responde:
– Suas estruturas precisam representar a importância dos ensinamentos que há aqui, por isso, essa igreja precisa ser um símbolo de fortaleza, para que o poder de Deus seja exposto claramente para aqueles que nos vigiam constantemente.
Ao dizer tais palavras, Catarina se amedronta ainda mais, mas em silêncio, o que não passa despercebido pelo Pe. Miguel, que a repreende:
– Não fique com medo irmã, pois a resposta que você procura para o motivo deste estudo está em si mesma. Não percebe? Na sua falta de fé, na sua falta de confiança no Senhor. Será preciso se entregar à ele aqui, só então seus medos serão sufocados, serão apaziguados. Confie nele.
Ao compreender isso, Catarina pede ao Padre que a ensine tudo aquilo que for necessário para que ela possa enfrentar o Inimigo em nome da Igreja e de Deus.
Pe. Miguel a aconselha então a ficar sempre atenta às aulas, aos estudos que tudo será mais fácil. E então pede para que Carlos e Henrique mostrem os aposentos onde Catarina se estabelecerá.
Passado algumas horas, Catarina termina de se fixar e se acomodar em suas instalações: um aconchegante quarto situado em um pequeno edifício de dois andares ligado à igreja pelo corredor que todos caminhavam mais cedo.
Henrique bate na porta e pergunta se pode entrar. Catarina permite sua entrada. Ele pergunta se está tudo bem, se ela precisa de alguma coisa ou se tem alguma dúvida. Catarina pergunta que horas são as refeições. Henrique então informa:
– Às 7 horas é servido o café, às 13 horas o almoço, às 16 horas o café da tarde, às 19 horas o jantar e às 22 horas um café da noite. Mais alguma dúvida?
Catarina pergunta:
– É de costume vir mais pessoas para a estadia nesta igreja? Pois há tantos quartos, mas eu não vejo ninguém.
O coroinha então responde:
– Às vezes vêm muitos de uma só vez, mas ultimamente caiu muito o número de escolhidos para virem para cá, está parecendo que esse lugar está sendo esquecido.
Catarina expressa um pouco de nervosismo e ansiedade e pergunta em um tom um pouco mais alto:
– Afinal, o que de tão importante e misterioso há para eu aprender aqui?
Henrique pede para que ela se acalme um pouco e durma, pois amanhã serão iniciadas as sessões de aprendizagem com Pe. Miguel e tudo será esclarecido. O jovem lhe dá boa noite e se retira lentamente do quarto.
Catarina senta novamente em sua cama, tira sua bíblia da mala e faz suas orações. Finalmente é chegada a hora de dormir e de descansar de uma viagem tão longa e cansativa.
No dia seguinte, Catarina acorda cedo, faz novamente suas orações, se troca e desce para tomar café. Chegando à cozinha ela conhece Sandrine, uma das senhoras que trabalham na igreja para cozinhar, arrumar os quartos, limpar, etc.
– Olá, prazer, sou a irmã Catarina. – comprimento sorridente Sandrine.
– Olá, sou Sandrine, a cozinheira da igreja. – responde Sandrine.
– Ah sim. Quantas pessoas mais faltam eu conhecer?
– Não somos muitos, tem a nossa camareira Roberta, a faxineira Elise e o zelador Cassio. Possivelmente você os conhecerá no decorrer do dia.
– Sei, assim espero.
Catarina então toma seu café, e segue para a nave da igreja, onde ela assiste a missa matinal do Pe. Miguel.
Ao fim da missa, o padre pede para Carlos ir chamar a irmã até a sacristia, onde ele a convoca para sua primeira sessão de aprendizagem. Os dois se dirigem para a biblioteca, onde a irmã se senta enquanto Pe. Miguel procura alguns livros para introduzir o estudo que pretende durar em torno de três meses.
–Bom, só para que possamos acertar o caminho que vamos trilhar nos próximos meses, seria melhor se a irmã falasse sobre algum assunto do qual se interessa mais, ou que já estudou. – propõe o padre.
– Sinceramente, não tenho nenhum assunto específico... – fazendo uma pausa e virando os olhos lentamente para o alto, Catarina aparenta lembrar-se de algo muito distante na sua infância. – Pensando bem, quando eu era criança, eu ouvi falar sobre um lugar... não me lembro muito bem do nome, mas acho que era o que chamavam de Quarta Dimensão ou...
Catarina falava sobre suas lembranças quando foi subitamente interrompida.
– O Purgatório! – afirmando com firmeza, o Pe. Miguel demonstra muito conhecimento e empolgação pelo assunto. – Que engraçado, a irmã, é uma das poucas pessoas que conheci na vida que demonstrou interesse pelo Purgatório, ou pelo menos que o conhecesse.
