ESTILOS:


A origem do emocore:
Emo (abreviação do inglês emotional) é um gênero de música derivado do Hardcore. O termo foi originalmente dado às bandas do cenário punk de Washington, DC que compunham num lirismo mais emotivo que o habitual.
Existem várias versões que tentam explicar a origem do termo “emo”, como a que um fã teria gritado “You´re emo!” (Você é emo!) para uma banda (os mitos variam bastante quanto a banda em questão, sendo provavelmente o Embrace ou o Rites of Spring).
No entanto, a versão mais aceita como real é a de que o nome foi criado por publicações alternativas como o fanzine Maximum RocknRoll e a revista de skate Thrasher para descrever a nova geração de bandas de “hardcore emocional” que aparecia no meio dos anos 80, encabeçada por bandas da gravadora Dischord de Washington DC, como as já citadas Embrace e Rites of Spring, além de Gray Matter, Dag Nasty e Fire Party.
Nesta época, outras bandas já estabelecidas de hardcore, como 7 Seconds, Government Issue e Scream também aderiram à esta onda inicial do chamado “emocore“, diminuindo o andamento, escrevendo letras mais introspectivas e acrescentando influências do rock alternativo de então.
É importante lembrar que nenhuma destas bandas jamais aceitou ou se auto-definiu através deste rótulo. A palavra “Emo” era vista como uma piada ou algo pejorativo e artificial.
O gênero (ou pelo menos o clássico estilo de Washington, o DC sound) primeiramente explorado por bandas como Faith, Rites of Spring e Embrace tem suas raízes no punk rock.
O próximo passo na evolução do gênero veio em 1982 e durou até 1993 com as bandas Indian Summer, Moss Icon, Policy of Three, Still Life e Navio Forge. A dinâmica calmo/gritado (”quiet/loud”) freqüentemente ouvida em bandas recentes tais como Seatia e Thursday tiveram suas raízes nestas bandas. No que diz respeito a voz, essas bandas intensificaram o estilo emocore. Muitas delas sempre fizeram uso de berros e gritos durante a apresentação, e motivo para muitos fãs de hardcore depreciarem os fãs de emo como “molengas”¹ (”wimps”, “weaklings”).
Assim como foi infundida uma nova intensidade para o emocore, o emotional hardcore levou essa intensidade a um nível extremo. A cena teve início entre 1991 e 1992 com as bandas Heroin, Portraits of Past e Antioch Arrow que tocavam um estilo caótico, com vocais abrasivos e passionais.
Após a supervalorização inicial da intensidade e da sonoridade caótica, o emotional hardcore sofreu um processo de “desacelaração”. As bandas Sunny Day Real Estate e Mineral basearam seu estilo no Rites of Spring, outra banda do gênero emo.
Nota-se uma nova tendência emo em abandonar o punk distorcido em favor de calmos violões. Na cultura alternativa diz-se que alguém é ou está emo quando demonstra muita sensibilidade.No Brasil, o gênero se estabeleceu sob forte influência norte-americana em meados de 2003, na cidade de São Paulo, espalhando-se para outras capitais do Sul e do Sudeste, e influenciou também uma moda de adolescentes caracterizada não somente pela música, mas também pelo comportamento geralmente emotivo e tolerante, e também pelo visual, que consiste em geral em trajes pretos,Trajes Listrados, Mad Rats, Cabelos Coloridos e franjas caídas sobre os olhos.
O QUE É EMOCORE ? A Estreita linha entre o amor e odio Uma vertente do hardcore que surgiu no começo dos anos 1990 nos Estados Unidos veio para mostrar o lado sentimental e melancólico do gênero. Com um vocal mais intenso, letras mais estruturadas e um som bem mais trabalhado, ela aborda temas emocionais e afetivos, podendo ter letras sobre conflitos pessoais e até emoções mais depressivas. Apesar de originário do punk/hardcore, o emocore constrói um estilo de som mais leve e de acordes mais complexos. O som é destacado pelo vocal, que se alterna em letras bem calmas, quase faladas, com gritos expressivos de dor e sofrimento. Diferentemente dos shows de hardcore, nos quais os sons são bastante agressivos e politizados, e incitavam a galera, o emocore tem um público mais abrangente, que vê na música também uma forma de expressão, sem agressividades e incitações de violência. Com isso o emocore vem ganhando muitos adeptos no mundo inteiro. Visto muitas vezes como um punk pop, vem crescendo muito no universo adolescente, influenciando e aumentando sua popularidade, já que os shows possuem um público grande e diversificado, onde é notável a presença de muitas garotas, coisa que não acontecia nos shows de punk/hardcore. A Origem Antes de explicar a origem do gênero, é interessante definir, em poucas palavras, os termos emo, emotion-core ou emocore. É uma vertente do hardcore que surgiu de bandas como Husker Dü, Embrace (banda de Ian Mackaye, do Fugazi), Dag Nasty e Rites Of Spring. Com um instrumental harmonioso e vocais melodiosos e extremamente gritados, estas bandas foram, de certa forma, as precursoras do emocore. Depois disso surgiram desde bandas como At The Drive-in, Sense Field, Saves The Day, Hot Water Music, Jawbreaker, Sunny Day Real Estate, Mineral, Texas Is The Reason, The Juliana Theory, Elliot, Jimmy Eat World, Promise Ring, Dashboard Confessional e Midtown, até as mais populares, como A New Found Glory e The Get Up Kids, que ajudaram de certa forma a tornar o emo conhecido como é hoje em dia. O cenário acontecia em Washington, onde os shows de hardcore se tornaram muito violentos, e foi em 1985 que houve o chamado "Revolution Summer" (verão revolucionário) que trouxe uma renovação do espírito no punk rock e deu origem a bandas que tinham uma interpretação mais pessoal e introspectiva do punk rock. Entre essas bandas estavam as já citadas Rites Of Spring e Embrace, as primeiras a receber o rótulo de emocore. Em 1986, Ian MacKaye (Embrace) e Jeff Nelson foram para Londres e gravaram quatro músicas pós hardcore, com Ian no baixo, guitarra e vocal, e Jeff na bateria e vocal. Das quatro músicas, apenas duas mereceram ser mixadas e foram lançadas com o nome de Egg Hunt. Eles voltaram a Washington e tentaram formar uma banda para dar continuidade a este projeto. Chamaram ex-membros do Gray Matter e ensaiaram várias vezes antes de assumirem que não estava dando certo. Ian seguiu para montar o Fugazi (banda que acabou ficando muito conhecida na mídia) e os demais formaram o Three. O Rites Of Spring, que contava com Guy Picciotto (vocal e guitarra), Eddie Janney (guitarra), Michael Fellows (baixo) e Brendan Canty (bateria), ficou conhecido pelo shows intensos e explosivos. A banda lançou um disco em fevereiro de 1985, mas após o lançamento de um single, um ano depois, se desfez com a saída de Michael Fellows. Ele então criou o One Last Wish, o som ficou mais sofisticado, porém com a mesma energia. Em janeiro de 1987, resolveram voltar com o Rites Of Spring, mas adotando o nome de Happy Go Licky, e lançaram o álbum "Will Play”, numa parceria entre a Dischord e o selo de Guy. Após sete shows a banda realmente acabou. Hoje em dia já é grande a quantidade de bandas emocore no Brasil, principalmente em São Paulo. Talvez por ser uma grande capital, a cidade já possui um grande público formado por pessoas de diversas idades, mas na sua maioria adolescentes, que freqüentam shows, lotando as casas em que as bandas se apresentam. Entre esses lugares, podemos citar o Hangar 110, Subjazz e Black Jack, que são sempre palco para todo esse cenário que é o emocore atual. É notável a quantidade de garotas que freqüentam essas casas. Com um estilo bastante alternativo e alguma vezes fashion, elas se destacam por usar franjinhas, cabelos e roupas coloridas, tatuagens, piercings, coisa já comuns entre o público feminino. Da mesma forma que o estilo street wear e fashion dos garotos, que compõem um grupo que vem crescendo A cada dia, e abrindo mais espaços na mídia, tornando-se cada vez mais populares entre os adolescentes. aeee essa eh a história do emo core!!
Os emos como uma tribo urbana
Franja, piercings e tênis coloridos são alguns elementos da estética emo. Além disso, a tribo dos emos possui raízes musicais no emocore, gênero que mistura som pesado e letras românticas.
 
