ANÁLISE DE "OS VINGADORES"

Normalmente quando terminamos de assistir a um excelente filme de super-heróis, como é o caso de “Os Vingadores”, o primeiro ímpeto é a clássica pergunta: “afinal, é o melhor filme de super-heróis já feito?”. Existe todo um retrospecto de altos e baixos por trás da questão, conquistas e traumas nerds pensados e repensados na balança ao longo das últimas quatro décadas. Da minha parte e tratando-se dos Vingadores, por enquanto eu não sei responder de novo a essa pergunta. Mas sei que, se não for o melhor filme de supers, certamente é o mais impressionante e superlativo já lançado até agora.
A matéria-prima de “Os Vingadores” vem de dois níveis: o primeiro, evidentemente, dos primeiros quadrinhos de Stan Lee e Jack Kirby, e o segundo, dos cinco filmes precedentes desse recém-formado Universo Marvel nos cinemas: os dois “Homem de Ferro”, “O Incrível Hulk”, “Thor” e “Capitão América”. A premissa é simples e eficiente como na HQ: o deus nórdico Loki tem um plano de conquista da Terra, e a ameaça é grande demais para a tropa de elite Marvel, a S.H.I.E.L.D., ou mesmo para os heróis citados combaterem isoladamente. A união de poderes e choques de personalidade é inevitável para impedir o pior.
A direção de Joss Whedon e a história coassinada pelo mesmo Whedon e Zak Penn demonstram em cada segundo de filme que missão dada é missão cumprida. E a missão era fazer o melhor e mais divertido filme de ação que esses personagens podem proporcionar sem perder de vista suas raízes de celulóide. Como nos demais filmes do estúdio Marvel em parceria com a Paramount, não há espaço para diretores imporem seu estilo pessoal ou firulas de roteiro. Aqui o papo é reto como um raio repulsor do Homem de Ferro. “Os Vingadores” é um daqueles sonhos nerd que esperaram décadas para se realizar e a Marvel assegura que nada ou ninguém mal-intencionado nos estúdios impeça isso.
Dito isso, é sentar na poltrona do cinema e relaxar com a habilidade de Whedon de dividir tempo e importância de tela para cada herói ou coadjuvante. Se usarmos um cronômetro, é possível mesmo que “Robert Downey Stark” ganhe a maior parte dos holofotes, mas é mais do que justo. Downey Jr. é de longe o mais tarimbado do grupo principal e seu já comprovado timing cômico é aqui elevado ao cubo, indo desde a ânsia de irritar Banner para se transformar no Hulk até as ironias contra a pompa asgardiana de Loki e Thor.
Mas os demais não estão mal, pelo contrário. Destaco sobretudo os que tinham mais chance de se dar mal por serem os menos poderosos: a Viúva Negra de Scarlett Johansson e o Gavião Arqueiro de Jeremy Renner. Ela está muito melhor do que no seu debute no “Homem de Ferro 2″ e ele, no começo da história, ganhou uma chance de aparecer “ao avesso” que deu muito certo. Chris Evans até me fez esquecer que um dia foi o Tocha Humana, conseguindo ser o Capitão líder que adoramos no terço final da trama; Chris Hemsworth é um Thor na medida; e o novato Mark Ruffalo foi para mim o menos interessante, não conseguindo compor muita coisa para Bruce Banner (ele é o Mark Ruffalo de sempre, na verdade), mas pelo menos o Hulk está finalmente em um grau certo entre o monstro e o herói por acaso.
Também não podemos esquecer de um tempero especial que a Marvel vem trazendo em suas produções: o humor certeiro o bastante a ponto de valorizar e não rebaixar seus próprios personagens. A comédia é essencial para não deixar o ritmo cair nas cenas sem ação, e eu poderia terminar este parágrafo só relembrando gag por gag, mas obviamente não farei isso. Só adianto que Tony Stark continua sendo o aluno mais engraçado da classe, mas felizmente não é o único. Quem diria que um dos diálogos mais divertidos viria de Thor?
E como não falar de um filme com Hulk, Thor, Homem de Ferro e Capitão América lado a lado sem falar das cenas de ação? Se os clássicos quebra-paus entre heróis do quadrinho transpostos para o live-action são presentinhos de luxo para quem os lê desde sempre, o terço final com a invasão alienígena é daqueles momentos que você precisa pôr suas mãos em concha debaixo do queixo esperando que ele caia rápido. E com um pouco de sorte e contexto histórico, periga ser daquelas que entrarão nas listas de grandes momentos da história do cinema. O tempo dirá.
Há pequenas falhas e desvios que passam batidos. A forma como Loki interrompe seu plano para se deixar prender pode fazer sentido em um contexto maior e com alguma boa vontade, mas é algo que um cara na mesma situação em um filme “realista” dificilmente faria. Idem para a forma como o Hulk passa de fera incontrolável para alguém que aparece quando é conveniente e aceita ordens do líder. Mas é o tipo de problema que você precisa desligar todo o seu emocional para achar, e ainda assim não te faz perder de vista o espetáculo maior. Afinal, “Os Vingadores” é isso: algo que transcende o status de mero filme-evento do verão americano e vira um grande acontecimento sensorial para fãs e não-fãs.
Parabéns, Marvel. E obrigado.

Posted by DJ BURP | às 16:42

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