LENDAS QUARESMA


LENDAS MITOS E CRENDICES POPULARES NO TEMPO DA QUARESMA

LENDAS MITOS E CRENDICES POPULARES NO TEMPO DA QUARESMA
É no período que abrange a quarta-feira de cinzas e a Páscoa, conhecido como Quaresma, que o lobisomem se transforma e domina as madrugadas. Os quarenta dias voltados para a preparação dos cristãos para a Páscoa também são conhecidos como "Tempo de Lobisomem", e as lendas vão além: tempo de mula sem cabeça, e outras histórias de arrepiar.

Tais assombros podem até ter características brasileiras, mas são importados. O lobisomem é uma figura que existe desde a Grécia Antiga; da mesma forma, a mula sem cabeça, figura vinda da Península Ibérica.

Parte do conhecimento popular, cada região perpetuou uma história diferente. Em São Paulo, por exemplo, a cidade de Joanópolis é conhecida como a Capital do Lobisomem. Este não vem sob pelo de lobo, mas tem a forma de um homem com pele macilenta e que se alimenta de sangue, não necessariamente humano.

Colecionador de histórias, o jornalista mineiro Mouzar Benedito, atualmente vivendo em São Paulo, tem se dedicado às histórias populares. As lendas estrangeiras vão integrar o sexto texto de uma série de comentários sobre lendas do Brasil - série que foi realizada com um único propósito: defender a cultura popular.

"Sempre gostei muito de conversar com as pessoas, e por onde eu passava, fui me irritando com o povo comemorando o Halloween, fazendo algo que nem sabem o que é", diz.

Há quem jure de pés juntos conheceu um lobisomem. Situações como essas, mais comuns no imaginário de gerações passadas, tem uma explicação plausível para Benedito. "É um período cheio de proibições, e a igreja sempre trabalhou muito com o medo, fazendo com que esses seres tenham uma forte ligação com a Quaresma", diz. Ele conta que tem gente que acha tudo isso uma baboseira sem tamanho, mas que há um sentido.

"Na Grécia Antiga os sacerdotes criavam esses mitos e através deles vinham as normas de conduta. No Brasil não é diferente, sempre ligado ao sentido moral da coisa", explica. Os "causos", restritos ao pessoal do interior, foram se perdendo pelo caminho, dando lugar a novas figuras. "Escrever sobre isso foi para preencher essa falta", conta.

O coordenador do curso de Teologia do Cesumar, Edrei Daniel Vieira, explica que própria Quaresma é pouco compreendida e vivenciada pelos cristãos. "Acredito que as igrejas protestantes deixaram de observar essa data como forma de diferenciação. Mas nem por isso a Quaresma deixa de existir", diz.

E as lendas acabam também ficando para trás. "Não foi a religião que fez com que isso acabasse", diz Vieira. "Lendas antigas e novas caem por terra não só quando a pessoa se volta para a religião, mas também para a ciência."


Tempo de preparação

O padre Orivaldo Robles explica que os quarenta dias da Quaresma são um empo de preparação para a Páscoa. As penitências, geralmente vinculadas com a época, não devem ser encaradas como algo ruim. "Quando você escolhe algo, se priva do restante. Não é perda, é preferência pelo que você entende como melhor", diz.

Para o teólogo Edrei Daniel Vieira, a reflexão atrelada ao período de quem leva a sério a Quaresma, nada tem a ver com temores de assombrações. Pelo contrário, é uma proposta de mudança sempre positiva. Padre Orivaldo conta que refletir, não somente na preparação para a Páscoa, é descobrir aspectos inexplorados do próprio ser. "Este é um tempo forte.

Mas a necessidade de mudança é permanente", observa. E após passar esses ensinamentos cristãos de geração em geração, o parecer é o mesmo. "Significa que em nossa vida sempre temos algo a melhorar."