Franja, piercings e tênis coloridos são alguns elementos da estética emo
Olhos pintados com lápis preto, cobertos com franjas, adereços como cintos de grandes fivelas e tênis coloridos, além de piercings no rosto e roupas de cor predominantemente escura (embora existam os que prefiram outras cores) são alguns dos elementos utilizados pelos emos, que tentam expressar um estilo próprio que se tornou comum nos centros urbanos na última década. Obviamente, tal grupo não nasceu apenas como um estilo ou certo modismo. Originalmente, surgiram na década de 1980, nos Estados Unidos, tendo em suas raízes um gosto pelo rock e pelo punk, mas mais precisamente pelo chamado emocore, um gênero de música que mistura hardcore (de tom mais agressivo) com letras românticas.
Até se chegar ao tipo de música que realmente caracteriza o gosto dos emos atualmente, várias transformações ocorreram, distanciando-os cada vez mais do rock e do punk de trinta anos atrás. Dentre as primeiras bandas que produziriam um som emocore estariam Rites of Spring e Embrace, passando na década de 1990 por bandas como Jimmy Eat World e Dashboard Confessional, até chegar mais recentemente à Fall Out Boy, Panic! at the Disco e My Chemical Romance. No Brasil, bandas como NXZero, Fresno e  Restart seriam alguns exemplos desse gênero, o qual aqui teria chegado após o ano 2000. Contudo, é válido observar que muitas dessas bandas, ao que parece, não necessariamente se autorreferenciariam como fazendo parte do gênero emo, uma vez que haveria algo de pejorativo em tal classificação ou rótulo, desvirtuando o que tais bandas acreditariam ser realmente seu estilo musical.
Grosso modo, os emos são um tipo de grupo social informal (estes são constituídos por indivíduos que de algum modo comungam de uma visão de mundo, de um gosto por uma alternativa de comportamento). Consideram-se pessoas altamente emotivas e sensíveis às letras das músicas de sua preferência, as quais têm como temática a melancolia, a tristeza, problemas que envolvem a temática do amor, da rejeição do outro (como da própria família). Porém, é válido dizer que muitos entre os que aderem a esse grupo assim não o fazem apenas pelo gosto musical em comum, mas em grande medida pela identidade ou empatia a esse modo de vida, de comportamento, enfim, pela própria moda no tocante à vestimenta.
Quase que absolutamente, trata-se de grupos compostos por adolescentes e, dessa forma, pode-se compreender que a adesão e a procura de um “estilo” estão ligadas certamente ao momento da vida em que se busca construir uma identidade, lutando-se pela autoafirmação. Nesse sentido, talvez esse aspecto da transição na formação da personalidade (entre a infância e a idade adulta) possa explicar a mistura de símbolos do estilo punk com outros de certo aspecto infantil, como se vê na mescla entre roupas escuras e estampas de personagens infantis, além dos colares de contas coloridas, dos bottons, dos chaveiros e mochilas, dos bichos de pelúcia, etc.
Outro aspecto curioso no comportamento dos emos está na questão da sexualidade, a qual dentro desses grupos pode se manifestar de várias formas para além da heterossexualidade. Aliás, parte do preconceito que sofrem se dá por conta do já existente preconceito contra homossexuais e bissexuais, uma vez que esses tipos de sexualidade são bastante comuns entre os emos. A própria emotividade e a sensibilidade tão características desse grupo vão na contramão de uma expectativa social, por exemplo,  com relação a um comportamento masculino de um adolescente homem, o qual, pelo senso comum, deveria ser mais agressivo e não emotivo. Dessa forma, têm-se condições para se criar estereótipos, os quais certamente apenas servem para corroborar preconceitos de toda natureza.
Buscando-se aqui traduzir uma leitura imparcial, não se trata de criticar ou fazer apologia a essa tribo urbana, mas sim de compreender que os emos, enquanto grupo, veem em seu comportamento – assim como em outras épocas outros jovens também o faziam – uma forma de “transgredir” uma norma ou expectativa construída pela sociedade. Por isso, ao se falar de novas tribos urbanas ou de grupos em geral que constituem minorias, é preciso considerar que a intolerância da sociedade com os “diferentes” fica expressa nos atos de violência, sejam em termos físicos ou psicológicos. Assim, um curioso fenômeno social pode ser percebido no fato de que essa mesma sociedade urbana/industrial, ao passo que cria os mais diferentes grupos sociais – como os emos –, não se mostra suficientemente capaz de lidar com eles.
 
HARDCORE
A HISTORIA DO HARDCORE, primeira parte. 1977-81
1977. Era uma vez o punk rock. Na inglaterra velhinhas arrancavam os cabelos com o vocabulário crasso dos Sex Pistols e seu desrespeito pelas instituições da monarquia Britânica. Do outro lado, a juventude inconformista das ruas aclamava o punk como o movimento que finalmente dava voz aos desajustados. Um movimento que permitia que a molecada tomasse o rock de volta para ela, uma música que falava de temas reais, agressivos e relevantes. Enfim, era algo novo, excitante e deles. Mas nem tudo são flores. A indústria cultural viu no punk uma nova oportunidade de ganhar dinheiro, e contratou todos os principais nomes do movimento. Da mesma forma, bandas oportunistas pularam no vagão do punk rock sem ter de fato a essência da coisa no coração. Não preciso nem dizer que em questão de meses o punk estava virtualmente morto, assimilado, diluído dentro do incestuoso caldeirão da mídia e das gravadoras. Mesmo bandas honestas, até mesmo algumas independentes, abandonavam o esporro punk em nome de sonoridades mais "criativas", letras mais "introspectivas", idéias mais "artísticas". O fato é que na inglaterra de 1977, o punk foi a "sensação do ano", e todos sabem que "sensações do ano" não duram mais do que um ano. Foi fogo de palha, e em 1978 a coisa já tinha meio que ido para o brejo. Eu proponho uma brincadeira divertida. Pegue as principais bandas punks da primeira geração que lançaram pelo menos 2 ou 3 discos. Observe como o segundo ou terceiro disco sempre é mais levinho, tem teclados, letras mais "na manha" e arte mais elaborada. Não é por acaso. Mas não foi para o brejo para todo mundo. Se os grandes nomes abandonaram o barco, a mídia e as gravadoras se desinteressaram, a molecada, que deveria ter sido a dona do punk desde o começo se manteve fiel.

O punk foi abandonado pelo sistema (que para cooptá-lo precisou transformá-lo em new wave), e adotado pelos fanáticos, pelos casca-grossa. Fanático e casca grossa justamente são traduções livres para o termo inglês "hard-core". Logo, tanto na inglaterra quanto nos EUA, novas versões mais extremas do punk começaram a aparecer, contrastando com a new wave, o pós punk e todos os subprodutos diluídos do fenômeno original. Na inglaterra, o Oi! , o anarco-punk e o chamado "punk's not dead" (muitas vezes considerado o hardcore inglês), foram as mais célebres facções dessa agressiva retomada aos fundamentos do punk rock.

Já nos EUA, aparecia (especialmente no sul da California e em Washington D.C.) uma vertente violenta, seca e desagradável, apelidada de hardcore-punk. A música era ultra rápida, cada vez mais despida de "rockismos" (solinhos, ranço hard-rock, etc...), agressiva, distorcida. Uma nova batida de bateria, o 2/2 (apelidado de paco-paco) mega-veloz, enterrava de vez o resquício blues 4/4 do rock and roll. Enfim, eram bandas que pegavam o punk, tiravam dele apenas o que achavam essencial, exageravam essa "essência" e jogavam o resto no lixo. Da mesma forma, o público também era "mais rápido", "mais agressivo", e mais jovem. Se em Nova York a cena punk do final dos anos 70 girava em torno de uma elite de junkies sado-masoquistas de 25, 30 anos leitores de Rimbaud e amigos do Andy Warhol, essa nova cena do sul da California era formada por surfistas/skatistas/gangueiros adolescentes com cabeças raspadas, músculos exercitados pelos esportes radicais, brigas e vandalismo, e um ódio mútuo pela polícia mais violenta dos EUA, o L.A.P.D. (departamento de polícia de Los Angeles). Essa galera vinha principalmente de cidades praianas próximas a L.A., e desse pessoal surgem bandas célebres como Black Flag, Circle Jerks, Adolescents, Redd Kross, China White, Bad Religion, entre outros.

Mas antes mesmo de haver o termo "hardcore", ou uma diferenciação entre os públicos "intelectual maduro" e "adolescente tosco" era fácil de perceber que a California era o berço de algo novo, algo mais agressivo, mais direto e mais intenso (vide a discografia). Muitas das primeiras bandas punks de Los Angeles, como Dils, Germs e o próprio Black Flag eram muito mais podres do que qualquer coisa da época em qualquer lugar do mundo. Certo, a política dos Dils era proveniente do esquerdismo do Clash, mas se o Clash era político "às vezes", os Dils eram Marxistas linha-dura. Da mesma forma, o niilismo dos Germs vinha diretamente do Iggy Pop e do Sid Vicious, mas também era exagerado e embebido numa música anos-luz mais agressiva. Já o Black Flag continha praticamente todos os ingredientes da "receita" hardcore.

Até que por volta de 1980, já havia em L.A. uma clara diferenciação entre a galera punk "da antiga" (que havia começado a cena punk local longínquos 3 anos antes), mais velhos, intelectualizados e cada vez mais interessada em propostas estéticas criativas, e o contingente de moleques brutais de cabeça raspada. Ia embora o pogo estilo inglês (pulos no mesmo lugar), e em seu lugar entrava a chamada Slam Dancing (porradaria, stage dives, rodas, etc...). A violência estética finalmente se transformava em violência física, ainda que de maneira "camarada", entre parceiros. Da mesma forma, o ódio à autoridade que existia nas letras punks se transformava em algo real. Shows do Black Flag eram frequentemente perturbados pela tropa de choque, e não era raro haver helicópteros da polícia sobrevoando os locais (cordões de isolamento e gás lacrimongêneo então eram lugar comum). Ainda na Califórnia, mais ao norte, em São Francisco, uma banda com um nome extremamente chamativo começava a se destacar. Eram os Dead Kennedys, com um punk agressivo como o de L.A., extremamente irônico e politizado, e com idéias musicais das mais variadas (influência de Surf Music, Jazz, Rockabilly, trilhas sonoras de faroeste, etc...). Os shows brutais, o som rápido e violento e a política radical, certamente faziam deles dignos representantes do tal "hardcore-punk".

