Apucarana-PR/Brasil: A Capital do Boné
A História do Boné:
Arranjo produtivo local de bonés de Apucarana/PR:
LISTA DE SIGLAS
ABRAFAB'Q - Associação Brasileira de Fabricantes de Bonés de Qualidade
ACIA - Associação Comercial, Industrial e de Serviços de Apucarana
AMUVI - Associação dos Municípios do Vale do Ivaí
APEX - Agência de Promoção de Exportações do Brasil
APL - Arranjo Produtivo Local
ASSIBBRA - Associação das Indústrias de Bonés e Brindes de Apucarana
CEF - Caixa Econômica Federal
CEP - Controle Estatístico de Processo
FACNOPAR - Faculdade do Norte Novo de Apucarana
FAP -Faculdade de Apucarana
FECEA - Faculdade Estadual de Ciências Econômicas de Apucarana
FETAP - Fundação de Ensino Técnico de Apucarana
FIEP - Federação das Indústrias do Paraná
FINEP - Financiadora de Projetos
GTP - Grupo Permanente de Trabalho
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IEL - Instituto Euvaldo Lodi do Paraná
MCT - Ministério e Ciência e Tecnologia
MDIC - Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior
PROEP - Programa de Expansão da Educação Profissional
RETEC - Rede de Tecnologia do Paraná
SEBRAE - Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas
SENAI - Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial
SEPL - Secretaria de Estado de Planejamento e Coordenação Geral
SESI - Serviço Social da Indústria do Paraná
SICOOB - Sistema de Cooperativas de Crédito
SIVALE - Sindicato da Indústria do Vestuário de Apucarana e Vale do Ivaí
SOCIESC - Sociedade Educacional de Santa Catarina
UTFPR - Universidade Tecnológica Federal do Paraná
1 INTRODUÇÃO
A presente Nota Técnica é parte integrante do Projeto Identificação, Caracterização,
Construção de Tipologia e Apoio na Formulação de Políticas para os Arranjos
Produtivos Locais (APLs) do Estado do Paraná, em desenvolvimento pela Secretaria de
Estado de Planejamento e Coordenação Geral (SEPL) e pelo Instituto Paranaense de
Desenvolvimento Econômico e Social (IPARDES).
O principal objetivo do projeto é subsidiar tecnicamente as ações da Rede
Paranaense de Apoio aos Arranjos Produtivos Locais – Rede APL Paraná, por meio da
realização de estudos, pesquisas e da organização de informações a respeito das
aglomerações produtivas existentes no Paraná, destacando-se aquelas com características
específicas de APL. Essa Rede busca articular o alinhamento e a interação das diversas
instituições públicas e parapúblicas que atuam na promoção dos APLs, pleiteando, por meio
da cooperação multiinstitucional, a efetivação dos programas e das políticas de apoio aos
arranjos produtivos locais do Estado.
O Projeto Identificação, Caracterização, Construção de Tipologia e Apoio na
Formulação de Políticas para os Arranjos Produtivos Locais (APLs) do Estado do Paraná,
estrutura-se em cinco etapas, sendo que três delas já foram desenvolvidas,1 por intermédio
das quais foram identificados, eleitos e validados 22 APLs localizados em distintas
microrregiões geográficas do Estado.
Dentre esses APLs, encontra-se o de Bonés de Apucarana, que congrega 141
empresas formais vinculadas à atividade de confecções de bonés e mais 397
estabelecimentos informais faccionistas, que prestam serviços domiciliares às empresas
confeccionistas (CENSO industrial..., 2006).
De acordo com a tipologia adotada pelo Projeto, esse APL configura-se como um
Núcleo de Desenvolvimento Setorial e Regional (NDSR) ou seja, um sistema local que se
destaca tanto pela sua importância relativa para a região como também pela importância da
atividade por ele desenvolvida no âmbito estadual.
Para a escolha desse APL, outros aspectos qualitativos também foram considerados,
especialmente a estrutura de governança local e a densidade institucional, a existência de uma
forte especialização produtiva, bem como a estrutura do parque produtivo, predominantemente
formado de micro e de pequenas empresas (ARRANJOS, 2006).
1 O Projeto consiste das seguintes etapas 1: Identificação e mapeamento das aglomerações produtivas;
2: Pré-seleção das aglomerações produtivas e visitas prévias; 3: Caracterização preliminar das
aglomerações e validação de APLs; 4: Estudos de Caso (caracterização estrutural geral dos APLs
validados); e 5: Proposição de diretrizes de políticas públicas de apoio aos APLs estudados.
2
A presente Nota Técnica tem por objetivo sistematizar os aspectos relevantes do
APL de Bonés de Apucarana, considerando-se os fundamentos teóricos e metodológicos
desenvolvidos nas etapas anteriores do Projeto, visando subsidiar a Rede APL Paraná no
que tange ao desenvolvimento de ações integradas de políticas públicas voltadas para o
fortalecimento desse arranjo.
Para tanto, procedeu-se a uma pesquisa bibliográfica acerca dos trabalhos
acadêmicos já realizados sobre o APL em estudo, bem como à consulta de documentos
técnicos, especialmente o Plano de Desenvolvimento do APL de Bonés de Apucarana e o
Censo Industrial do Arranjo Produtivo Local de Confecções de Bonés de Apucarana no
Estado do Paraná, os quais embasaram o presente trabalho.2 O Censo industrial resultou
de uma ação do Comitê Gestor do APL, tendo como entidades executoras o IPARDES e a
Faculdade de Apucarana (FAP), com apoio de entidades locais e de instituições públicas e
parapúblicas estaduais.
Posteriormente a essa etapa, realizou-se uma reunião com o grupo gestor do APL
(composto de 15 lideranças empresariais locais) e as instituições de apoio, objetivando a
atualização das informações, o parecer desses atores acerca das principais questões do
APL, bem como a hierarquização das demandas locais suscitadas pela revisão bibliográfica.
Ressalte-se que a reunião permitiu uma discussão ampla dos principais problemas e das
demandas dos empresários locais.
Esta nota técnica está estruturada em sete seções, além desta introdução. Na
segunda seção realiza-se uma breve caracterização socioeconômica do município de
Apucarana e de seu entorno. A terceira seção traz a descrição sucinta do histórico do APL,
destacando a sua trajetória de consolidação. Na seção seguinte apresenta-se uma caracterização
geral do APL, sob o enfoque da abordagem teórica de arranjos produtivos locais. Na
quinta seção analisam-se a estrutura de governança do APL e os elementos sócio-políticoculturais
que viabilizam a interação entre os atores locais. A sexta seção traz a descrição da
função e das principais ações desenvolvidas pelas instituições locais vinculadas ao APL, e,
finalmente, na sétima seção são apresentadas algumas sugestões e demandas locais,
seguidas das considerações finais do estudo.
2 Os trabalhos consultados foram: CENSO industrial... (2006); PLANO de desenvolvimento... (2005)
e Barros e Kretzer (2003).
3
2 CARACTERIZAÇÃO DO MUNICÍPIO E DE SEU ENTORNO
O Município de Apucarana localiza-se na região norte-central do Estado do
Paraná e faz parte da Microrregião Geográfica (MRG) de Apucarana, a qual é composta por
nove municípios.3
Criado em 1943, quando se desmembrou de Londrina, o município de Apucarana
ocupa uma área de 555 km2, situando-se entre cidades-pólo da região norte-central, a 54 km
de Londrina e 59 km de Maringá, estando a 363 km da capital do Estado do Paraná.
Além de polarizar a microrregião, Apucarana é o centro de referência de uma
associação de municípios do Estado do Paraná, a Associação dos Municípios do Vale do Ivaí
(AMUVI), que integra 264 municípios pertencentes às microrregiões geográficas de Apucarana,
Faxinal e Ivaiporã, totalizando 7.458 Km2 (3,7% do território paranaense). Ressalte-se que todos
os municípios integrantes dessa Associação estão mais próximos de Apucarana que dos outros
dois pólos da região norte-central (Maringá e Londrina) (APUCARANA, 2006).
2.1 ATIVOS INSTITUCIONAIS
No tocante a ativos tecnológicos e institucionais, o APL de bonés de Apucarana
conta com o apoio direto de algumas instituições, destacando-se o Serviço Nacional de
Aprendizagem Industrial (SENAI) e o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas
Empresas (SEBRAE),5 além de sediar três instituições de ensino superior: Faculdade
Estadual de Ciências Econômicas de Apucarana (FECEA); Faculdade de Apucarana (FAP) e
Faculdade do Norte Novo de Apucarana (FACNOPAR).