Início da Quaresma reaviva também folclore e crendices populares

Mula-sem-cabeça e lobisomem estão entre os mitos e costumes já assustaram muitas crianças e adultos no período de preparação até a Páscoa
Irati - Várias lendas e crendices permeiam o imaginário popular no período da Quaresma, os quarenta dias desde a quarta-feira de cinzas até a quinta-feirada Semana Santa. Hoje, essas tradições folclóricas estão bem mais reduzidas, acabaram se perdendo com o tempo. Porém, para pessoas mais velhas, e em alguns lugares no interior, a Quaresma ainda é um período de recolhimento, oração, e de dormir cedo, principalmente na sexta-feira, pois, acredita-se que nesse dia a mula-sem-cabeça e o lobisomem estão soltos no mundo.
A dona de casa Etelvina Bendo, hoje com 65 anos, lembra que quando era jovem, as tradições da Semana Santa eram seguidas a risca na sua casa. “Minha mãe sempre contava que se passasse na Sexta-Feira Santa perto de um cemitério, você iria ver algum morto caminhando, além disso, durante toda sexta-feira da Quaresma não podia sair à noite que poderia ver o lobisomem. E dançar, só até a meia noite da quarta-feira de cinzas, se passasse disso, você poderia ver o demônio. A mãe dizia assim: pula, pula até meia noite, porque depois o diabinho aparece. E, se a mãe descobrisse que passamos da meia-noite no carnaval, era castigo em certa”.  Costumes como esse eram seguidos em muitos locais, e para quem não obedecesse o castigo vinha, se não fosse obra do acaso era dado em casa, pelos pais.
“Na Sexta-Feira Santa era proibido olhar no espelho porque viria outra imagem, algo horripilante, como a figura do próprio demônio. Também não se podia ouvir rádio, cantar, assobiar, ou, qualquer coisa que demonstrasse alegria”. Assim era a Quaresma, e principalmente a Semana Santa, na casa de Murilo Walter Teixeira, 74, que se recorda da infância, quando em sua casa, vários costumes e crendices eram respeitados durante esse período.
Muitas outras são as lendas da Quaresma, que variam de região para região. A seguir, algumas das mais comuns e dos costumes que eram respeitados no período.
A Mula-sem-cabeça – Reza a lenda que a mula-sem-cabeça é uma mulher que devora cadáveres nos cemitérios ou se alimenta de sangue humano. Nas noites de sexta-feira da Quaresma e durante toda a Semana Santa, a mula-sem-cabeça fica solta, correndo pelos campos e até dentro das cidades. E que ninguém veja a mula, pois, se ver e ficar olhando, fica maluco.
Outro que amedronta nesse período é o Lobisomem. Apesar de ser conhecido também em outras partes do mundo, o lobisomem brasileiro é um pouco diferente dos de outros lugares. No Brasil, o lobisomem é um homem pálido, de aspecto doentio e que por ser filho de incesto ou por ter nascido depois de uma série de sete filhas, é condenado pelo destino a virar lobo, cachorro, bezerro ou porco, em dias e horas determinadas (geralmente as terças e sextas-feiras, de meia-noite às duas horas da madrugada e principalmente na Semana Santa e Quaresma). Depois de transformado,  têm que fazer suas corridas: visitar sete cemitérios, sete colinas, sete encruzilhadas, sete igrejas, para voltar a ter forma humana.
A procissão dos mortos: Na noite de Sexta-Feira Santa, há uma crença que fala de uma espécie de procissão dos mortos. Segundo ela, os mortos saem dos cemitérios, todos vestidos de branco, saudando o aparecimento do Cristo entre eles, tal como aconteceu depois que Jesus morreu no Monte Calvário e que centenas de mortos ressuscitaram. Dizem que só vê a procissão dos mortos quem sai à noite de Sexta-Feira Santa para festar.
A Sexta-Feira da Paixão é a que mais é alvo da crendice e superstição popular.  Na Sexta-Feira Santa não se pode fazer nada, sob pena de castigo. “Se pregar alguma coisa nesse dia, seria o mesmo que estar pregando Cristo na cruz, dizem os mais antigos; um homem foi caçar nesse dia e acertou um veado pardo, quando se aproximou viu que matou seu próprio filho; outro que também foi caçar acertou uma capivara, cujo tiro acertou no meio do animal e uma parte do bicho continuou correndo para um lado e outra para outro lado; dançar no tempo da Quaresma cria rabo ou pés de cabra, igual às do demônio”, eram as histórias que o professor de história Ariel José Pires mais ouvia a respeito da Quaresma quando criança.
Outra tradição de muitos fiéis católicos era jejuar, com abstinência de carne em todas as quartas e sextas de Quaresma e na Semana Santa inteira. Hoje, esse costume caiu bastante em desuso e não é uma imposição da igreja.
Segundo outras tradições, nesse dia não se pode cortar a unha, se o ato for feito, dependendo da região do país, acredita-se que “faz unheiro”, ou “dá dor de dente”, ou “dá inflamação nos dedos”. Não se varre a casa, porque “faz mal”, ou porque “se varre os cabelos de Nosso Senhor”, ou, para não alvoroçar os bichos ruins; escorpiões, aranhas, etc. Também em tal dia, não se deve fazer a barba, nem pentear o cabelo. E “o café será tomado amargo, porque os judeus deram a Jesus fel amargurado”. Para muitas pessoas, trabalhar nesse dia então, nem pensar.
O dia da malvadeza: É na Quinta-feira Santa, quando começa a anoitecer. Bandos de foliões invadem currais, soltam o gado, enxotam as galinhas, estragam plantações. Fazem, enfim, qualquer tipo de malvadeza. Isso é praticado principalmente em fazendas.
Furtos da Sexta-Feira Santa: Em alguns lugares era costume roubar na noite de sexta-feira e dizia-se que não era pecado, porque o Senhor estava morto e não podia ver. O roubo, porém, nunca se efetivava para prejudicar alguém, roubavam frangos e depois levavam à casa do dono, no geral um conhecido, para que fossem preparados para o banquete de Aleluia. Os principais alvos dos roubos eram galinheiros.
Malhação do Judas: É uma tradição malhar o Judas no Sábado de Aleluia. E em muitas cidades do Brasil esse costume ainda é mantido. O motivo da malhação de um boneco que representa o Judas. É uma espécie de vingança do que ele fez para Jesus, é demonstração de revolta pela atitude do traidor.

