COMO PROGREDIU OS FILMES DE SUPER-HERÓIS
Andei lendo várias opiniões sobre o filme dos Vingadores nos últimos dias. Uma introdução comum antes de algumas pessoas emitirem suas opiniões é “Não sou fã, mas…”. E depois vêm os elogios e comentários, sendo que muitos deles vão ao encontro do que a parcela nerd do público vem falando sobre a superprodução da Marvel.
Em 1978, surgiu o primeiro grande filme de super-heróis, o “Superman” estrelado por Christopher Reeve, considerado até hoje um tipo de Santo Graal desse gênero. Onze anos depois, foi a vez de Batman chegar a um grande filme pelas mãos de Tim Burton. Antes desses filmes, os dois heróis já haviam se tornado ícones universais da cultura pop não apenas pelos quadrinhos, que vendiam mais antigamente, mas principalmente pelos prévios seriados e desenhos animados. Ou seja, esses filmes estrearam em uma época em que os conceitos de “nerd” e “não-nerd” não era tão bem definidos; e todos nutriam alguma afinidade pelos dois heróis, em maior ou menor grau.
Nos anos 90, vários fatores mudam essa situação. Nos Estados Unidos, o mercado de comic shops ganha terreno e começa a sufocar a venda de quadrinhos nas bancas de revistas. A Marvel consolida a liderança de super-heróis com a revista que até hoje é um recorde com 3 milhões de edições vendidas: o primeiro número do título “X-Men” desenhado por Jim Lee. A internet começava a agregar leitores de todo o mundo. Nos cinemas, a franquia do Batman continua com resultados cada vez piores, chegando ao horrendo “Batman & Robin” de 1997. No fim da década, a Marvel quase foi à falência após perder seus melhores desenhistas, que fundaram a editora Image.
Entrávamos no ano 2000 em meio a uma crise criativa nos quadrinhos de super-heróis – crise essa que dura até hoje, aliás. E até aquele ano, os únicos heróis da DC que haviam ganho as telas do cinema ainda eram os mesmos Super-Homem e Batman de lá atrás. Na Marvel, a situação era pior: só os obscuros Howard o Pato (em 1986) e Blade (em 1998) haviam despontado em película. Ou seja, foram quase duas décadas em que não houve quase nenhum progresso para expandir a mitologia heroica junto ao grande público consumidor de cinema.
Esse panorama ajudou a consolidar uma fronteira bem definida. De um lado, havia os nerds leitores de HQs de longa data, conhecedores profundos do cânone dos heróis e pessoas profundamente desconfiadas dos rumos que esses personagens vinham tomando nas outras mídias. Do outro, o público “newbie”, “não-fã”, que ignorava a militância nerd e aguardava em silêncio por bons filmes com heróis. E não fazem distinção: podia ser tanto aqueles que “já ouviram falar” quanto aqueles a serem (re)descobertos pelos estúdios.
Mas aí a Marvel inaugurou uma nova era com o primeiro filme dos X-Men, de 2000. Produzido com prudência pela Fox e um orçamento apertado – afinal, quem do público geral conhecia aqueles tais “mutantes”? – foi um sucesso tremendo e abriu a porteira para as novas e bem sucedidas iniciativas da editora na sétima arte. O resto é história: Homem-Aranha, Homem de Ferro, Thor, Capitão América e os próprios X-Men estrelaram várias produções e mais uma vez reescreveram a história do casamento entre HQs e cinema.
Existem dois fatores cruciais para essa safra de filmes de super-hérois de todo tipo, inimaginável há duas ou três décadas. O primeiro é que os executivos pos trás desses filmes são nerds que aprenderam com os erros do passado e agora sabem como conduzir essas empreitadas nos âmbitos comercial e de entretenimento. O outro é o abraço amigo do não-fã a esses filmes. Os nerds mais xiitas podem reclamar, mas possivelmente a maior parte do dinheiro que faz esses filmes acontecerem vem do bolso dessa parcela do público.
E hoje a coisa evoluiu a um ponto que já existe até o “fã de super-heróis de cinema”, que por falta de paciência nerd, oportunidade ou qualquer outro motivo, não foi capaz de acompanhar esses herois nos quadrinhos, mas sabe bem que o esqueleto de Wolverine é feito do metal adamantium ou que apenas Thor é digno de levantar seu próprio martelo, pois aprendeu tudo isso apenas pelos filmes, mais didáticos e diretos ao ponto.
A história se mostra cíclica. E como na época do Super-Homem de Christopher Reeve, entendidos e neófitos dividem as salas de cinema e torcem juntos pelo mesmo cara superpoderoso. Os nerds podem até se orgulhar de ter pavimentado esse caminho, mas que bom que todo mundo, sem exceção, passeia tranquilamente por ele.
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