Da mesma forma, atuam como agentes de desenvolvimento do APL outras
instituições sediadas em Apucarana: Associação das Indústrias de Bonés e Brindes de
Apucarana (ASSIBBRA); Associação Brasileira de Fabricantes de Bonés de Qualidade
(ABRAFAB'Q); Sindicato da Indústria do Vestuário de Apucarana e Vale do Ivaí (SIVALE);
Associação Comercial, Industrial e de Serviços de Apucarana (ACIA) e Centro Tecnológico
3 Apucarana, Arapongas, Cambira, Califórnia, Jandaia do Sul, Marilândia do Sul, Mauá da Serra,
Novo Itacolomi e Sabáudia.
4 Arapuã, Ariranha do Ivaí, Bom Sucesso, Borrazópolis, Califórnia, Cambira, Cruzmaltina, Faxinal, Godoy
Moreira, Grandes Rios, Ivaiporã, Jandaia do Sul, Jardim Alegre, Kaloré, Lidianópolis, Lunardelli,
Marilândia do Sul, Marumbi, Mauá da Serra, Novo Itacolomi, Rio Bom, Rio Branco do Ivaí, Rosário do
Ivaí, São João do Ivaí, São Pedro do Ivaí.
5 A descrição das ações desenvolvidas pelas instituições locais serão detalhadas na seção 6 deste
trabalho.
4
de Desenvolvimento Profissional Norte do Paraná - Centro Moda.
Também é importante ressaltar que a proximidade de Apucarana a outros pólos
facilita o acesso a várias instituições e aos eventuais serviços e apoios ofertados por elas.
Conforme levantamento realizado pelo IPARDES/SEPL (IDENTIFICAÇÃO, 2005b), Maringá
conta com 26 ativos e Londrina com 34 instituições locais.
2.2 INFRA-ESTRUTURA DE TRANSPORTE
Na região de Apucarana há um entroncamento rodoviário importante envolvendo
duas rodovias federais que cortam todo o Estado do Paraná: a BR-376, denominada
Rodovia do Café, e a BR-369, Rodovia Mello Peixoto.
A rodovia BR-376 liga Apucarana a Arapongas e Maringá, cruza diagonalmente o
Estado do Paraná em direção a noroeste na fronteira com Mato Grosso do Sul e é a principal
ligação da região norte paranaense com a capital do Estado e com o Porto de Paranaguá.
A rodovia BR-369 liga Apucarana a Londrina, Cambé e Arapongas, e por meio da
rodovia estadual PR-317, faz a conexão da região norte paranaense com o Estado de São
Paulo. Essa mesma rodovia (BR 369) permite acesso a Cascavel e Foz do Iguaçu, no oeste
paranaense. Essa boa infra-estrutura rodoviária presente na região do APL facilita a
distribuição de seus produtos, bem como o recebimento de matérias-primas e outros
insumos para produção.
5
Quanto ao sistema ferroviário, na região do APL de bonés ocorre uma convergência
dos ramais ferroviários provenientes de Cianorte, a oeste, passando por Maringá e Mandaguari,
e de Ourinhos (SP) e Cornélio Procópio, a leste, atravessando Londrina, Cambé e Arapongas.
Ambos se unem em Apucarana, formando uma via que segue em direção a Ponta Grossa,
Curitiba e Paranaguá. Contudo, esse sistema de transporte é utilizado somente para o
transporte de cargas para os portos de Santos e Paranaguá.
A estrutura aeroportuária da região norte-central paranaense compreende 6
aeroportos públicos e 15 aeródromos privados.
Os aeroportos Santos Dumont, em Londrina, e Sílvio Name Júnior, em Maringá,
têm suporte para grandes aeronaves, operam com vôos diários para os grandes centros do
País, nos períodos diurno e noturno e registram, respectivamente, uma média mensal de
2.487 e 1.044 pousos e decolagens.
Os demais aeroportos públicos encontram-se em Arapongas, Apucarana, Manoel
Ribas e Centenário do Sul. Contudo, o aeroporto Capitão João Busse, de Apucarana, sob a
administração da Prefeitura Municipal, não opera com linha aérea regular.
2.3 ASPECTOS SOCIOECONÔMICOS
O município de Apucarana apresenta Índice de Desenvolvimento Humano (IDH-M)
de 0,799, superior à média estadual, calculada em 0,787 (IPARDES, 2006), indicando
condições socioeconômicas relativamente favoráveis nesse município.
Em termos de população, segundo dados do IBGE, no período de 2000 a 2005 o
município de Apucarana registrou aumento populacional, com taxa de crescimento de 1,44%
a.a, pouco superior à média estadual (1,42% a.a.). Para o ano de 2005, a população total de
Apucarana foi estimada em 116 mil habitantes, representando 42% do total da microrregião.
O Produto Interno Bruto de Apucarana, em 2003, foi de R$ 787,4 milhões,
posicionando o município entre os 20 principais centros econômicos do Estado. O PIB per capita
era de R$ 6.972,20, abaixo da média estadual. Em termos setoriais, a participação da indústria e
dos serviços é similar, em torno de 46% (IBGE, 2006). A agropecuária, com 8%, tem como
principais atividades as culturas de soja, café, milho e aves de corte. No tocante ao comércio,
Apucarana apresenta-se como centro atacadista do Vale do Ivaí, comercializando produtos
primários e atendendo às necessidades dos municípios do entorno.
No que se refere à indústria, Apucarana, juntamente com Londrina, Maringá e
Arapongas, forma um eixo com características de região metropolitana, com forte adensamento
populacional e oferta de empregos. Esse município conta com a instalação de um parque
industrial bastante diversificado, partilhando com a região norte-central muitas de suas
6
características industriais.6
A região norte-central destaca-se como pólo coureiro, com várias empresas
compondo toda a cadeia produtiva do setor. O município de Apucarana responde por 25%
do couro curtido no Paraná e sedia algumas grandes empresas exportadoras do País.
Outro setor importante na região é o de produção e industrialização de derivados
do milho, em que se destaca Apucarana, responsável por 25% da produção brasileira dos
alimentos à base de milho.
O segmento do vestuário apresenta-se como principal empregador da região
norte-central paranaense, com um número significativo de estabelecimentos vinculados ao
setor e algumas empresas de grande porte instaladas nos municípios-pólo da região,
sobressaindo o de Apucarana, situado no centro do eixo de 180 km que compõe o chamado
“Corredor da Moda”, que inicia em Londrina, passa por Apucarana e Maringá e finaliza em
Cianorte, no noroeste do Estado. Esse complexo vestimentar, composto por empresas
voltadas às atividades de beneficiamento, fiação, tecelagem, lavanderias e serviços de
acabamento, vem adquirindo importância nacional como o maior produtor de jeans e bonés
do País (CENSO industrial, 2006).
2.4 CARACTERÍSTICAS PRODUTIVAS DO APL
O Estado do Paraná é o segundo maior produtor do País no setor têxtilconfecções,
que reúne 4.345 empresas e emprega 67.426 mil trabalhadores, o que
representa 14,0% da mão-de-obra industrial ocupada no Estado, credenciando-se como o
setor que mais emprega no âmbito estadual. As indústrias de confecção paranaenses
produzem cerca de 216 milhões de peças por ano e faturam anualmente R$ 3,5 bilhões
(OLIVEIRA; CÂMARA; BAPTISTA, 2006).
Apucarana sedia duas grandes empresas que atuam no ramo de fiação,
tecelagem e acabamento de tecidos. Essas empresas fornecem tecidos para indústrias
locais e de todo o País. Também em Apucarana está instalada uma unidade de fiação de
um grande grupo do segmento têxtil, cuja produção de fios é exclusiva, especialmente para
a produção do índigo de marcas famosas.
Vinculados ao segmento do vestuário, destacam-se, ainda, dois outros setores: o de
confecção de bonés e o de confecção de uniformes e vestuário de segurança, cuja maior
empresa, líder nacional no mercado de calçados de segurança, está instalada em Apucarana.
O segmento de bonés concentra um número significativo de estabelecimentos,
sobretudo empresas de pequeno porte, no município de Apucarana, que se destaca em
6 As principais características produtivas da região norte-central aqui descritas foram adaptadas de
“Leituras regionais: Mesorregião Norte-Central Paranaense” (IPARDES, 2004a).
7
âmbito nacional como o maior pólo de confecções de bonés do país.