No outro extremo do país, em Washington D.C., uma banda chamada Bad Brains estava, desde 78/79 fazendo um punk rock totalmente novo, mais rápido e sem regras. Ao contrário da maioria dos punks americanos, os Bad Brains eram negros e até ouvirem discos dos Sex Pistols, Ramones e Damned, tocavam Jazz-Funk. De qualquer maneira, havia uma força sobrenatural unindo-os com seus comparsas californianos, e já em 1979 o som da banda era rápido o suficiente para ser chamado de hardcore até hoje. Em volta dos Bad Brains, surge na cidade uma turma de punks adolescentes que tinham muito a ver com a galera de L.A. de que falávamos acima, com a diferença de serem mais pacíficos e não beberem nem se drogarem. Dessa galera surgem várias bandas, em especial os Teen Idles (veja a parte sobre straight edge e entenda a história da turma de D.C.) e o S.O.A.. Pois em 1980, os Teen Idles vão tocar na Califórnia, assistem os Circle Jerks e os Dead Kennedys, vêem seus primeiros stage dives, fazem amigos e voltam para Washington sentindo-se totalmente identificados com o que rolava em L.A. Junto com a banda foi o amigo nº1 deles, o vocalista do S.O.A., Henry Garfield. Henry, cerca de um ano depois entraria no Black Flag, mudaria seu nome para Henry Rollins e se transformaria em um ícone do hardcore (e, anos depois, rockstar e ator de filmes ruins). Já os Teen Idles acabam no final de 80, se transmutando numa nova banda, o Minor Threat, que rapidamente iria se tornar tão importante quanto as bandas californianas que os inspiraram.



A turma de Washington levou para casa elementos estéticos e musicais da cena californiana, tais como a cabeça raspada e o "slam-dancing", e conforme foram ficando conhecidos, o vírus do hardcore se espalhou pela costa-leste, contaminando em especial lugares como Boston e Nova York. Um episódio interessante foi o show do Black Flag em NY, 1981. Toda turma de Washington foi para lá prestigiar os figurões californianos. No dia seguinte, o célebre crítico Lester Bangs comentava no jornal a presença de uma horda de carecas feios e rudes com um jeito de dançar extremamente agressivo.



De qualquer maneira, em 1980 saem os primeiros LPs dos Dead Kennedys e dos Circle Jerks e em 81 sai Damaged, o clássico do Black Flag e o primeiro EP do Minor Threat. Numa América onde havia apenas focos de infecção (na California e em Washington), surge uma verdadeira inflamação generalizada de bandas rápidas, agressivas, diretas e mal-educadas. O hardcore toma conta da América, e o país têm sua primeira verdadeira explosão punk (já que em 77 os americanos preferiram John Travolta e a disco). Em Chicago (Necros, Effigies), Minneapolis (Husker Du), Texas (D.R.I., Dicks, Big Boys), Boston (SSD, Jerry's Kids, F.U.s), NY (The Mob, Urban Waste, Beastie Boys), Detroit (Negative Approach), Reno (7 Seconds), Seattle (Fartz), Portland (Poison Idea)... de todos os rincões da América emergiam bandas e mais bandas desta que era até então a música mais agressiva, contundente e perturbadora jamais feita pela raça humana, e com essas bandas surge todo um circuito de gravadoras independentes, fanzines, e organizadores de shows que persiste até hoje, livre da nefasta influência corporativa
Algumas bandas
1977-1980 - Califórnia
Pois é amigos, o hardcore não apreceu sozinho, então aqui vou colocar as bandas que na minha opinião contribuiram para seu aparecimento. Desde bandas apenas "punques", mas que tinham em si o embrião do hardcore até as primeiras bandas "100%" hardcore. Tenham paciência que com o tempo eu irei acrescentando tudo. Dils - I Hate The Rich/You´re Not Blank (So Baby We´re Through) EP (1977)
Punk Rock comuna da Califórnia.
Tanto pelo som bastante simples e livre de solos (hmmm, na verdade tem uns solinhos de duas notas, tão simples que nem contam como solos, hehehe), sem imitações do Iggy Pop e sem outros hard rockismos típicos das primeiras bandas punks americanas, quanto pela temática politizada (fugindo um pouco dos temas "boêmios" e do nihilismo adolescente típicos da época), pode-se dizer que os Dils fecundaram o embrião do que viria a ser o hardcore alguns anos depois. Quando a onda era usar camiseta de suástica sem ser nazista só para chocar, os Dils usavam camiseta de foice e martelo, e acreditavam naquilo. Uns 5 anos atrás eu me lembro de ter visto na Maximum Rock N´Roll alguma coisa sobre uma discografia da banda (em CD talvez), mas nunca mais ouvi falar de nada do gênero. Recentemente saiu um CD que não é tão bom quanto seria uma discografia, mas que já é ótimo. Ele se chama "Class War", e contém o compacto acima citado (I Hate The Rich/You're Not Blank) e mais 10 músicas ao vivo, em 1980. Vale a pena.
Curiosidade: a banda aparece no primeiro filme dos comediantes Cheech & Chong, tocando num concurso de bandas. Muito engraçado o filme. Quando eu vi que eram os Dils fiquei muito emocionado... Uma das melhores bandas punks de todos os tempos, ainda que relativamente obscura
Avengers - CD (1977/79)
Grande banda de San Francisco, liderada pela vocalista Penelope Houston. Os Avengers abriram o lendário último show dos Sex Pistols, em S.F., 1978, e depois o guitarrista dos Pistols, Steve Jones produziu o que deveria ser o LP da banda. Eu acho que a gravação nunca chegou a sair oficialmente. De qualquer maneira, o som deles era um punk 77 perfeito, com letras geniais, estética agressiva, e com vocal feminino, o que é sempre uma qualidade. Apesar de serem mais parecidos com bandas inglesas dos anos 70 do que com o hardcore propriamente dito, os Avengers faziam um som mais direto, reto e urgente do que seus pares da época, e isso, junto com sua postura e letras engajadas faz deles um dos precursoras do que viria mais tarde. O material deles é bem difícil de achar, mas recentemente saiu um CD com bastante coisa deles por uma gravadora chamada Lady Butcher. Vale a pena. Se fossem ingleses certamente teriam sido tão importantes quanto Sex Pistols, Clash e Damned.
Germs - CD (1977/1980)
Último show dos Germs, 3/12/80
CD com tudo o que vc precisa ter da primeira banda punk de Los Angeles a fazer sucesso. O que falar sobre os GermsÖ bem, em primeiro lugar a banda é uma lenda que personifica toda a primeira fase do punk Californiano. Em segundo lugar, o som e as letras eram sensacionais (apesar de constar que ao vivo os Germs nunca deram muito certo) O primeiro compacto "Forming / Sex Boy", de 1977, apesar de ser mal gravado e mal tocado, foi um dos primeiros discos punks da Costa Oeste, e deu o que falar. As letras já eram excelentes. O primeiro LP da banda, o clássico "G.I.", de 1979, foi produzido pela rockstar Joan Jett (que na época tocava nas Runaways) e já demonstra uma enorme evolução no som, já um semi-hardcore muito rápido e agressivo para a época. No final de 1980, o vocalista Darby Crash morreu de overdose, se transformando numa espécie de Sid Vicious californiano
Middle Class - Out Of Vogue EP (1978)
Outro EP muito raro, mas muito importante. O Middle Class foi talvez a primeira banda de hardcore do mundo. A primeira banda a tocar aquela batida 2/2 (pelo menos a tocá-la nessa velocidade) que se tornaria a marca registrada do estilo no início da década seguinte. Lançaram outro EP em 1980 também muito bom, mas com um som mais lento e influenciado pelo Pós Punk britânico.
Dead Kennedys - Fresh Fruit For Rotting Vegetables (1980)
O que mais pode ser dito sobre osDead Kennedys? Um dos grandes clássicos punks de todos os tempos. O disco que todo mundo está cansado de conhecer. Ok, se vc não conhece, este é o LP de estréia desta banda singular, que misturava o hardcore punk com surf-music e toques de psicodelia. As letras eram extremamente irônicas e politizadas, criticando o todos os aspectos da política e do estilo de vida norte-americanos. Após 8 anos de estrada, a banda acabou em 1986, já como uma das maiores e mais importantes bandas da história do punk rock. O vocalista Jello Biafra, além de seus vários projetos musicais, fez uma carreira como analista político, com discos, livros e palestras repletos das mais variadas teorias conspiratórias
Black Flag - The First Four Years (1978-81)
Coletânea com (quase) tudo o que o Black Flag fez nos primeiros quatro anos. A outra maior banda da costa oeste (além dos Dead Kennedys).
Tudo começou quando o guitarrista e chefinho, Greg Ginn, bem mais velho que a maioria dos seus contemporâneos punks, por falta do que fazer, resolveu aprender a tocar guitarra, isso lá para 1976. Ele pegou uns LPs do MC5, Black Sabbath, Stooges e Ramones e aprendeu sozinho, desenvolvendo seu estilo único e bizarro de tocar o instrumento, cheio de notas dissonantes, que combinam com as letras pertubadoras.
O Black Flag é considerado por muitos como a primeira banda de hardcore, pois eles se distanciavam desde o começo de todo o estereótipo punk que seguia o modelo inglês e aquela coisa toda. Apesar de que o primeiro EP, "Nervous Breakdown", de 78, é obviamente influenciado pelos Sex Pistols, pelo menos nos vocais do Keith Morris.
Segundo Ginn, por causa desta não associação ao molde (digamos que, enquanto os punks típicos usavam cabelo arrepiado, alfinetes e correntes, o Greg tinha um cabelo tigela e um visual de bancário, camisa social, etc.), a galera punk estilo "Sid Vicious" que seguia os Germs discriminava eles no início. Na verdade o Black Flag foi uma das bandas mais punks de todos os tempos, afinal, tinham cabelo grande quando a moda era cabelo curto, passaram a tocar devagar quando a moda era tocar rápido, fizeram incontáveis turnês desgastantes promovendo o caos pelos Estados Unidos e Europa, e viveram na miséria só tocando e compondo por anos a fio (apesar de que, dizem as más línguas, Ginn pegava a grana toda para ele). Até que chegou uma hora que dormir em vans, passar fome e odiar todo mundo perdeu a graça e a banda acabou, em 1986.
Circle Jerks - Group Sex (1980)
Outro clássico dos clássicos. Keith Morris foi o promeiro vocal do Black Flag,e ao ser expulso da banda por beber e se drogar demais, resolveu formar seu próprio conjunto. Pioneiros do hardcore, os Circle Jerks no início tinham todas as características que definiriam o estilo por gerações e gerações futuras. O início de uma era marcada por baterias rápidas (o chamado "pacopaco"), vocais adolescentes gritados, letras sobre frustração, contra a autoridade e a ordem, sobre não pertencer ao grupo, e por aí vai...Um favorito de qualquer hardcoriano respeitável. Com uma música rapidinha atrás da outra, o disco acaba em uns 15 minutos.
 