– Eu imaginei, tentei procurar livros sobre isso, mas nunca achei nada convincente.
– Onde ouviu falar sobre o purgatório?
– Minha mãe. Uma vez eu a ouvi falando sobre isso com meu pai, mas quando fui perguntar o que era ela nunca me respondeu.
– Realmente são muito raros os livros que falam sobre isso. Nessa biblioteca há alguns... – o padre vagarosamente se levanta e caminha lentamente até as gôndolas. – Mas todos estão errados. Todos eles retratam o Purgatório como se ele fosse o Inferno, no entanto... eu tenho um. – o padre procura e vai seguindo sua mão, arrastando-a pelos livros empoeirados até o canto da estante, na última prateleira, onde, embaixo de todos os livros, se encontra uma discreta gaveta escondida. Ele a abre e retira um livro um tanto quanto espesso, com uma capa negra, meio azulada como uma noite estrelada de uma floresta e o joga em cima da mesa onde se encontrava sentada a irmã.
Catarina vislumbra o livro, sente no fundo de sua alma toda a magia que ele possui, uma voz parece ecoar em sua cabeça, em sua alma: “eu estou aqui por você, leia-me, estude-me, e eu te darei o conhecimento eu te darei o que quiser!”. Seus ossos gelam, é como se estivesse diante do próprio Papa, ou de um rei. Súbito, seu pensamentos e seu momento é interrompido pelas palavras do Pe. Miguel.
– O Derradeiro Prazer, a obra de um autor desconhecido.
– Que incrível! – fascinada pelo livro, Catarina tenta entender, pois se são livros tão raros, onde ele conseguiu isso. – Onde o conseguiu?
– Um amigo me deu quando eu era jovem.
Apesar da resposta rápida do padre, Catarina sente um desconforto nela, sente uma falta de firmeza em suas palavras. Havia algo ali. Não foi simplesmente assim que o padre teria adquirido este livro. A Igreja sempre usa o nome “Purgatório”, mas com um contexto totalmente diferente, como o padre havia falado mais cedo, a Igreja se referia à ele como um inferno.
Subitamente, Pe. Miguel interrompe aquele momento de silêncio:
– Bom, vamos deixar os estudos para amanhã. Saia um pouco. Vá conhecer o vilarejo, as pessoas, vai ser bom para você. Agora eu preciso ir fazer algumas orações e mexer com algumas cartas do Vaticano. Até mais
Ele vai até a gaveta, guarda seu livro e sai pela porta andando à passos largos. Catarina fica um pouco intrigada, mas prefere não pensar nisso agora, talvez seja melhor ouvir o padre e ir conhecer o lugar.
Pela primeira vez, Catarina sai da igreja e vislumbra o vilarejo medieval ao seu redor. Casebres de madeira, diversos seleiros e animais andando pelas ruas embarreadas, bois, cavalos, galinhas e uma praça redonda com uma fonte quase seca de água no centro. Típico. Pela fonte, que agora se encontra seca, se percebe que o vilarejo já foi próspero, pois isso é um luxo que poucos lugares podem ter. Usar água apenas para enfeite. Catarina pensa consigo mesma: Aposto que os moradores de agora não iriam aprovar tanto a construção desta fonte.
Ao longo da larga rua enlameada, alguns lançam olhares curiosos, outros prestam reverência e outros cumprimentam com alegria.
Enquanto seus lindos olhos azuis de formato amendoados exploram graciosamente as pessoas e a paisagem arcaica ao seu redor, Catarina caminha até a praça, até que, súbito, a bela freira tromba em ombros largos, a mais ou menos um metro e oitenta do chão e acaba caindo no chão, sujando a seu hábito de barro. O Homem moreno do sol, com uma camisa branca, olhos castanhos e cabelo muito bem cortado se desculpa com a irmã e estende a mão para ajuda-la a levantar:
– Desculpe irmã, estava tão distraído com meu bloco de desenhos que acabei não a vendo.
– Não se preocupe. Eu volto para igreja e troco. Sem problemas. – diz a irmã aceitando a mão do rapaz.
– Mas olha só pra você! – demonstrando muita preocupação – Seu hábito está todo sujo.
– É sério, não precisa se preocupar. Foi culpa minha também, eu estava distraída olhando para os lados, conhecendo a cidade.
Catarina se sente nervosa e após se levantar e passar a mão sobre seu hábito, ela vira sem nada dizer ao rapaz e começa a caminhar a passos largos na direção contrária até a igreja.
O Rapaz tenta chama-la de volta, mas em vão:
– Espere! Pelo menos me diga seu nome! – mas Catarina nem parece ouvir. – Tudo bem então.