A análise da tabela 1 permite observar a relevância desse segmento em
Apucarana: dos 623 estabelecimentos industriais do município, 42% estavam vinculados ao
ramo de confecções do APL, gerando 4.041 empregos formais, o que representa 37% do
total de empregos gerados pela atividade industrial no município.
TABELA 1 - NÚMERO DE ESTABELECIMENTOS E DE EMPREGOS NA INDÚSTRIA DE TRANSFORMAÇÃO E
NA INDÚSTRIA DE CONFECÇÕES NO MUNICÍPIO DE APUCARANA - 2004
INDÚSTRIA DE TRANSFORMAÇÃO CONFECÇÕES(1)
LOCAL
Estabelecimentos Empregos Estabelecimentos Empregos
Apucarana 623 10.908 262 4.041
Microrregião 1.217 27.456 317 4.692
TOTAL DO ESTADO 24.264 483.432 3.026 44.752
FONTE: MTE-RAIS
(1) Incluem as classes 1.812 (confecção de peças do vestuário) e 1.821 (fabricação de acessórios do vestuário),
da Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE) Na primeira etapa do Projeto, quando se
procedeu à identificação e mapeamento das aglomerações produtivas locais, essas duas CNAEs indicaram
aglomeração de empresas e especialização produtiva em Apucarana.
Em 2004, havia, na microrregião de Apucarana, 4.692 vínculos empregatícios no
ramo de confecções, dos quais 4.041 (86%) estavam vinculados às confeccionistas
instaladas no APL; sob essa mesma perspectiva, dos 317 estabelecimentos do ramo,
instalados na microrregião, 262 (83%) estavam no arranjo.
Segundo dados da RAIS, no período de 2000 e 2004, houve aumento de 74% do
emprego formal no segmento de confecções no APL, superior ao registrado pelo setor no Estado,
que, no mesmo período, apresentou um acréscimo de 67% no número de empregos formais.
Esses indicadores permitem afirmar que, apesar da diversidade industrial verificada
no município e na microrregião de Apucarana, o APL de Bonés revela especialização e
concentração de empresas na atividade de confecções, mais especificamente na confecção de
bonés, as quais colocam o APL como um dos principais geradores de emprego nessa atividade
no Estado, com potencial de geração de empregos, renda e até mesmo de arrecadação de
impostos significativos para o município (BARROS, KRETZER, 2003).
Observa-se que as oportunidades de trabalho e renda, graças ao segmento de
confecções de bonés e de faccões, ampliam-se em toda região, particularmente nos bairros
periféricos do município de Apucarana, onde tal atividade tem sido o principal condicionante
para a fixação dos jovens em seus locais de origem (PLANO de Desenvolvimento, 2005).
Por reunir um número representativo de empresas do mesmo segmento, apresentar
especialização produtiva e manter vínculos de articulação, Apucarana foi identificada pelo
Governo Federal como um Arranjo Produtivo Local. O APL tornou-se referência nacional,
aproveitando a tradição de confecções e nicho de mercado em ascensão, concentrando
atualmente mais de 80% da produção de bonés do País, o que torna município de
Apucarana conhecido como a “Capital Nacional do Boné".
8
3 HISTÓRIA: CONDIÇÕES INICIAIS, EVOLUÇÃO E SITUAÇÃO ATUAL DO APL7
A fabricação de bonés em Apucarana iniciou-se em 1974 a partir da produção
artesanal de bandanas e tiaras que eram comercializadas em feiras agropecuárias,
exposições e nas praias do litoral paranaense. De início, os empresários pioneiros na
fabricação de bonés limitavam-se a copiar e produzir bonés com aba de papelão,
reguladores de elástico e fazendo uso da técnica de silk screen. No início da década de
1980, começaram a surgir as primeiras empresas do segmento, entre elas a Faroli, a
Cotton’s, a Sementec e a Kep's, de origem familiar, cujo sucesso motivou o surgimento de
inúmeras outras, desencadeando-se um crescimento vultuoso do setor nessa década. Após
o encerramento de três empresas pioneiras, vários empresários, muitos deles exfuncionários
da Cotton's, resolveram abrir suas próprias empresas.
Contudo, não havia na região os elos da cadeia produtiva de bonés e confecções,
visto que a dublagem de tecidos8 era realizada em São Paulo, assim como a aquisição da
matéria-prima e das máquinas e equipamentos.
Em 1986 surgiram na região as primeiras empresas da cadeia produtiva de bonés,
entre elas a Dalplast, a Showa e outras. Os empresários do setor contrataram consultoria
especializada nas áreas de qualidade, processo produtivo, formação de preço e controle de
custos, e, a partir desses investimentos, dividiram a produção em células e deram início ao
processo de capacitação das costureiras, com o apoio do SENAI de Apucarana.
Em meio a um processo de cooperação, as empresas conseguiram melhorar a
qualidade e a produtividade da indústria de bonés, ocasião em que surgiram os primeiros
contratos promocionais em nível nacional e internacional. Entre eles, citam-se o da Cofap, o
da Arisco e de franquias de filmes mundiais como o Jurassic Park. Contudo, o fato marcante
na formação do arranjo de bonés foi a celebração do contrato com o Banco Nacional, por
intermédio do qual o piloto Ayrton Senna tornou-se o primeiro garoto propaganda do setor, o
que contribuiu para a projeção da atividade confeccionista de bonés na mídia nacional.
No início da década de 1990, a partir da expansão da demanda nacional de bonés
promocionais, houve um crescimento desordenado do número de empresas do setor. Nessa
fase, as empresas engajaram-se numa competição via preços o que, em última instância,
afetou a rentabilidade e a lucratividade, na razão direta do crescimento da concorrência
interna. A estratégia de diferenciação utilizada pelas empresas foi buscar agregar valor ao
boné, com a finalidade de manter e/ou ampliar o mercado.
7 A descrição histórica do APL foi adaptada do Plano de Desenvolvimento, realizado em 2005.
8 A dublagem consiste numa importante etapa do processo produtivo da fabricação de bonés, o qual
se encontra descrito no Apêndice 1.
9
Entre 1994 e 1996 dois fatos importantes marcaram a mudança de paradigma na
fabricação de bonés em Apucarana: a importação de máquinas de bordado computadorizado e
o surgimento na região de outras empresas distribuidoras de matérias-primas (entre elas a
Dicatex, Boneon, Paranatex e Conviex) e fornecedores de máquinas e equipamentos, tais como
a Taicry e a M.A.B. Fortuna, entre outras.
Surgiu uma nova geração de empresários e as empresas do segmento investiram
pesadamente em marketing. Nesse período, Apucarana conquistou um espaço importante
na mídia televisiva, ficando conhecida como a 'Capital do Boné', em referência à produção
de um dos brindes mais utilizados pelas empresas no País.
A partir do ano de 1997, o escritório regional do SEBRAE em Apucarana centrou a
sua atuação no desenvolvimento de ações de articulação e de estímulo à cooperação, à
interação e à aprendizagem. A primeira iniciativa foi a constituição da Associação Brasileira
dos Fabricantes de Bonés de Qualidade (ABRAFAB’Q), composta, na época, de 13
empresas, onde foi elaborado e realizado um projeto de exportação (com o apoio da APEX -
Agência de Promoção de Exportações do Brasil), além do estímulo ao desenvolvimento de
projetos de certificação ISO 9000 entre algumas empresas do APL.
O passo seguinte foi a constituição da Associação das Indústrias de Bonés e Brindes
de Apucarana (ASSIBBRA), formada por 17 empresas, cujo principal objetivo de sua criação foi a
viabilização e operacionalização de uma central de compras para possibilitar a formação de
estoques reguladores e a produção conjunta dos insumos para a montagem de bonés.
Diante dessa expansão, não havia na região mão-de-obra qualificada para
atender às necessidades do setor de bonés. Nesse momento, inseriu-se no APL a ACIA -
Associação Comercial, Industrial e de Serviços de Apucarana, que, num esforço conjunto
que envolveu os empresários do setor e a Prefeitura de Apucarana, iniciou um processo de
negociação junto ao ministério da Educação/PROEP para implantar na região um centro de
formação e treinamento de mão-de-obra nas áreas têxtil e de confecções.
Como resultado dessas iniciativas, foi implantado, em 2002, no município de
Apucarana, o Centro Moda, o qual se constitui numa escola técnica para formação e
capacitação de profissionais para a indústria do vestuário e moda, que tem como missão
“formar, capacitar e requalificar profissionais necessários ao atendimento do setor da indústria
do vestuário da região” (PLANO de Desenvolvimento, 2005). Em 2003, com o apoio do
SEBRAE/PR e entidades locais, o município de Apucarana passou a implantar o modelo de APL.