Segundo a versão mais difundida, o termo "gótico" deriva de Godos, o povo germânico que habitava a Escandinávia. Porém, em sua obra O Mistério das Catedrais, Fulcanelli nos apresenta uma outra versão. A palavra "gótico" seria uma deformação fonética de Argoth (ou Art Goth), uma linguagem restrita utilizada somente por Iniciados em Ocultismo. Embora historicamente essa versão seja incoerente, é uma visão interessante de um grande alquimista.
Confira o trecho do livro que disserta sobre essa possibilidade:


O Mistério das Catedrais – Cap. III

Alguns pretenderam erradamente que provinha dos Godos, antigo povo da Germania; outros julgaram que se chamava assim a esta forma de arte, cujas originalidade e extrema singularidade provocam escândalo nos séculos XVII e XVIII, por zombaria, atribuindo-lhe o sentido de bárbaro: tal é a opinião da Escola Clássica, imbuída dos princípios decadentes do Renascimento.
A verdade, que sai da boca do povo, no entanto, manteve e conservou a expressão Arte Gótica, apesar dos esforços da Academia para substituí-la por Arte Ogival. Há ai uma razão obscura que deveria obrigar a refletir os nossos lingüistas, sempre à espreita das etimologias. Qual a razão por que tão poucos lexicólogos acertaram? Simplesmente porque a explicação deve ser antes procurada na origem cabalística da palavra, mais do que na sua raiz literal.
Alguns autores perspicazes e menos superficiais, espantados pela semelhança que existe entre gótico e goético pensaram que devia haver uma estreita relação entre a arte gótica e a arte goética ou mágica.
Para nós, arte gótica é apenas uma deformação ortográfica da palavra argótica cuja homofonia é perfeita, de acordo com a lei fonética que rege, em todas as línguas, sem ter em conta a ortografia, a cabala tradicional. A catedral é uma obra de art goth ou de argot. Ora, os dicionários definem o argot como sendo uma linguagem particular a todos os indivíduos que tem interesse em comunicar os seus pensamentos sem serem compreendidos pelos os que o rodeiam. É, pois, uma cabala falada. Os argotiers, os que utilizam essa linguagem, são descendentes herméticos dos argo-nautas, que viajavam no navio Argo, falavam a língua argótica – a nossa língua verde – navegando em direção as margens afortunadas de Colcos para conquistarem o famoso Tosão de Ouro. Ainda hoje se diz de um homem inteligente mas também muito astuto: "ele sabe tudo, entende o argot". Todos os Iniciados se exprimiam em argot, tanto os vagabundos da Corte dos Milagres – com o poeta Villon à cabeça – como os Frimasons ou franco-mações da Idade Média, hospedeiros do bom Deus, que edificaram as obras-primas góticas que hoje admiramos. Eles próprios, estes Nautas construtores, conheciam a rota do Jardim da Hespérides...
Ainda nos nossos dias os humildes, os miseráveis, os desprezados, os insubmissos, ávidos de liberdade e de independência, os proscritos, os errantes e os nômades falam argot, esse dialeto maldito, banido da alta sociedade, dos nobres que o são tão pouco, dos burgueses satisfeitos e bem pensantes, espojados no arminho da sua ignorância e da sua presunção. O argot permanece a linguagem de uma minoria de indivíduos vivendo à margem das leis estabelecidas, das convenções, dos hábitos, do protocolo, aos quais se aplica o epíteto de vadios, ou seja, de videntes e, mais expressivo ainda, de Filhos ou Descendentes do Sol. A arte gótica é, com efeito, a art got ou cot, a arte da Luz ou do Espírito.
Pensar-se-á que são apenas simples jogos de palavras. E nós concordamos de boa vontade. O essencial é que guiem a nossa fé para uma certeza, para a verdade positiva e científica, chave do mistério religioso, e que não a mantenham errante no labirinto caprichoso da imaginação. Aqui em baixo não existe acaso, nem coincidência, nem relação fortuita; tudo está previsto, ordenado, regulado e não nos pertence modificar a nosso bel-prazer a vontade imperscrutável do Destino. Se o sentido usual das palavras nos não permite qualquer descoberta capaz de nos elevar, de nos instruir, de nos aproximar de Criador, o vocabulário torna-se inútil. O verbo, que assegura ao homem a incontestável superioridade, a soberania que ele possui sobre tudo o que vive, perde a sua nobreza, a sua grandeza, a sua beleza e não é mais do que uma aflitiva vaidade. Ora, a língua, instrumento, do espírito, vive por ela própria, embora não seja mais do que o reflexo da Idéia universal. Nada inventamos, nada criamos. Tudo existe em tudo. O nosso microcosmos é apenas uma partícula ínfima, animada, pensante, mais ou menos imperfeita, do macrocosmos. O que nós julgamos descobrir apenas pelo esforço da nossa inteligência existe já em qualquer parte. É a fé que nos faz pressentir o que existe; é a revelação que nos dá a prova absoluta. Muitas vezes passamos ao lado do fenômeno, até mesmo do milagre, sem dar por ele, cegos e surdos. Quantas maravilhas, quantas coisas insuspeitadas descobriríamos se soubéssemos dissecar as palavras, quebrar-lhes a casca e libertar a o espírito, divina luz que eles encerram! Jesus exprimia-se apenas por parábolas; poderemos nos negar a verdade que elas ensinam? E, na conversação corrente, não serão os equívocos, os pouco mais ou menos, os trocadilhos ou assonâncias que caracterizam as pessoas de espírito, felizes por escaparem à tirania da letra e mostrando-se, à sua maneira, cabalistas sem o saberem?
Acrescentemos, por fim, que o argot é uma das forças derivadas da Língua dos Pássaros, mãe e decana de todas as outras, a língua dos filósofos e dos diplomatas. É o conhecimento dela que Jesus revela aos seus apóstolos, enviando-lhes o seu espírito, o Espírito Santo.
É ela que ensina o mistério das coisas e desvenda as verdades mais recônditas. Os antigos Incas chamavam-na Língua da Corte porque era familiar aos diplomatas, a quem fornecia a chave de uma dupla ciência: a ciência sagrada e a ciência profana. Na Idade Média, qualificavam-na antes da edificação da torre de Babel, causa da perversão e, para a maioria, do esquecimento total desse idioma sagrado. Hoje, fora do argot, encontramos as suas características nalgumas línguas locais como o picardo, o provençal, etc. e no dialeto dos ciganos.
A mitologia pretende que o célebre adivinho Tirésias tenha possuído perfeito conhecimento da Língua dos Pássaros, que Minerva lhe teria ensinado, como deusa da Sabedoria. Ele partilhava-a, diz-se, com Tales de Mileto, Melampus e Apolônio de Tiana, personagens fictícios cujos nomes falam eloqüentemente na ciência que nos ocupa e bastante claramente para que tenhamos necessidade de os analisar nestas páginas.
Gótico
"É que cada um tem uma idéia própria , geralmente deturpada, da Idade Média. Só nós monges daquela época sabemos a verdade, mas, ao dizê-la podemos ser queimados vivos." - Umberto Eco
        O Gótico não é apenas uma opção de estética e sim uma mistura entre surrealismo, romantismo e estilo medieval. O Estilo Gótico tem origem nos Tempos Medievais, séculos XIII e XIV, ligado principalmente a arquitetura como catedrais e igrejas. O aparecimento do verdadeiro Estilo Gótico vem alguns anos a frente, onde a Época Medieval já era considerada um período bárbaro e obscuro, os bárbaros que lá viviam eram chamados de genos, portanto Gótico significa Bárbaros por excelência, causando assim um profundo desprezo.
        O gótico, portanto é aquele que cultiva a depressão, utiliza a música, a arte e a literatura para expressar suas decepções tanto amorosas quanto da vida, sua opinião sobre o mundo e sobre as coisas no qual ninguém se importa, ou ainda para criticar aquilo que tanto o incomoda.
        A literatura Gótica faz uma grande distinção entre o BEM e o MAL, onde Satã possue um grande papel. São muito citados nos textos góticos a noite, o pessimismo, a loucura, os sonhos, as sombras, as quedas, o medo, a decomposição, a atração pelo abismo, sem se esquecer da principal: a MORTE e a VIDA.
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Góticos: opções estésticas e definições
     Em primeiro lugar vamos as definições começando pelo sentido etimológico e histórico da palavra.
     O termo gótico têm sua origem ligado a um estilo de arte medieval presente entre os séculos XIII e XIV que sucedeu ao estilo românico (séculos XI e XII) fazendo-lhe oposição. Sua presença é marcante no que se refere principalmente a arquitetura, sendo famosas as catedrais que seguiram o seu padrão arquitetural como Notre-Dame de Paris, Chartres e Reims.
     O aparecimento do termo gótico entretanto encontra-se alguns anos a frente dessas construções medievais. Durantes os séculos em que foi moderna, a arte ótica era conhecida sob o nome de opus francigenarum, o que significa obra francesa e indica bem a sua principal origem. Entretanto nos séculos XV e XVI com a renascença e o entusiasmo pela antiguidade clássica, passou-se a considerar a Idade Média como uma época bárbara e obscura. Como os godos eram os bárbaros mais conhecidos, o estilo passou a se chamar gótico, ou seja, bárbaro por excelência, alcançando um sentido pejorativo e de profundo desprezo.
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O Romantismo e o resgate da estética medieval:
     "É que cada um tem uma idéia própria, geralmente deturpada, da Idade Média. Só nós monges daquela época sabemos a verdade, mas, ao dizê-la podemos ser queimados vivos."
     O movimento romântico que se fez presente no século XIX procurará romper com os valores do classismo que assim como o renascimento exaltava os valores estéticos da antiguidade clássica e o racionalismo. Ao afrontar esses padrões o romantismo faz uma espécie de reabilitação da Idade Média e do seu imaginário. Muitas obras românticas como por exemplo Notre-Dame de Paris de Vitor Hugo têm como cenário a Idade Média. Entretanto a visão dos românticos era extremamente idealizada.
     São ainda os românticos os responsáveis pelo surgimento do "gothic novel" ou "romam noir", normalmente ambientados em castelos sombrios e ambientes tenebrosos. O castelo de Otranto lançado em 1764 por Walpole é um celebre exemplo disso. A Gothic Novel utiliza o passado como cenografia, pretexto para a construção fabulística, para dar livre curso a imaginação. Walpole pode ser cosiderado o criador e precursor do "gothic novel", seu romance foi inovador rompendo com os padrões literários então vigentes, criando uma atmosfera repleta de personagens inverossímeis, terrores sobrenaturais e castelos arruinados. O estilo fez um tremendo sucesso, sendo copiado por vários autores, indo muito além do romantismo nas formas do conto fantástico, conto de terror e até a ficção científica.
     O verme romântico nasce ainda sob os trajes do herético do anjo caído, é o "maldito" por excelência, e isso não podemos perder de vista. Sob esta ótica o romantismo é ainda a reabilitação do mal, onde o mal se transforma em discurso noir, discurso de desconstrução moral que se perpetuará no século XX através do Dadaísmo e do Surrealismo.
     É no romantismo literário que se torna mais aparente e mais facilmente acessível para nós esse esforço sincrético para reintegrar no Bem o Mal e as trevas, herdando toda a dramatização da literatura bíblica e da iconografia medieval. Satã faz sua entrada triunfal como o Mefistófeles de Goethe, sendo o herói byroniano do Mistério de Caim. Faz-se a celebração da noite obscura, que passa a ser o lugar previlegiado da celebração dionisíaca tão presente na obra de Novalis ( Hinos à Noite). Acompanhando o resgate dos valores noturnos temos o pessimismo, a loucura, os sonhos, as sombras, a decomposição,a queda, a atração pelo abismo, a morte e a urgência pela vida.
     Esta inversão de valores é facilmente reconhecida nas obras de Vitor Hugo como Le Fin de Satan e a já citada Notre-Dame de Paris, onde a maldade e a feiúra tornam-se em ideal.
     O herói romântico traduz-se nas figuras do dândi e do libertino, imortalizados em vida e obra por Wilde, Byron e Sade.
     O romantismo abre espaço para o terror diabólico e ancestral nas obras de Poe, Le Fanu e Bram Stocker, surgindo da obra destes dois últimos a figura nefasta do vampiro, o amante imortal.
     No dark side do romantismo portanto, encontramos praticamente todos os elementos estéticos que tanto deliciam os góticos até os dias de hoje... Além da sua origem através do gothic novel.
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Amor aos vermes
     Claro que não é apenas no romantismo que os atuais góticos se nutrem, mas é na escola de morrer cedo que encontramos as suas referências mais preciosas, além da origem da atual acepção do termo. Todos os vermes na verdade tem a sua contribuição a dar, seja um Bosch entre a Idade Média e a renascença, um Byron romântico, um Dali surrealista, a degenerescência de um Fritz Lang, ou o cinismo caústico de um Wilde, pois onde quer que surja uma sociedade ordenada e racional, lá surgirá o verme delirante, receba ele o nome que for. E talvez seja este o princípio estético dos góticos, o amor aos vermes, não importa a linguagem
ou escola artística.
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Arquitetura e Escultura Cemiterial