Entrando na igreja, Catarina vai direto para seus aposentos no segundo andar, abre seu guarda-roupa, pega um hábito limpo e se dirige para o banheiro que fica no fim do corredor, próximo às escadarias. Entrando no banheiro ela fecha a porta, tira seu hábito, revelando um corpo exuberante e começa a se lavar. Enquanto Catarina se lava uma suave brisa acaba abrindo um pouco a porta.
Carlos e Henrique vêm subindo as escadas, conversando, passam pela porta semiaberta e, de relance, acabam olhando para dentro. Seus olhos e sua curiosidade se atiçam. O que eles veem é uma figura feminina de longos e encaracolados cabelos loiros escoando suavemente pelas suas definidas curvas e pelo seu acentuado quadril se banhando.
Com olhares fixos e intrigados, os dois se aproximam da porta, curiosos para espiar. Com uma intrigante sensação, os dois se desligam do mundo ao seu redor e sentem seu sangue bombeando mais rápido em suas veias, fazendo seus jovens corpos esquentarem e alguns de seus músculos se enrijecerem, enquanto aquela linda e tentadora mulher desliza suas mãos por suas suaves curvas. Súbito, os dois voltam a si quando ouvem passos se aproximando pelas escadas e, assustados, voltam a seguir rapidamente o caminho que traçavam até então.
Alguns minutos depois, após terem chegado a seu quarto, os coroinhas compartilham a sensação que acabaram de ter.
– O que foi aquilo? – exclama Henrique em voz baixa – A irmã Catarina se banhando. Não acredito que acabamos de ver sua vergonha.
– Mas ela é mais atraente do que pensávamos. – Carlos, ainda pasmo.
– Concordo, mas... – Henrique procura palavras, mas elas não vêm em sua mente.
– Não deveríamos ter visto aquilo!
– Sim, mas... bem, vamos fazer o seguinte: vamos esquecer o que acabamos de ver. Sedemos ao pecado. Temos que nos confessar, antes que seja tarde! Afinal, acabamos de fornicar em pensamento com uma irmã! A irmã Catarina!
– Você tem razão Henrique, mas não sei se consigo esquecer isso ou contar para o Pe. Miguel o que acabamos de ver.
– Não temos outra escolha Carlos. Pecamos! Não deveríamos ter o feito, mas fizemos e agora nós dois sabemos o que devemos fazer. Eu sei que é difícil, mas é por isso que temos que fazer!
– Quer saber, talvez devêssemos não tocar mais nesse assunto. Sempre fomos certinhos, sempre andamos na linha, fizemos tudo o que era certo e nos privamos de todos os pecados possíveis! Deus não vai nos jogar no Inferno só por causa de um pecado, um que não foi nossa intenção cometer.
– Talvez você esteja certo. Tem razão, vamos esquecer isso e fazer os nossos deveres.
As horas passam e o Sol se vai. A lua chega e ilumina a escura noite daquele vilarejo, enquanto Catarina se prepara para ir dormir novamente.
A irmã começa a preparar sua cama quando o Pe. Miguel chega à porta de seu quarto.
– Boa noite Catarina. – diz o padre – Durma bem e se prepara para a segunda sessão que teremos amanhã cedo, certo?
– Tudo bem, obrigada. Vou estar na biblioteca amanhã cedinho, pode deixar. Boa noite.
– Certo então, até amanhã.
E o Pe. Miguel deixa o quarto de Catarina rumo ao seu escritório particular, o único cômodo do terceiro andar.
Enquanto isso, em uma casa muito bem cuidada próxima a praça, um rapaz desenha figuras geométricas e frases estranhas em diversas folhas, sentado em sua cama enquanto seu pensamento vai longe, em uma freira que ele havia conhecido mais cedo.
O misterioso rapaz se lembra daquele doce rosto que ele havia visto e que não pudera se despedir, então, indignado, ele se pergunta: como uma mulher tão linda pode ser freira? Uma beleza tão grande não deveria ser escondida.
Por um momento, o rapaz olha para o horizonte do nada e retém seus pensamentos, então volta a si e continua seus desenhos.
Voltando à igreja, Pe. Miguel entra em seu escritório particular, fecha a porta delicadamente, acende os diversos candelabros da sala e senta em sua mesa, repleta de livros, digamos, nada ortodoxos, com temas como ocultismos, rituais de sangue, ressurreição de mortos, entre outros, mas o que se encontra aberto é o seu predileto: “A Quarta Dimensão e o Labirinto dos Mortos”. O padre fecha o livro e aspira o ar com força enchendo seus pulmões com um odor peculiar, cheiro de carne em decomposição, o cheiro de podridão da morte.

Posted by DJ BURP | às 05:57

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