Em novembro de 2004, 109 empresários do setor aderiram ao Projeto Arranjo
Produtivo de Bonés de Apucarana e Região, recebendo o apoio de várias instituições
públicas e parapúblicas (como a Federação das Indústrias do Estado do Paraná, o SEBRAE
e universidades). Nesse período, formou-se o comitê gestor do APL de bonés de Apucarana,
com a participação de empresários e entidades parceiras. Realizou-se uma Oficina de
Planejamento com o propósito de elaborar o Plano Estratégico para o Desenvolvimento do
Setor de Bonés do município, no âmbito de atuação do SEBRAE-PR, seguindo a metodologia
10
dos Arranjos Produtivos Locais desenvolvido por essa instituição em nível nacional. Como
resultado desse planejamento, foi definido um conjunto de ações relacionadas à melhoria da
qualidade e à sustentabilidade do segmento.
Atualmente, Apucarana é um dos grandes pólos na confecção de bonés e
produtos associados (bandanas, bolsas, porta-CDs e camisetas), com uma produção mensal
em torno de quatro milhões de peças, o que representa mais da metade da produção
nacional do setor. Ressalte-se que essa produção é favorecida, em grande medida, pelo
fato de que todos os elos da cadeia produtiva estão presentes em Apucarana, o que
possibilita o fornecimento, no mercado local, da matéria-prima e do maquinário necessários
à produção do boné.
O APL de bonés de Apucarana está entre os projetos-piloto eleitos pelo governo
federal, por intermédio do Grupo Permanente de Trabalho (GTP) para APLs, o qual foi criado
mediante portaria assinada pelo presidente da República, atuando sob a coordenação do
Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC). A sua ação visa
buscar soluções criativas e viáveis para o desenvolvimento econômico e social dos APLs de
destaque no País, dentre os quais encontra-se o de bonés de Apucarana.
11
4 CARACTERIZAÇÃO GERAL DO APL
O Censo Industrial do APL de Bonés de Apucarana revelou a existência de 141
empresas confeccionistas, ou seja, estabelecimentos formais vinculados à confecção do
produto final (bonés e/ou de outros artefatos têxteis). Além dessas empresas, foram
localizadas outras 397 facções domiciliares, todas no município de Apucarana, as quais
prestam algum tipo de serviço às confeccionistas, sendo responsáveis pela execução de
determinadas etapas do processo produtivo.9 A partir desse processo de subcontratação, as
empresas confeccionistas passaram a terceirizar grande parte de suas etapas produtivas,
concentrando-se, assim, na concepção, montagem e comercialização dos produtos.10
Quanto às características dos produtos, há duas categorias básicas na linha de
produtos do APL: o boné (carro-chefe do setor) e os produtos correlatos, os quais atendem
ao mesmo nicho de mercado e utilizam a mesma estrutura para produção de bonés. Dentre
os produtos correlatos, destacam-se: chapéus, bandanas, tiaras, camisetas, aventais e
uniformes, mochilas e bolsas, porta-CDs, uniformes profissionais (camisetas, guarda-pós,
jalecos, aventais, coletes, calças, bermudas, toucas e macacão, gorros de lã (tricotados em
máquinas jaguard).
No APL desenvolvem-se, também, atividades de venda e assistência técnica de
máquinas e equipamentos; serviços de bordados e serigrafia; serviços de aviamentos; embalagem
e logística, dentre outros. Outras atividades que são realizadas por algumas empresas do
setor incluem desenvolvimento de malhas, cores, insumos diversos, modelagem, prototipagem,
técnicas de estamparia, lavagens e tingimentos, apliques diversos, transfers, artes gráficas
e outros.
Das 53.266 milhões de peças/ano produzidas no APL, os bonés representam 83%
desse total, o que revela a forte especialização do setor neste tipo de produto, característica
singular no País, na medida em que se sabe da existência de apenas uma localidade
(Caicó, no Rio Grande do Norte) que apresenta semelhante especialização, embora com
número de empresas e fornecedores bem abaixo dos existentes em Apucarana.
No rol de produtos do APL, o tipo mais produzido é o boné promocional, com
produção estimada em 25,5 milhões de peças/ano, o qual representa 47,9% do total de
9 A principal etapa contratada pelas confeccionistas é a da costura, seguida da serigrafia e da etapa
de acabamento das peças (fixação de botões, fivelas, etiquetas, passadoria dos bonés e retiradas
de excesso de linhas).
10De acordo com o Censo Industrial, das 141 empresas confeccionistas presentes no APL, apenas
12% delas declararam não utilizar subcontratações, o que atesta a importância da facções e
costureiras domiciliares (“facções de bico”) para o setor confeccionista de Apucarana.
12
todas as categorias dos produtos do APL e 58% na categoria de bonés, sendo este produto
o mais importante, também, no faturamento das empresas.
Dadas as características das empresas do APL de bonés de Apucarana, onde a
terceirização das fases de produção é largamente utilizada, o Censo Industrial não classifica
o porte das empresas pelo número de empregados diretos que ela emprega, mas sim pela
produção física anual.11 Com essa tipologia, o estudo revelou que o APL de bonés de
Apucarana é composto de 10 empresas de grande porte, 24 de médio, 40 de pequeno e 59
empresas de micro porte.12 Ressalte-se que, independentemente do tamanho, em geral,
essas empresas são de administração familiar, em muitos casos administradas por casais,
ou por apenas um empresário, sendo a grande maioria delas gerida por jovens empresários,
com pouca ou nenhuma experiência em gestão empresarial.
4.1 O PROCESSO DE COMERCIALIZAÇÃO DO APL
A maioria das empresas do APL vende seus produtos exclusivamente por meio de
representantes comerciais (vendedores externos). O uso desse canal de comercialização
pode demonstrar que as empresas têm certa dependência desses agentes, encurtando o
grau de autonomia para traçarem suas estratégias mercadológicas. Uma minoria conjuga a
representação comercial e a venda a varejo. Outro importante canal de vendas é aquele
realizado por vendedores próprios das empresas e as vendas via telemarketing. Assim
sendo, o setor não possui uma estrutura de comercialização consistente e dinâmica no
sentido de determinar as trajetórias de desenvolvimento de forma mais independente dos
agentes externos, o que possibilitaria maior consistência à estrutura mercadológica do APL
(CENSO industrial, 2006).
Os principais clientes ou compradores das mercadorias confeccionadas na região
são procedentes dos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Mato Grosso,
Minas Gerais, Santa Catarina, Goiás e do próprio Paraná. Contudo, o Estado de São Paulo
constitui-se em destino geográfico preferencial das vendas de todos os tipos de produtos do APL
de Apucarana. Em termos percentuais, 88,1% do total das vendas realizadas no APL destinamse
a outros estados da Federação, 11,7% das peças são comercializadas no próprio Paraná e
cerca de 0,2% da produção segue para o mercado externo, revelando que as empresas do APL
estão discretamente inseridas no mercado externo.
11O trabalho determinou a seguinte tipologia: empresas de micro porte (produção até 250 mil
peças/ano), pequeno porte (produção maior que 250 mil e menor que 500 mil peças/ano), médio
porte (produção maior ou igual a 500 mil e menor que 1 milhão de peças/ano) e grande porte (
produção maior que 1 milhão de peças/ano)
12 Destaque-se que 8 empresas não declaram a sua produção anual.
13
Quanto às características dos clientes, constata-se que os principais compradores do
APL são as lojas especializadas que comercializam confecções, as quais têm públicos-alvo
distintos conforme o seu tamanho. De acordo com os resultados do Censo Industrial (2006), as
lojas maiores, como Carrefour, Renner, C&A, e as Lojas Americanas, buscam atingir o público
de classe C, D e E, e às vezes, procuram trabalhar um pouco o público classe B. Já as lojas de
tamanho médio, como Forum, Zoomp, Triton, Cantão e Redley, buscam o público de classe A e
B, as quais visam o lançamento de coleções exclusivas, desenhadas por elas e encomendadas
às empresas fabricantes do APL de bonés de Apucarana.
A respeito das estratégias mercadológicas, a maioria dos empresários do APL
revela o desejo de produzir sua marca própria, o qual, segundo eles, agregaria um maior
valor aos produtos, além de proporcionar às empresas maior autonomia na solidificação e
criação de seu próprio mercado.