     Apesar da aparência muitas vezes triste, os cemitérios, principalmente os mais antigos podem guardar ricas surpresas para quem se dispõe a procurar. Alguns constituem verdadeiras galerias de arte a céu aberto sendo até mesmo possível  encontrarmos peças e esculturas de artistas famosos. Em países como a França e Argentina alguns cemitérios são até mesmo pontos turísticos que atraem viajantes do mundo inteiro como por exemplo os Cemitérios de Pére Lachaise (Paris) e da Recoleta (Buenos Aires).
     Eles são concorridos pontos turísticos por terem entre seus moradores eternos figuras famosas que fizeram história nas artes ou na política. Mas com certeza a beleza da arte tumulária presente nestes cemitérios contribui e muita para a sua fama.
     No Brasil também encontramos exemplo magníficos de arte tumulária principlamente nos cemitérios de São Paulo como Consolação, Araçá, Paulista e Morumbi. Também existem importantes acervos de arte tumulária no Rio de Janeiro, na Bahia e em Recife. Entretanto ao contrário do que ocorre em outros países são poucos os que percorrem os cemitérios brasileiros para visitação de túmulos ilustres (com exceção do dia de finados) ou que saibam apreciar as obras de arte que estes cemitérios muitas vezes escondem. Muitos dos jazigos presentes nestes cemitérios foram feitos por artistas europeus e com materiais muitas vezes importados, tudo com o objetivo de enaltecer o nome das famílias abastadas. Em cemitérios como o da Consolação em São Paulo é possível encontrar obras de artistas consagrados como Brecheret e Luigi Brizzolara ao lado de outros não tão conhecidos como Eugênio Pratti e Ramando Zago. Muitos artistas italianos de renome deixaram um enorme acervo de peças espalhadas pelos cemitérios brasileiros, principalmente em São Paulo, e muitas destas peças só agora estão sendo identificadas. Para se ter uma idéia, somente no cemitério do Araçá existem cerca de 80 peças catalogadas, de notório valor artístico.
     O caráter individualizador do nome da família é uma das preocupações do imigrante europeu no Brasil, a partir da segunda metade do século XIX. Os cemitérios de Vila-Verde, Municipal de Curitiba, do Araçá e do Braz de São Paulo formam conjuntos de capelas jazigos familiares, recriando aquela atmosférica doméstica dos bairros tradicionais dos imigrantes. A comunidade representa-se, então , no todo do divisionismo e nos hábitos das famílias usuárias, que tratam de suas capelas como se fossem prolongamentos de suas próprias casas, levando para os jazigos os mesmos arranjos decorativos que o seu nível cultural lhes permite refletir. A preocupação do colono europeu na área de enriquecimento imediato era muito tendente a individualizar seu nome, através da exibição de sinais de abastança. O caráter monumental da última morada era para muitos fruto de uma ansiedade de se auto-afirmar socialmente.
     No estudo dos cemitérios brasileiros os estilos se sucedem como nas necrópoles européias, porém com datas defasadas e submetidos às razões da disponibilidade dos materiais locais. Há uma certa diferença entre os objetos produzidos no percurso da belle époque e os que surgiram logo após, de um estilo diferenciado, denominado art noveau. Nas principais metrópoles européias o início da art noveau tem data certa em 1890. O seu surgimento elege a máquina como instrumento de pluralização de produção artística, capacitada para atender o consumo da decoração doméstica, trajes, e objetos de uso cotidiano até o nível da pequena burguesia urbana. Os meios de lavor artístico adquirem soluções mecânicas com instrumental elétrico de muito maior rentabilidade de tempo e produção. Brocas serras e polidores elétricos, novos métodos de fundição e metalurgia possibilitam a reprodução de protótipos de objetos de criação artística, ao nível industrial.
     Em relação a arte cemiterial, tais possibilidades determinam, em todos os centros urbanos de expressão e riqueza, novas e reconhecíveis características. Até então as construções cemiteriais se valiam do trabalho artesanal e da eventualidade artística. Com o trabalho industrial mecanizado, as fundições passaram a fornecer gradis e portões, cercaduras de ornatos, frisos, cruzes e alegorias pré-moldadas, vigas metálicas, colunatas de estruturas , etc. A estatuária náo era mais trabalho do escultor, neste caso entendido como o artista criador do objeto modelado. Estatuário na linguagem do século passado, corresponde ao artesão habilitado a reproduzir em pedra os protótipos encomendados, mediante pantógrafo, brocas elétricas e produção em série.
     O traço que distingue a passagem da arte tumulária neoclassista para a da belle époque corresponde, em primeiro lugar à diminuição, e mesmo esvaziamento da simbologia escatológica tradicional. Estas eram freqüentes, quase obrigatórias na fabricação dos marmoristas de Lisboa, tanto na representação do objeto principal como na distribuição dos elementos alegóricos. A belle epoque se despe da excessiva carga escatológica e se realiza como uma nova espiritualidade lírica, procurando impregnar, até as próprias alegorias, com uma aparência de profundo realismo, de verismo. Por isso logo transforma a figura alada e assexuada dos anjos da estatuária classista, em novos personagens, em anjos de procissão que parecem existir em nosso cotidiano. Os anjos da belle époque ganham sexo, expressam a idade, brincam como crianças, refletem juventude, mas também sabem assumir quando querem traduzir desolação, as atitudes mais teatrais e melodramáticas.
     O romantismo das figuras da belle époque embora tenha uma apresentação realística não pode ser identificado com os sinais eróticos que se manifestariam depois na arte tumulária. São igualmente freqüentes na arte tumulária da belle époque sinais de referência e de simbolização de fortuna, do prestígio e da ropriedade. A presença de alegorias pagãs, como o símbolo do deus Mércurio (ou Hermes, do Comércio), além de outras figuras mitológicas como ninfas também é constante. A belle époque também não foi insensível ao enaltecimento dos produtos industrializados substituindo o bronze pelo ferro em muitas das esculturas.
   O final do século XIX e princípio do século XX foi extremamente rico para a arte cemiterial brasileira por reunir ao mesmo tempo famílias com recursos financeiros e disposição para construir túmulos suntuosos e artistas de grande talento que aqui aportaram, principalmente italianos. São desse período muitas das peças produzidas por Brecheret, de caráter modernista, além de outras peças que denotam sensualidade e monumentalidade, como a dos artistas Emendabili, Oliani e Nicola Muniz. Todos apresentando uma riqueza de detalhes e leveza surpreendentes. A presença de nus na arte cemiterial é uma grande inovação deste período.
     Nos cemitérios brasileiros não é tão fácil distinguir-se essa sucessão cronológica dos estilos, comparecendo a belle époque e art noveau muitas vezes como mercadorias importadas, imitadas, dispostas e acumuladas ao longo das quadras. Devido a disposição muitas vezes atrofiada de alguns cemitérios até mesmo observar as peças torna-se muitas vezes um grande sacrifício. Outro fator de prejuízo é sem dúvida a má conservação de muitas das necrópoles brasileiras, algumas centenárias e em estado de total abandono. Numa perda irreparável de um belo patrimônio artístico nacional. Hoje em dia, com o surgimento dos chamados cemitérios-jardim a arte da escultura cemiterial praticamente está extinta. Outro fator que leva a presença cada vez mais escassa de túmulos monumentais, é o alto custo dos materiais como o mármore, ferro e bronze, além da quase inexistência de artistas que se dediquem a este tipo de trabalho. Resta-nos portanto lutar para preservar esta verdadeiras obras de arte que ainda subsistem espalhadas pelos cemitérios brasileiros, começando por reconhecer o seu inestimável valor estético.
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Origem dos Cemitérios no Século XVII
"Esta a morte perfeita, nem lembranças, nem saudade, nem o nome sequer. Nem isso..." - Lygia Telles (Venha ver o pôr-do-sol)