Origem do folclore e a visão da igreja católica:
Esses costumes e as tradições da Quaresma são muito antigos, vem desde a Idade Média. Para o professor de História da Unicentro, Ariel José Pires, essas lendas foram sendo elaboradas pelos próprios membros da igreja católica. “A maioria são invencionices que foram se espalhando e chegando até os dias atuais, essas lendas são uma ferramenta importante de dominação e implementação de valores, para imposição, no imaginário popular, de crendices, mitos e lendas, utilizando-se do “desconhecido”, do “misterioso”, do “medo”, sobretudo no tempo da Quaresma”, conta. O professor Ariel dá alguns exemplos do que poderia ter originado algumas dessas crenças. “É costume que durante a Quaresma só se pode comer peixe e não outras carnes porque é tempo de sacrifício e jejum para purificar o corpo e a alma. Na verdade, no tempo em que isso foi inventado, era por uma questão sócio-econômica, de muitas sobras de peixe no mercado, e falta das outras carnes, complementa.
O significado da Quaresma para os cristãos e, principalmente, para a igreja católica, é a lembrança dos quarenta anos em que o povo de Deus vagou pelo deserto procurando a terra prometida. A Quaresma é a preparação que vai até a Páscoa. Durante esse período, os fiéis devem se aproximar de seu lado espiritual, é um período de reflexão. “A Quaresma é um longo período de penitencia, de oração, de interiorização, de preparação para a Páscoa. E o significado do Carnaval é um período de lazer antes de iniciar a rigorosa Quaresma. Aqui no Brasil, sabemos que o Carnaval é encenação e representação do teatro, da música, da dança e é lógico que nós como cristãos, sentimos quanto a humanidade se degradou no carnaval”, explica o Padre João Rocha, que foi professor da história das religiões durante anos.
A igreja não proíbe nada durante esse período, mas, faz recomendações para que se viva com sobriedade, não só durante a Quaresma, mas, o ano todo. Para o padre, essas crendices que giram em torno da Quaresma também são resultados de invencionices populares e até mesmo do fanatismo de alguns fiéis ao longo dos anos. “Podemos dizer que não havia em si proibições, havia orientações, mas o povo radicaliza às vezes. Não é não pode isso ou aquilo, é um período de sobriedade, de recolhimento. Existem um monte de crendices, mas isso não tem nada a ver com o cristianismo, são coisas que nasceram paralelas”. Mesmo sendo Crendices, fantasias ou lendas, o fato é que em tempo de Quaresma, muita gente se tranca cedo em casa.

Lenda da Menina Quaresmeira

Há muitos anos atrás existia , num vilarejo , uma menina chamada Quitéria .
Aos cinco anos de idade , quando foi pela primeira vez na missa da Quaresma , esta garota recebeu a marca das tradicionais cinzas na testa . Ao chegar em casa , Quitéria não quis lavar a marca e passou os quarenta dias da Quaresma rezando e realizando curas . Ela só lavou a testa no domingo de Páscoa . A partir daquele dia , todo o período da Quaresma a menina fazia o mesmo ritual e só limpava a testa na Páscoa . Por isto , esta criança recebeu o apelido de Quaresmeira . 
Aos doze anos , Quitéria teve meningite e faleceu . 
Um ano depois , nasceu uma árvore ao lado do seu túmulo . Era uma árvore desconhecida com flores roxas . O povo notou que estas flores só apareciam no período da Quaresma , por causa deste fato e pela planta ter nascido ao lado do túmulo de Quitéria , esta árvore recebeu o nome de Quaresmeira . 
Diz a lenda que o fantasma de Quitéria sempre sai de dentro de uma Quaresmeira , na época da Quaresma , e este espírito sempre anda com marcas de cinza na testa . Por isto , sempre quem faz um pedido para uma Quaresmeira na época da Quaresma tem o seu sonho realizado .

Posted by DJ BURP | às 10:58

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