4.2 CAPACITAÇÃO GERENCIAL E QUALIFICAÇÃO DA MÃO-DE-OBRA LOCAL
O APL de bonés de Apucarana apresenta 6.749 trabalhadores envolvidos nas
atividades do APL. Desses, 4.449 trabalhadores são formais, absorvidos e distribuídos entre
as 141 empresas confeccionistas, e outros 2.300 trabalhadores informais, os quais
trabalham nas faccionistas (facções de bico).
Conforme pode-se perceber, o ramo confeccionista de bonés e artigos correlatos
é intensivo em mão-de-obra, absorvendo grande contingente de trabalhadores, em sua
grande maioria, com baixa qualificação formal. Desse modo, as categorias ocupacionais
são, em geral, do tipo tradicional (costureiras, bordadeiras, etc.), embora algumas delas
requeiram um certo grau de sofisticação, a exemplo das funções de modistas, riscadores de
CAD e operadores de máquina de bordar, as quais exigem a operação de técnicas e
equipamentos mais sofisticados.
A despeito dos esforços locais, no sentido de desenvolverem treinamentos formais,
por meio da oferta de cursos profissionalizantes rápidos, a exemplo daqueles ofertados no
Centro Moda, a qualificação adquirida no APL, em geral, é do tipo aprender fazendo (learning by
doing), no próprio chão de fábrica, o qual não se constitui em aprendizado sistematizado e
voltado para a contínua qualificação da força de trabalho.
No Censo Industrial, o dado sobre a capacidade produtiva do parque industrial
instalado das empresas do APL sinalizou para a necessidade de se investir ainda mais na
qualificação da mão-de-obra local. Verificou-se que há ociosidade de 27% dos fatores de
produção, ou seja, conjuntamente, as empresas do APL teriam potencial para produzir cerca de
20 milhões de peças/ano a mais do que a quantidade produzida atualmente. Diante desse dado,
os empresários apontaram a falta de pessoal qualificado como uma das principais dificuldades
do APL na área da produção, fato que permite inferir que esta não alcança maiores proporções
devido à carência de trabalhadores preparados para o desempenho das funções, especialmente
aquelas que dependem de uma qualificação mais especializada.
14
4.3 RELAÇÃO COM FORNECEDORES DO APL
Aspecto marcante no APL de bonés de Apucarana é a presença de um grande número
de fornecedores de insumos instalados no município, os quais propiciam um maior
adensamento da cadeia produtiva local, reduzindo custos e permitindo maior interação entre
os elos produtivos.
A região beneficia-se da presença de importantes empresas na cadeia têxtilconfecções
situadas na cidade, tais como: empresa de tecelagem de algodão (sarja),
indústria de tecelagem de malha, lavanderias, tinturarias, empresas de fiação de algodão,
além de confecções de componentes têxteis, como carneiras, viés e etiquetas.
Importante ainda observar que, além das empresas da cadeia, a estrutura produtiva
da confecção de bonés conta ainda, em Apucarana, com empresas fornecedoras de abas e
botões (plástico) pingentes e fivelas (metal), máquinas de pregar botões, de dublagem de
tecidos e passadeiras de bonés (mecânica), além de lojas e representantes de tecidos e
aviamentos, caracterizando auto-suficiência e importante complementaridade local.
Quanto à procedência dos insumos utilizados no processo produtivo, observa-se
que, com exceção do tecido, da entretela e da linha, a região mostra-se auto-suficiente para
atender o setor, na medida em que mais de 90% dos outros insumos são adquiridos na
própria região do APL. Nesse rol de fornecedoras, cabe destacar a presença da empresa de
tecidos Apucarana Têxtil, uma das três empresas de tecelagem existentes no Paraná, a
qual, segundo estimativas, destina 20% do total de sua produção de sarja para o
abastecimento das empresas de bonés de Apucarana.
O município também conta com profissionais das áreas de marketing, técnicas de
processos, vendas, criação visual e manutenção, assim como com empresas que
comercializam máquinas novas e usadas, além de pessoal técnico qualificado para executar
a manutenção dos equipamentos e adaptação de máquinas.
4.4 INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS
Os estudos realizados no APL revelam que as empresas integrantes do segmento de
bonés de Apucarana têm procurado inovar tanto no produto final, dadas as exigências do
mundo da moda, quanto no processo de produção. Os empresários vêm incorporando novas
técnicas no processo produtivo e na gestão empresarial, embora os atores locais entendam que
essas inovações, limitadas somente a algumas empresas, ainda representam avanços ínfimos
em nível de sistema.
Na maioria dos casos, sobretudo entre as firmas de pequeno porte, o aumento de
pessoal em atividades de modelagem e estilismo não redundou na criação ou na consolidação
de áreas específicas (departamentos ou estações de design, por exemplo), mas, sobretudo, na
contratação de um ou outro profissional ou de deslocamento de costureiras experientes para
15
tarefas de “pesquisar” novos modelos, combinar cores e padronagens e produzir peças-piloto,
com a supervisão do proprietário da empresa ou de familiares.
Quanto à questão do controle de qualidade do produto final, constata-se que as
empresas realizam controles e vistorias informais, especialmente na etapa final do processo
produtivo. Quanto às formas de organização industrial, constata-se que a grande maioria
das empresas não utiliza nenhum tipo de norma técnica e programas de gestão de
qualidade, e uma minoria delas (cerca de 10%) adotam práticas de 5S13 ou Controle
Estatístico de Processo (CEP).14
Quanto às certificações, apenas 12% das empresas do APL possuem ISO 9000
(qualidade). A esse respeito há uma discussão interna, explicitada no Plano de
Desenvolvimento, acerca da busca das certificações de qualidade, por parte de algumas
empresas, com objetivos meramente de estratégia de promoção e marketing, desfocando-se
da real importância desse processo, qual seja, da melhoria da qualidade do processo
produtivo e do seu uso como ferramenta de gestão.
4.6 FORMAS DE COOPERAÇÃO NO APL
O marco inicial do processo de cooperação entre as empresas foi a constituição,
em 1997, da Associação Brasileira dos Fabricantes de Bonés de Qualidade (ABRAFAB’Q),
por meio da qual elaborou-se e viabilizou-se um projeto de exportação com o apoio da
APEX, obtiveram-se certificações ISO 9000 e instituiu-se uma central de compras conjuntas.
Outra ação importante foi a constituição da Associação das Indústrias de Bonés e
Brindes de Apucarana (ASSIBBRA), formada por 17 empresas, a qual visava à operacionalização
da central de compras, a formação de estoques reguladores e a produção conjunta de
insumos para a montagem de bonés.
Essas duas iniciativas proporcionaram às empresas associadas o acesso às
matérias-primas a preços mais acessíveis, em função da compra conjunta. Por meio de
negociação, as associações celebraram um acordo com os fabricantes de tecido para o
fornecimento da matéria-prima em sistema de comodato. Isso propiciou às empresas
economia de tempo, redução de custo e aumento na eficiência. Outra forma de cooperação
diz respeito às atividades de bordado e lavanderia. Nesses segmentos, a cooperação se
restringe basicamente à subcontratação e se estende, de forma muito incipiente, à pesquisa
135 S-programa de qualidade de origem japonesa que visa a implementação de ações para manter o
ambiente de trabalho mais organizado, limpo e seguro. Envolve a seleção, arrumação, limpeza,
padronização e autocontrole (Salpa).
14Controle Estatístico de Processo (CEP): Desenvolver, projetar, produzir, comercializar um produto
de qualidade que seja econômico.
16
de mercado e à prospecção tecnológica. Como exemplos citam-se as inovações nos
desenhos das peças e no processo de lavagem do tecido.
Outras iniciativas de cooperação já foram e estão sendo realizadas entre
empresas confeccionistas e fornecedoras do APL, com apoio de instituições de capacitação
e tecnologia do município. Contudo, a mais recente delas é o projeto “aba sem memória”,
realizado pelas empresas extrussoras de abas de Apucarana e pelo Centro Moda, com
financiamento da Financiadora de Projetos (FINEP), instituição ligada ao Ministério e Ciência
e Tecnologia (MCT). O projeto prevê pesquisas em materiais com propriedades e ligas que
forneça uma aba sem molde, um material que tenha grande tração e flexão, porém com
baixo custo.