     Aconteceu no mundo inteiro, um fenômeno curioso no final do século XVII. Por medida sanitária os sepultamentos passam a realizar-se em área aberta, nos chamados campos-santos ou cemitérios secularizados.
     Isto já não era novidade: japoneses, chineses, judeus e outros povos já traziam tradicionalizada a inumação a céu aberto. Os protestantes também, em muitos países o faziam. A mudança afetou principalmente os povos de predominância católica. No Brasil, o enterro fora da Igreja era reservado aos acatólicos, protestantes, judeus, muçulmanos, escravos e condenados, até que por lei, inspirada na correlação que se fez entre a transmissão de doenças através dos miasmas concentrados nas naves e criptas, se instalaram os campos de sepultamento ensolarados.
     Um outro motivo, que embora não diga respeito a realidade brasileira merece ser citado, diz respeito a laicização do Estado e sua separação da Igreja. Um exemplo digno de nota é o caso do Pére Lachaise de Paris (descrito melhor logo a seguir), que apesar de receber o nome de um padre católico, abriga tanto pessoas de várias religiões quanto não-religiosos, sendo um dos dos primeiros cemitérios laicos e também um dos mais famosos do mundo.
     A urbanização acelerada e o crescimento das cidades é também uma importante razão para a criação dos cemitérios coletivos a céu aberto, visto que o crescimento populacional desenfreado não permitia mais o sepultamento em capelas e igrejas, que já não comportavam o aumento da demanda.
     Numa primeira impressão o fato parece ter explicação simples, mas quando se atenta para o resultado ocorrido, sobre mais de um século, estudando-se o fantástico derrame de fortunas nas construções tumulárias pomposas, dos abastados de cada cidade, quando se verifica a diferença de comportamento entre a sepultura de igreja e a de construção livre arbitrada pela fantasia do usuário, e também quando se considera a história social e cultural do mesmo período, então se percebem outras razões no fenômeno. Não foi somente uma questão do ponto de vista higiênico, ou seja, uma razão metade prática e metade científica (e também política e social), da sociedade oitocentista. Se esta mudança acontecesse apenas por esse motivo, os cemitérios católicos em descampados teriam permanecido sóbrios e padronizados do mesmo modo que os erigidos por irmandades em mausoléus coletivos, ou como os de outras religiões.
     A simplicidade dos padrões tradicionais e primitivos continuou caracterizando a sepultura coletiva enquanto o fausto e a arrogância da tumulária individual se desenvolveu espantosamente.
     Portanto a verdadeira razão da grande mudança de atitude e gosto já existia há longos tempos no anseio de monumentalizar-se perante a comunidade. Era e sempre foi o desejo dos mais abastados, distinguir-se através de uma marca perene, de um objeto de consagração - o túmulo - pela atração de compara-se aos grandes personagens da história, sem a menor cerimônia, incluindo nesta leva os soberanos, os faraós, os reis, os papas e os príncipes, que mereceram sepulcros diferenciados dos demais.
    Há de fato túmulos monumentais de papas de acordo com a pompa de cada época, contudo sempre integrados à construção da igreja. Há papas que não restaram por virtudes, e sim pela eventualidade do valor artístico, ou monumental de seus túmulos. De qualquer modo, erigia-se a igreja como bem público, integrada ao uso coletivo, e nela se fazia a sepultura do seu doador e benfeitor.
     Entretanto em muitas igrejas, originalmente levantadas para serem o jazigo do doador, este descansa sob uma lápide que nem perturba o nível do chão. A arte tumulária varia com a data, acompanha cada estilo de época, e de região, e jamais sonega o caráter, a espiritualidade do meio em que ocorre. Sob tal prisma, isto é, tomando-se a arte tumulária como representativa desses atributos, podemos entender as estruturas sociais e culturais dos meios, mesmo quando tal se acha restrita a uma parcela da população. Aliás, tal restrição, relaciona-se diretamente com o tipo de economia da sociedade, estando deste modo a arte cemiterial condicionada a fatores de caráter sociológico, econômico e cultural.
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Pére Lachaise de Paris
     O grande cemitério de Pére Lachaise de Paris, fundado em 1804, precede em meio século os sepultamentos em cemitérios abertos decorrentes das leis e dos motivos sanitaristas, conforme ocorreu no Brasil.
O Pére Lachaise, que era um bosque, continuou a sê-lo e jamais perdeu o predomínio paisagístico. Suas sepulturas celebrizadas pelos nomes dos sepultados, vão desde a estela simples até a estatuária monumental e as capelas jazigo de enorme riqueza. Todavia, o distanciamento entre uma e outra, a topografia em aclive, as veredas até o fim da vista e os caminhos curvos arborizados permitem um percurso e uma compreensão de todas as datas, desde os túmulos góticos transladados até o da escultura expressionista de nossos tempos.
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Arquitetura Gótica
"Idade média, és a minha escura subjacência." - Clarice Lispector