Outra ação cooperativa empresarial refere-se à criação de uma importante
empresa local, fornecedora de tecidos, componentes e aviamentos para bonés, a qual foi
fruto de uma joint venture, composta de oito empresas fornecedoras do setor de confecções
do município. Contudo, conforme destacado pelas lideranças locais, a realização do Censo
Industrial do APL constitui-se numa das principais ações cooperativas desenvolvidas no
arranjo, na medida em que agregou o esforço de várias instituições locais e externas em
torno desse importante projeto.
4.7 FONTES DE FINANCIAMENTO DO APL
Quanto à expectativa dos empresários acerca de investimentos futuros, destacase
a necessidade de fontes de financiamento para a aquisição de máquinas e equipamentos
e maiores investimentos em qualificação do pessoal. Essa demanda ratifica que a melhoria
da qualificação da mão-de-obra é um fator importante para o desenvolvimento do setor.
Um dado relevante, apontado no Censo Industrial do APL, refere-se ao fato de que a
grande maioria dos empresários não realizou empréstimos para financiar suas atividades no
ano de 2005, demonstrando uma significativa aversão ao endividamento e uma insatisfação
acerca das condições de acesso aos financiamentos disponíveis no mercado. Aqueles que
realizaram alguma operação de crédito nesse período, buscaram financiamento para a
aquisição de máquinas e equipamentos ou para capital de giro, para os quais recorreram a
fontes de captação privadas, majoritariamente a bancos comerciais, utilizando-se,
raramente, de fontes públicas de financiamento.
17
5 A GOVERNANÇA DO APL
Conforme descrito no histórico, no ano de 2003 o SEBRAE/PR iniciou em
Apucarana um processo de articulação junto aos empresários e entidades locais procurando
socializar e disseminar os conceitos de APL. As atividades tomaram por base o Termo de
Referência aos Arranjos Produtivos Locais do SEBRAE nacional. Nessa fase, o SEBRAE/PR
atuou como indutor da mobilização dos empresários do ramo de bonés de Apucarana,
sendo responsável pela coordenação da instituição da Governança do APL.
O papel da Governança do APL no processo de cooperação e interação do
Arranjo tem sido fundamental, principalmente no que diz respeito às economias externas
obtidas mediante ações deliberadas pelos agentes locais, como, por exemplo, a elaboração
do Planejamento Estratégico do Setor; a inclusão do projeto APL de bonés de Apucarana no
Sistema de Gestão Estratégica Orientada para Resultados (SIGEOR), coordenado pelo
SEBRAE; a criação de uma linha de crédito junto à Caixa Econômica Federal voltada
especialmente para o setor de confecções e o recente processo de incorporação do Centro
Moda pela Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR).
Com relação à interação entre os atores, verifica-se que existe uma relação de
confiança e um espírito de cooperação e interação entre as empresas do APL, o que facilita
o processo de articulação no âmbito da governança local. A despeito da grande diversidade
e forte presença de instituições no APL, os mecanismos de governança têm se desenvolvido
rapidamente a partir do reconhecimento do APL de Bonés, e todas essas instituições se
fazem representar nas ações desenvolvidas no Arranjo. Diretamente, estão intimamente
relacionadas ao APL as instituições de pesquisa e desenvolvimento e aquelas de suporte e
alavancagem do setor, tais como: SEBRAE; SENAI; Centro Moda; Sindicato da Indústria do
Vestuário de Apucarana e Vale do Ivaí (SIVALE); associações de fabricantes de bonés de
Apucarana - ABRAFAB’Q e ASSIBBRA; Prefeitura de Apucarana; Associação Comercial,
Industrial e de Serviços de Apucarana (ACIA), Governo do Estado, FIEP/IEL, entre outras, as
quais serão melhor descritas abaixo.
18
6 INSTITUIÇÕES VINCULADAS AO APL
O APL de bonés de Apucarana apresenta um denso ambiente institucional. É
composto de associações de produtores que têm por função garantir o planejamento de
ações estruturantes para o ramo. Possui também instituições de ensino que oferecem
cursos específicos para a qualificação da mão-de-obra no ramo de confecções. O ambiente
institucional do ramo de confecções de bonés e artigos correlatos compõe-se, ainda, de
instituições locais de apoio que dão suporte ao APL em questões financeiras e de gestão,
além da estrutura oferecida pelo poder público municipal.
A infra-estrutura de aprendizagem local conta com uma unidade do SENAI e três
centros de ensino superior e o Centro Moda. O município conta ainda com a Escola da
Oportunidade, no Jardim América, mantida pela Prefeitura Municipal de Apucarana, a qual
oferta curso introdutório para confecções.
O Centro Moda é uma instituição operacionalizada desde a sua fundação, em
2002, pela Escola Técnica Tupy, ligada à Sociedade Educacional de Santa Catarina
(SOCIESC), e tem como mantenedora a Fundação de Ensino Técnico de Apucarana
(FETAP). Esta, por sua vez, é ligada à Associação Comercial, Industrial e de Serviços de
Apucarana (ACIA). A estrutura da escola foi construída basicamente com recursos do
Programa de Expansão da Educação Profissional (PROEP), do Ministério da Educação, que
repassou mais de R$ 2 milhões para a execução dessa unidade.
Está em andamento a transformação do Centro Moda em centro de extensão da
Universidade Federal Tecnológica do Paraná (UFTPR), de Curitiba, o qual irá oferecer curso
superior, pós-graduação, além de ensino técnico na área de confecções. Todos os cursos
serão gratuitos, diferentemente do que ocorre hoje, quando metade das vagas é paga pelos
próprios alunos e a outra metade custeada por empresários do setor de confecções, por
outros segmentos e também pela prefeitura.
O Sindicato da Indústria do Vestuário de Apucarana e Vale do Ivaí (SIVALE) tem sua
sede em Apucarana e representa as indústrias de confecções dos municípios de Apucarana,
Arapongas, Bom Sucesso, Borrazópolis, Califórnia, Cambira, Cruzmaltina, Faxinal, Grandes
Rios, Itambé, Ivaiporã, Jandaia do Sul, Jardim Alegre, Kaloré, Lunardelli, Manoel Ribas,
Marilândia do Sul, Marumbí, Rio Bom, São João do Ivaí e São Pedro do Ivaí. Trata-se de uma
entidade de representação patronal, responsável pela celebração da convenção coletiva do
trabalho e interlocutor local junto ao MDIC.
O Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias do Vestuário de Apucarana
(STIVAR) tem sua sede em Apucarana e representa os trabalhadores das indústrias de
Confecções dos municípios de Apucarana e Arapongas, Bom Sucesso, Borrazópolis,
Califórnia, Cambira, Cruzmaltina, Faxinal, Grandes Rios, Itambé, Ivaiporã, Jandaia do Sul,
Jardim Alegre, Kaloré, Lunardelli, Manoel Ribas, Marilândia do Sul, Marumbí, Rio Bom, São
19
João do Ivaí e São Pedro do Ivaí. A Convenção Coletiva de Trabalho ocorre no mês de
outubro de cada ano.
A Associação Comercial, Industrial e de Serviços de Apucarana (ACIA), criada em
1949, reúne, atualmente, mais de 500 associados. Esta instituição representa o
empresariado comercial, industrial e de serviços de Apucarana e tem uma empresária do
ramo de confecções de bonés como diretora. A ACIA mantém uma página na Internet, na
qual divulga suas atividades e as ações do APL dos Bonés. A entidade foi responsável pela
instalação da unidade do Sistema de Cooperativas de Crédito (SICOOB) e pelo Centro
Moda, em Apucarana.
A Associação das Indústrias de Bonés e Brindes de Apucarana (ASSIBBRA) foi
fundada em 2000 e desde então vem trabalhando junto com os seus parceiros e associados
para o desenvolvimento do ramo de bonés e brindes em geral. As ações têm o objetivo de
melhorar a qualidade do atendimento e do produto, com níveis de satisfação e preço
adequados. Atualmente a ASSIBBRA, composta por 17 empresas, mantém um centro de
compras e pretende comprar terreno para construção de condomínio industrial para abrigar
as empresas filiadas.
A Associação Brasileira das Indústrias de Bonés de Qualidade (ABRAFAB'Q) de
Apucarana atualmente representa 8 empresas, que se destacam pelo fato de serem
detentoras de certificações de qualidade ISO 9001. As empresas associadas à ABRAFAB’Q
produzem, conjuntamente, um total de um milhão de bonés/mês e desenvolvem um projeto
de exportação junto à APEX.
Como instituições de apoio, o APL dispõe do SEBRAE (Serviço Brasileiro de Apoio
às Micro e Pequenas Empresas), que mantém um escritório com dois consultores no
município de Apucarana e atua na oferta de cursos e no extensionismo empresarial na
região. Essa instituição destaca-se dentre as demais atuantes no APL, na medida em que
lidera as ações de estruturação do Arranjo, atendendo às necessidades específicas de
qualificação e de orientação para a capacitação do empresariado local, bem como àquelas
mais abrangentes, de promoção e desenvolvimento do APL.
A Prefeitura Municipal de Apucarana participa do Comitê Gestor do APL com um
representante permanente. Oferta cursos básicos para o ramo de vestuário, por meio da
manutenção da “Escola da Oportunidade”. Dá apoio às indústrias com infra-estruturas para
os distritos industriais e na Cidade do Trabalho, além de administrar o sistema de comodato
de imóveis cedidos pela administração pública para instalações industriais. A partir da
constatação empírica da existência de um número elevado de estabelecimentos informais
no APL, a Prefeitura, conjuntamente com a Governança do APL, vem desenvolvendo uma
ação na qual isenta, totalmente, os estabelecimentos informais vinculados ao ramo
confeccionista do pagamento de tributos para a sua devida formalização.
Várias instituições públicas e parapúblicas que não têm representação em
Apucarana realizam atividades de apoio ao APL. Desse modo, as empresas também contam
20
com o apoio do Sistema Federação das Indústrias do Paraná (FIEP), por intermédio de suas
instituições SENAI (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial do Paraná), SESI (Serviço
Social da Indústria do Paraná) e IEL (Instituto Euvaldo Lodi do Paraná). Ao SENAI cabe a
contribuição de formar mão-de-obra adequada e habilitada para o segmento, na forma de
cursos de formação profissional básicos, cursos técnicos profissionalizantes, entre outros.
Além disso, o SENAI realiza, por meio da RETEC (Rede de Tecnologia do Paraná), diversas
Clínicas Tecnológicas.
A unidade local da Caixa Econômica Federal (CEF) mantém uma linha de crédito
especial para as empresas do APL em Apucarana, com taxa de juros inferior à de outras
instituições bancárias comerciais do município. Além desse agente financeiro, o APL dispõe
do Banco do Brasil, que, igualmente, disponibiliza uma linha de crédito especial para as
empresas do APL de Bonés de Apucarana.
É importante destacar, ainda, a participação efetiva da Rede APL Paraná, que
integra as diversas instituições que atuam nos APLs paranaenses e tem como objetivo
articular as ações dos diversos agentes que atuam nesses aglomerados industriais.
21
7 SUGESTÕES E DEMANDAS LOCAIS
A sistematização dos trabalhos desenvolvidos sobre o APL de Bonés de Apucarana
permitiu elencar uma série de pontos de estrangulamento e, também, as demandas apontadas
pelos empresários locais com vistas a subsidiar a elaboração de políticas de desenvolvimento
para o APL. Entretanto, dado que os principais trabalhos que fundamentaram a elaboração
desta Nota Técnica foram desenvolvidos em períodos anteriores, muitas das demandas do
segmento estão na pauta de ações da Governança do APL, e algumas delas já foram total ou
parcialmente executadas, conforme levantamento descrito nos Apêndices 1 e 2.
A partir disso, procedeu-se a consultas de validação e de atualização das
demandas junto às lideranças locais, as quais foram obtidas por meio de uma ampla
discussão junto aos integrantes da Governança Local do APL. As mais citadas foram
destacadas no quadro abaixo, hierarquizadas de acordo com as prioridades estratégicas de
atuação da Governança. Vale-se salientar que, das 10 demandas eleitas como prioritárias
pelos representantes locais, 50% delas dizem respeito à questões relacionadas com a
estrutura mercadológica do APL, área que deverá sofrer maior intervenção no planejamento
de desenvolvimento e estruturação do APL de Bonés.
QUADRO 1- PRINCIPAIS DEMANDAS PARA COMPOR UMA AGENDA DE POLÍTICAS PÚBLICAS PARA O APL DE
BONÉS DE APUCARANA, SEGUNDO A GOVERNANÇA DO ARRANJO
PRINCIPAIS DEMANDAS Nº DE INDICAÇÕES
1 _ Subsidiar, por meio de estudos e ações, o desenvolvimento de estratégias de
expansão mercadológica, no âmbito do mercado interno e do externo.
6
2 _ Articular a implementação de técnicas de gestão modernas e mais adequadas,
profissionalizando e desenvolvendo o setor na gestão empresarial.
5
3 _ Promover a ampliação da oferta de vagas nos cursos de qualificação da mão-deobra
local e apoiar a instituição de outros cursos para atendimento das demandas
das empresas, entre eles o curso superior da moda.
4
4 _ Criar mecanismos de inserção do APL no mercado externo, especialmente no
mercado americano.
3
5 _ Apoiar a instituição de programa de marketing, incentivando a promoção, a maior
visibilidade e a divulgação da imagem do APL no mercado nacional e no exterior.
3
6 _ Apoiar e viabilizar a participação dos empresários do APL em eventos nacionais e
internacionais específicas do ramo de atividade do APL.
3
7 _ Apoiar a organização de um consórcio de exportação a ser formado por um grupo de
empresas aptas para este fim.
3
8 _ Orientar os empresários sobre mecanismos de financiamento, bem como estimular a
criação de uma cooperativa de crédito específica para o segmento, ou,
alternativamente, fortalecer a cooperativa local.
3
9 _ Criar programas de capacitação empresarial visando à otimização dos níveis de
qualidade e eficiência produtiva.
2
10 _ Viabilizar a criação e a instituição de linhas de crédito específicas para aquisição de
maquinários, principalmente os importados.
2
22
A principal demanda apontada pelos empresários locais diz respeito à
necessidade de apoio à realização de estudos e ações, voltados para o desenvolvimento de
estratégias de expansão mercadológica, no âmbito do mercado interno e do externo. Em
relação ao mercado interno, apoiar a elaboração de estudos que revelem o potencial de
crescimento do setor e as medidas necessárias para o alcance deste fim: melhor utilização
do mercado esportivo através da inclusão de kits com bonés, estreitamento dos contratos
com as grifes (que consideram o boné como parte do vestuário) e outras, que visem à
ampliação da demanda de bonés no Brasil.
Como segunda demanda, as lideranças locais reivindicam apoio para a
articulação na implementação de técnicas de gestão modernas e mais adequadas, visto que
a maioria dos empresários do APL apresenta um perfil de jovem empreendedor e com pouca
experiência na atividade empresarial, profissionalizando e desenvolvendo o setor na gestão
empresarial com conhecimentos inerentes à sustentabilidade do negócio.
Julgam importante a promoção e a ampliação da oferta de vagas nos cursos de
qualificação da mão-de-obra local e a instituição de outros cursos para atendimento das
demandas das empresas, a fim de preencher os cargos que exigem maior grau de qualificação
e competências, entre eles o curso superior da moda (ainda não oferecido na região).
Os atores locais solicitam apoio e incentivo da Rede no fornecimento de subsídios
para a potencialização e ampliação do mercado, criando mecanismos de inserção do APL no
mercado externo, especialmente no americano, o qual representa um amplo potencial
consumidor a ser explorado. Surge como outra importante demanda do segmento o apoio
na instituição de programa de marketing, incentivando a promoção, a maior visibilidade e a
divulgação da imagem do APL no mercado nacional e no exterior.
Constitui-se em outra demanda apoiar e viabilizar a participação dos empresários
do APL em eventos nacionais e internacionais (feiras, simpósios, convenções) específicos
do ramo de atividade do APL, para a busca de informações e a troca de experiências sobre
tendências inovativas, design, máquinas, equipamentos, técnicas de gestão, de produção e
processos, e informações tecnológicas a respeito do mundo da moda, com vistas à busca
de melhorias da qualidade do processo produtivo e do produto
Os empresários e representantes locais solicitam apoio para a organização de um
consórcio de exportação a ser formado por um grupo de empresas aptas para este fim. Esta
ação coletiva propiciará a fabricação de volumes superiores de produção para exportação
com padrões uniformes de qualidade, evitando-se perda do lote, quebra de contratos e
prejuízos, riscos recorrentes quando a empresa atua de forma isolada.