     A maioria das pessoas quando houve a palavra "gótico", lembra logo das grandes e célebres catedrais medievais como Chartres, Reims e Notre-Dame de Paris. Mas será que isso teria alguma coisa a ver com as bandas européias de Gothic Rock como Siouxsie & The Banshees, Sisters of Mercy ou Bauhaus? Ao citarmos esta última em particular aí é que a coisa complica, afinal Bauhaus não era também uma escola de arquitetura criada em 1919 e fechada depois pelos nazistas?
     Para encontrar respostas a estas perguntas vamos por partes:
     Como já discutimos em outro tópico sobre a origem do termo gótico, existe sim uma relação com a arte gótica da Idade Média, mas filtrada pela reconstituição cultural que os românticos fizeram incorporando elementos da arte medieval em suas obras, como forma de contestar o classismo e seu apego a antiguidade clássica e ao racionalismo. No romântismo ao contrário havia um retorno idealizado em relação ao místico e ao imaginário medievais (elementos presentes também na arte barroca). E não há ícone melhor da Idade Média que a catedral gótica.
     Neste sentido duas obras românticas são fundamentais: Notre-Dame de Paris de Vitor Hugo, e o Castelo de Otranto de Walpole.
     Na obra de Vitor Hugo, a catedral torna-se o centro de toda a ação. O autor busca no passado histórico o rompimento com a estética clássica, elegendo o feio seu ideal de beleza, fazendo do disforme Quasímodo, o herói da história. Hugo considera ainda em seu romance a arte gótica como a verdadeira arte popular. Quanto a Walpole, é curioso notar que a idéia do romance se originou de um sonho e que posteriormente levou Walpole a construir um castelo gótico, o que acabou se tornando comum a época, em que vários dândis torraram fortunas na construção de castelos góticos medievais em pleno século XVIII.
     O castelo medieval era ainda o cenário privilegiado do roman noir, com seus calabouços, masmorras, fossos, imensas salas, corredores sombrios e passagens secretas. É no castelo, em noites de tempestades e lua cheia que se dá o clímax das gothic novels, como ficou conhecido o gênero.
     São resgatadas do cenário medieval personagens do imaginário cristão e popular, como o vampiro e porque não, Satã.
     O Drácula de Bran Stocker não é nada mais que o lendário conde Vlad Teps da Transilvânia que segundo consta teria vivido no século XVI, e que tanto deliciou a imaginação dos românticos do século XIX.
     Quanto a Satã, Goethe traduziu-o na figura de Mefistófeles, uma das personagens mais marcantes da literatura mundial. Todos os elementos estéticos, muitas vezes grotescos, que se encontram no roman noir ou gothic novel, tem no castelo e na catedral góticos a sua melhor inspiração e representação. E não é nenhum mistério que daí tenha saído a inspiração para 09 entre 10 bandas de Gothic Rock.
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Cinema Gótico
"Quando me perguntam de onde vem minhas idéias, respondo que se originam de meus próprios pesadelos, mesmo quando não estou dormindo.
Temos medo de tudo: do desconhecido, do abismo, da noite, das tempestades, da selva e dos desertos. Na hora de escrever, basta pensar que aquilo
que me assusta provavelmente também assusta os outros. Em algum lugar dentro de nós existe uma chave que acende o medo; é aí onde se instala o
conto de terror, quando está bem escrito, pois o homem sente mais atração por monstros e dragões do que por heróis. Como é impossível estar sempre lutando contra nossos próprios demônios e males, de vez em quando sentimos necessidade de levá-los para passear." - Stephen King.
     A sétima arte está repleta de obras-primas do gênero terror-suspense, filmes que de uma forma ou de outra expressam e exibem a face obscura e irracional da imaginação humana.
     O porquê nos sentimos atraídos e fascinados pelo horror até hoje é um mistério. Os filmes de terror nasceram praticamente junto com a cinematografia. O primeiro filme do gênero surgiu em 1896 e chamava-se Escamotage d'Une Dame Chez Robert Houdin, e em 1912 veio A conquista do pólo no qual um expedicionário era devorado pelo abominável homem das neves. Passando por clássicos como O gabinete do Dr. Caligari de Weine e Nosferatu de Murnau, até o sádico Freddy Krueger nos anos 80, o gênero é um dos mais prolíficos já inventados.
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Literatura Gótica
     Quem pensa que a lista de autores cultados pelos góticos se resume a trilogia Poe-Baudelaire-Byron, está profundamente enganado. No terreno da literatura as influências são as mais variadas possíveis englobando românticos, surrealistas, beatnicks, expressionistas, modernistas, dadaístas e coisas que vão além da nossa imaginação.
     Tudo começou com sir Horace Walpole e seu livro O castelo de Otranto lançado em 1764. Este livro discordava radicalmente dos padrões então vigentes. Sua atmosfera estava repleta de fantasmas, passagens secretas, terrores sobrenaturais e inverossímeis. Estava assim inaugurado o roman noir. O roman noir ou gothic novel, surgido durante o romantismo é mais uma atmosfera literária do que um estilo ou escola propriamente dita. Eis o porque deste gênero espalhar-se por outros estilos literários além do romantismo, rompendo todas as fronteiras da literatura. O conto de terror, o conto fantástico e a ficção científica podem ser considerados seus herdeiros diretos, garantindo ao gênero gótico uma extrema vitalidade até os dias de hoje. Aqui estão portanto citadas as pincipais obras da literatura gótica, romântica,fantástica e de terror. Esta pequena seleção bibliográfica está aberta a sugestões e inclusões. Alguns livros trazem resenha, para vê-la basta clicar sobre o título. É possível igualmente ver a biografia de alguns autores, bastando clicar sobre os nomes. Também fiz questão de incluir autores nacionais que de alguma forma se afinam ou sofrem influência da estética gótica.
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Aldous Huxley, "Admirável Mundo Novo"
Apuleio, "O burro de ouro"
Álvarez de Azevedo, "Noite na Taverna", "Macario"
Ann Radcliffe, "Os castelos de Athlin e Dunbayne", "O italiano", "O confessionários dos penitentes negros"
Anne Ricce, "Entrevista com o vampiro"
Anthony Burgess, "Laranja mecânica"
Arthur conan Doyle, "Um estudo em vermelho" e "O cão dos Baskerville"
Arthur Rimbaud, "Uma temporada no inferno"
Augusto Carvalho Rodriguez dos Anjos, "Eu"
Bram Stoker, "Drácula"
Bryon, "Poesias", "Horas de Ócio", "Don Juan"
Cecília Meireles, "Cânticos", "Crônicas de Viagem" e "Espectros"
Chamisso, Hoffmann, Gogol, Andersen, "Contos dos homens sem sombra" (Coletânia)
Charles Baudelaire, "Flores do mal", "Paraísos Artificiais"
Charles Dickens, "David Copperfield", "O abismo"
Charles Maturin, "Melmoth. O viandante"
Charles Nodier, "Smarra; ou, Os demônios da noite"
Clarice Lispector, "A paixão segundo G.H.", "Perto docoração selvagem", "Laços de família", e todos os outros
Daniel Defoe, "Contos de Fantasmas", "Um diário do ano da peste"
Dante Allighiere, "A divina comédia"
Diderot, "A religiosa"
Donna Tart, "A histó secreta"
Edgar Allan Poe, "O corvo" (poema), "Histórias Extraordinárias"
Emily Bronte, "O morro dos ventos uivantes"
Ernst Theodor Amadeus Hoffmann, "Contos fantásticos", "O pequeno Zacarias chamado Cinábrio", "Contos sinistros", "Irmã Mônica"
Eurípedes, "Medéia"
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Música Gótica

Gothic Music: O lado obscuro do pós-punk.
     No final dos anos 70 e início dos anos 80, a raiva e a agressividde que incendiavam o movimento punk começam a ceder lugar a uma profunda depressão e um sentimento de insatisação de um lado e falta de perspectiva do outro. Na Inglaterra, Margareth Tatcher assume o poder, triplica-se o desemprego e aumenta a inflação. Este é o cenário triste da chamada década perdida.
     Nas paradas musicais domina a pose, o glamour do pop inglês e da dance music com seus artistas poseurs e cintilantes.
     Entretanto algo estava para acontecer em uma cidadezinha chamada Manchester, onde havia muita gente morando em subúrbios cinzentos recusando-se a enterrar o legado punk, e achando que aquele pop poseur tinha muito pouco a ver com a vida real na Inglaterra.
     E é na mesma Manchester que surge o porta voz ideal destes angustiados de quarto, na figura de Ian Curtis, um dos primeiros a transformar toda essa melancolia e desilusão em música, através da sua banda Joy Division, que apesar da curta duração devido ao suicídio de Ian, seu vocalista, deixou como legado o rock mais melancólico e desesperado já feito. Sendo uma das bandas mais representativas do movimento pós-punk, como ficou conhecido este substilo musical do rock, que apresentava elementos musicais do punk mas com uma dose de melancolia mais acentuada. E é dentro do pós-punk que encontramos as mais representativas bandas do chamado estilo gótico, que no Brasil também foi chamado de dark, devido a preferência por roupas pretas de seus adeptos.
     É nos anos 80 que a morte será o tema mais recorrente nas canções pop, sendo igualmente comuns temas como melancolia, desespero, abandono, decepções amorosas e falta de perspectivas. Estes temas estarão presentes nas músicas de um certo grupo suburbano de Crowley, Sussex, Inglaterra; chamado The Cure, cujo vocalista Robert Smith com seu jeito soluçante de cantar, cabelos desgrenhados e olhos pintados de preto, fez a alegria dos cultuadores de "deprê" em canções como One hundred years, The hanging garden e Siamese Twins, atingindo seu climax "noir" no disco Pornography de 1982.
     Entretanto a cristalização do gótico em quanto gênero esteve a cargo de um quarteto de Northampton (Inglaterra), que em seu primeiro single desfia loas a um tal Bela Lugosi, famoso vampiro dos anos 30, e cujo vocalista Peter Murphy delirava pesadelos com sua voz soturna sob um baixo pesadão e efeitos macabros de guitarra; falando de temas como morte, vampiros, morcegos e rituais pagãos.

     A voz igualmente soturna de Andrew Aldritch foi o selo definitivo de movimento gótico, sendo seu grupo, The Sister of Mercy considerado, com toda razão, o maior representante do gênero. Não se pode também esquecer as musas, pra ser mais exato duas musas, madrinhas, divas e rainhas máximas do gótico: Siouxsie Sioux e Anja Howe.
     Comecemos por Siouxsie Sioux, a Bruxa madrinha de uma geração de cabelos arrepiantes, com seu estilo misto de diva dos anos 20 e de prostituta nos seus belos olhos extremamente maquiados. Siouxsie e seus banshees eram majestades únicas do reinado gótico. Guitarras distorcidas, batida tribal, harmonias fluidas e climas mórbidos se traduziam em pérolas como A Kiss in the Dreamhouse, Kaleidoscope e Nocturne. Siouxsie também foi uma das primeiras cantoras a liderar uma banda mais pesada. Nascidos no movimento punk, Siouxsie & The Banshees souberam fazer a perfeita transição para o gótico, sendo um dos precursores do estilo.
     Quanto a sua majestade loira, Anja Howe, a vocalista da banda underground alemã X-Mal Deutschland, pode ser considerada pioneira do estilo gótico na terra de Goethe. Com sua voz inconfundível cheia de alalaôs e anomatopéias, acompanhada de guitarras e baixo linha serra elétrica. Eram também comuns na banda, o uso de recursos eletrônicos, criando sons viajantes que mesclados ao vocal sedutor, criavam texturas delirantes num perfeito clímax lírico-depressivo; levando os mortos vivos à loucura através de obras primas como Incubus Succubus, Tocsin e a maravilhosa Matador.

     Seria ainda uma grande injustiça deixar de citar outras bandas igualmente seminais do estilo Gothic e do Darkwave como Clan of Xymox, The Mission, Opera Multi Steel, Poesie Noire, Cult, Switchblade Symphony, Love is Colder than Death... Bem são tantas que fica até difícil citar todas, em mais uma prova do quanto o estilo é prolífico.
     No finalzinho da segunda metade da década de 1980, porém, o clima começa a tornar-se inóspito para morcegões e afiliados, e o estilo gótico começa a entrar em decadência, significando o fim de muitos grupos que consagraram o gênero, deixando orfãos e famintos de sangue muitos nosferatus, e fazendo as noites enevoadas de Londres (e porque não as noites garoentas de São Paulo) perder muito de seu charme.
 
Degeneração da degeneração:
     No finalzinho dos anos 90 e começo de 2000, surgem bandas de heavy metal que vêem no rock gótico matéria-prima para uma reciclagem e renovação do estilo. Os adeptos do new-metal como o Cradle of Filth (que se denomina black gothic romantic metal), ou do sub gênero Doom tornam a fazer uma parte dos góticos sorrirem de felicidade, e outra parte virar a cara de desprezo.
     Resta saber quem tem razão, pois só o tempo dirá, se este renascimento do gótico (se é que ele chegou mesmo a morrer), representará a sua volta e consagração, ou se eregirá o seu definitivo epitáfio... ou talvez nenhuma das alternativas anteriores. Contudo uma coisa é certa. Bela Lugosi's still waiting...
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Pintura Gótica
"Beleza é terror. O que chamamos de belo nos faz tremer. A beleza é áspera e se parece com um extermínio. Ainda assim, é tudo que se quer." - Donna Tartt (A história Secreta)
"O horrível é belo, o belo é horrível." - Shakespeare (Macbeth)
     No campo da pintura a influência da arte medieval especialmente do estilo românico e gótico (ao contrário do que foi dito em relação à arquitetura) praticamente não se faz sentir.
     A presença da figura humana extremamente estilizada, o plano bidimensional que caracteriza o estilo, tem muito pouco a ver com os elementos iconográficos reverenciados atualmente pela tribo dark ou gótica. A exceção talvez fique por conta das obras de Giotto, sendo este pintor um dos precursores do rompimento com a tradição bizantina; ao dar um tratamento tridimensional às suas obras.
     Quanto aos elementos simbólicos da arte medieval, de imaginário fortemente místico, este sim traria alguma influência, principalmente no que se refere ao rico bestiário medieval, ilustrado em especial nas iluminuras que costumavam ornar livros e manuscritos da época e também nos elementos decorativos de palácios e igrejas.
     A arte renascentista ao contrário traz uma grande contribuição, presente principalmente nas obras de Hieronymus Bosch, Pieter Bruegel e Dürer. Artistas de apurada técnica e imaginação fértil. O flamengo Bosch demonstra isto muito bem, em sua obra: O jardim das delícias, no triplo painel onde representam-se o paraíso terrestre, o paraíso celestial e o inferno. Uma obra complexa povoada de pequenas figuras e criaturas imaginárias. Bosch seria na concepção de muitos estudiosos da arte, um surrealista antecipado.
     Igualmente há influência estética na Arte Barroca que combinava movimentos energéticos, cores intensas e detalhes decorativos com expressiva originalidade e liberdade. O imaginário barroco é extremamente poderoso, expresso em; gestos, fundos sombreados e uso dramático da luz e sombra. As obras apresentam muitas vezes um caráter sombrio, pungente e dramático.
     Destaca-se neste estilo artistas como Caravaggio, que em suas obras (principalmente as iniciais) celebrou personagens mundanas e sexualmente ambíguas, além de representar figuras religiosas como simples mortais. Um escândalo para a época.
     Outro destaque vai para Jan Vermeer, que possuia uma refinada técnica em trabalhar efeitos de luz e figuras geométricas em seus quadros, como o célebre A rendeira; que tanto excitou a imaginação tresloucada de Dali. Não se pode ainda esquecer um mestre como Rembrandt, que sabia como nenhum outro combinar dramáticos efeitos de luz com sutis efeitos ilusórios, num quase abstracionismo.
     Apesar de todos estes estilos e artistas da pintura terem influenciado na estética dos darks ou góticos, nenhuma desses escolas se compara em importância ao Expressionismo, Surrealismo e Modernismo, todas as artes contestadoras e revolucionárias.
    Comecemos pelo Expressionismo, a arte do instinto, com sua pintura dramática e subjetiva. É um estilo explosivo, errático, que se fez presente também na literatura, no teatro, na dança e no cinema.
     Edvard Munch e Van Gogh podem ser considerados artístas ícones do Expresssionismo.
     Van Gogh é um artista fundamental do gênero, sua obra apresenta uma explosão de cores intensas e puras, e a presença de formas sinuosas que expressam a energia e a dramaticidade de uma alma atormentada.
     O norueguês Edvard Munch, considerado um dos pintores mais radicais e talentosos de sua geração, demonstrou em obras como O Grito, um trabalho inquietante onde a representação pictórica sucumbe às fortes emoções, a tensão e a ansiedade do desepero. Nesta obra em particular; é como se todo o cenário em volta da personagem participasse da excitação aterradora do grito, expressando toda a angústia envolvida na cena.
     Outra influência importante é Goya, em sua obra rica de representações misógenas e diabólicas, onde aparecem velhas decrépitas e ameaçadoras, além de feiticeiras que veneram o grande Bode e preparam pratos abomináveis.
     Quanto ao Surrealismo, que acima de tudo foi um movimento revolucionário, temos igualmente manifestações não só na pintura, mas também na literatura e no cinema.
     O Surrealismo é uma forma de expressão, instintiva, irracional, cuja arma principal era o escândalo. "Seu objetivo principal não era criar um novo movimento pictórico, literário ou até filosófico, mas sim fazer explodir a sociedade, mudar a vida" - (Buñuel).
     Entre os artistas que mais se destacaram neste movimento na pintura estão: Picasso e Dali.
     Picasso e Dali guardam uma certa semelhança pela fixação que possuiam em relação a mulher (Picasso-Dora Marr, Dali-Gala).
     Picasso soube expressar como ninguém o delírio e a monstruosidade da guerra. Em sua obra mais conhecida, Guernica aparecem rostos hediondos, torturados e abjectos, que são na verdade os próprios rostos da guerra e da desgraça provocada pelos nazistas, e eram eles mesmos que atribuiam a obra do próprio Picasso e de outros artistas surrealistas o título de: artistas degenerados.
     Dali foi um dos artistas mais delirantes de seu tempo, possuindo uma imaginação fértil, obcessiva e irracional. Criador do método paranóico-crítico, de um estilo e vida exibicionista, nem sua fase Avida Dollars foi capaz de ofuscar sua obra. Poderia ainda citar outras obras, artistas e gêneros, mas prefiro deixá-los com esta pequena amostra da influência da pintura na estética dark.

Posted by DJ BURP | às 16:40

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