Outras demandas sugerem orientar os empresários sobre mecanismos de
financiamento, bem como estimular a criação de uma cooperativa de crédito específica para
o segmento, ou, alternativamente, fortalecer a cooperativa local (agência SICOOB), bem
como criar programas de capacitação empresarial de modo que as empresas
confeccionistas estejam aptas a cumprir seu papel de difusoras de maiores níveis de
23
qualidade e eficiência produtiva, habilitando-as a transferir este conhecimento às empresas
subcontratadas do APL.
Finalmente, requerem a criação e a instituição de linhas de crédito apropriadas ao
segmento, principalmente para aquisição de maquinários, que são majoritariamente importados,
cujos valores ultrapassam o limite das linhas existentes para micro e pequenas empresas.
24
8 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O APL de Bonés de Apucarana foi se constituindo ao longo dos últimos 20 anos e, a
despeito da crise do ramo de confecções na década de 1990, constata-se que o segmento
consolidou-se nesta última década. Destaque-se que os atores locais, nesse período, foram
capazes de construir uma densa estrutura produtiva, necessária ao desenvolvimento do arranjo.
Contudo, após o processo de intervenção integrada de instituições públicas e
parapúblicas no arranjo, houve uma significativa mobilização dos atores locais, a qual foi
decisiva na busca da expansão dos potenciais das empresas e da sustentabilidade do arranjo.
Constata-se que, desde a sua idealização, o APL vem protagonizando diversas
iniciativas, que vão desde o processo de negociação da forma de gestão do APL até a
promoção de cursos e consultorias em gestão e capacitação empresarial, formação de mãode-
obra, promoção mercadológica e alavancagem tecnológica.
Vale destacar que os bons resultados alcançados têm seu sustentáculo em uma
governança local bem organizada e atuante, a qual desenvolve atividades permanentes, via
atuação do Comitê Gestor e de suas Comissões Temáticas, sendo, freqüentemente,
fortalecida por meio da adesão das mais diferentes entidades vinculadas ao segmento.
Apesar desses aspectos positivos e a despeito da capacidade endógena de
consolidação de ações de fortalecimento, o APL, a exemplo dos demais, ressente-se da
necessidade de uma intervenção mais incisiva por parte dos poderes público federal, estadual e
municipal, por meio da execução de políticas públicas de apoio na execução de algumas ações,
com vistas a promover e acelerar o desenvolvimento desse emblemático APL do Estado.
25
APÊNDICES
26
APÊNDICE 1 - PRINCIPAIS AÇÕES REALIZADAS NO APL DE BONÉS DE APUCARANA - 2005/2006
Nº AÇÃO REALIZADA EXECUTORES PERÍODO
01 Sebraetec – treinamento para implantação de sistema de qualidade (15 empresas) SEBRAE 2000-2005
02 Programa de Controle de Processos (PCP), Gestão de Qualidade, Rede de Agentes SEBRAE 2000-2005
03 Cursos do SEBRAE sobre gerenciamento de produção, consultoria individual de
marketing e gestão financeira
SEBRAE 2000-2005
04 Treinamento de liderança para os gerentes de produção SEBRAE 2000-2005
05 Concurso para a logomarca do APL APL 01/2005
06 Criação da ANIBB – Associação Nacional das Indústrias de Bonés, Brindes e Similares Empresários do setor 07/2005
07 Realização da Convenção Brasileira de Fabricantes de Bonés, Brindes & Similares APL 07/2005
08 1a. Edição da Feira Nacional dos Fornecedores de Matérias-Primas para a Indústria de
Bonés, Brindes e Acessórios – EXPOBONÉ, com movimento de negócios na ordem de
R$ 10 milhões
Governança do APL 07/2005
09 Participação no projeto Semana do Paraná em Paris (França), com o objetivo de
exportar 10% da produção até 2008
FIEP 08/2005
10 Participação na 2a. Conferência de APL com stand demonstração BNDES 09/2005
11 Oficina de planejamento- SIGEOR. Avaliação das ações realizadas em 2005; Cenários
para o setor em 2006; Validação das ações sugeridas e parcerias
SEBRAE 09/2005
12 Programa Procompi: gestão e estratégia financeira para as indústrias CNI/SEBRAE 2005
13 Programa Procompi: Oficina prática de contabilidade de custos e formação de preços CNI/SEBRAE 2005
14 Cursos básicos para o setor têxtil Prefeitura municipal 2005
15 Projeto “aba sem memória” – Recursos de R$ 250 mil da FINEP SOCIESC 2005
16 Convênio com a FETAP para a qualificação de mão-de-obra nos distritos de Apucarana.
Os cursos serão oferecidos pela Escola da Oportunidade.
APL, ACIA, SEBRAE,
Prefeitura e SIVALE
01/2006
17 Capacitação de Gestores de Negócios e Moda no APL MDIC/SEBRAE
18 Células comunitárias, cursos de 160 horas para costureiras Prefeitura Municipal 02/2006
19 Evento Café & Negócios, no salão social da ACIA. Reuniões periódicas dos
empresários; bate-papo e apresentação das ações do APL
Governança do APL 03/2006
20 Fabricação de um boné gigante como estratégia de marketing ANIBB/Prefeitura 05/2006
21 2a. Edição da Feira Nacional dos Fornecedores de Matérias-Primas para a Indústria de
Bonés, Brindes e Acessórios – EXPOBONÉ.
Governança do APL 05/2006
22 Rodada de Negócios, com a participação de 25 empresas, na Expoboné Governança do APL 05/2006
23 Federalização do Centro Moda (incorporação do Centro Moda à Universidade
Tecnológica Federal do Paraná – UTFPR)
Governança do APL 05/2006
24 Programa de Capacitação para o Comércio Exterior – PSCCEx ACIA, APL e SEBRAE 08/2006
25 Lei Municipal 089/06 concede benefícios fiscais para a regularização de pequenas
empresas informais.
Prefeitura Municipal 08/2006
26 Clínica Tecnológica. Tema: consultoria com especialista para analisar problemas no
processo de confecção da aba dos bonés.
FIEP/RETEC 08/2006
27 Curso do SEBRAE sobre o processo de exportação, em três módulos e 48 horas/aula. SEBRAE 08/2006
28 Inscrições para o curso de informatização para empresários do APL (em
setembro/2006).
APL 08/2006
29 Rede Agentes-Caixa Econômica formou 40 agentes SEBRAE/Caixa 2006
FONTE: CENSO industrial 2006
NOTA: Elaboração IPARDES.
27
APÊNDICE 2 - ORGANIZAÇÃO DO PROCESSO PRODUTIVO DO APL DE BONÉS DE APUCARANA
Nº DA ETAPA ETAPA DESCRIÇÃO
1 Criação Abrange a criação da coleção e do design, a confecção do leiaute, da peça- piloto e do
gradeamento (passagem de um desenho original para vários tamanhos a serem produzidos).
2 Almoxarifado Controla a saída dos tecidos e aviamentos do estoque para a produção.
3 Modelagem
4 Dublagem Trata-se da colagem do tecido à esponja (espuma, plástico e entretela), que tem a finalidade
de aumentar a resistência, a estabilidade e a impermeabilidade dos materiais utilizados.
5 Corte de tecidos e de viés Esta etapa absorve as funções de enfestadores e operadores de balancins (equipamentos
que cortam mediante facas (moldes), que são fixadas em uma base que prensa e corta os
tecidos.
6 Serigrafia (operação de
silk-screen)
As telas são fotografadas, reveladas e recebem a tinta; a tinta é prensada nas peças que são
secadas com soprador térmico. Nesta etapa pode ser utilizada a técnica de flash cure
(utilização de glitter ou purpurina).
7 Montagem das abas Costura, circula ou perfila as abas no tecido.
8 Costura Realizada com máquinas retas, interloque, overloque e pespontadeira (máquina com 2
agulhas, para costurar abas com adaptador, furar e costurar ilhós).
9 Montagem Consiste em fechar o boné, pespontar, passar o fitilho e pregar o bico.
10 Bordado Confeccionado com máquinas computadorizadas.
11 Acabamento Colocação de forro, botões, fivelas, pingentes. Passamento do boné, a vapor, limpeza de fios
e linhas excedentes (pequenas sobras) e retirada de peças com defeitos de costura (como
descontinuidades, desvios e enrugamentos).
12 Embalagem A embalagem individual é feita com saco plástico fechado por fita adesiva ou solda eletrônica,
contendo indicação externa do tamanho do boné. A embalagem em lotes é feita em caixa de
papelão ondulado, contendo 50 bonés e constando os dados do confeccionista e do cliente.
FONTE: CENSO industrial (2006)
NOTA: Elaboração IPARDES
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