BOMBAS NUCLEARES
A verdadeira
história dos testes nucleares norte-americanos
Até hoje os EUA
não ratificaram o tratado sobre a proibição de testes nucleares, o que tornou
esse acordo sem validade. Mas essa não é a única razão pela qual o escarcéu
feito na mídia norte-americana – e em suas filais de outros países – sobre o
recente teste nuclear coreano rescende a mero cinismo e hipocrisia. Merece que
seja lembrado o que foram os testes nucleares dos EUA. Ao contrário da Coreia,
os EUA não eram um país cercado, bloqueado e constantemente ameaçado por uma
força muito superior à sua. Pelo contrário, os EUA são o único país do mundo que
promoveu um bombardeio nuclear sobre outra nação – aliás, sobre os civis desta
nação, em Hiroxima e Nagasáqui. Não admira, portanto, que até o “Diário de
Notícias”, de Lisboa, jornal mais longe da esquerda que Salazar de Dom
Sebastião, haja recordado, em reportagem editorial, o que foram os testes
nucleares norte-americanos. É uma síntese desta reportagem que hoje
reproduzimos. A maior parte dos dados já foram publicados por nós há alguns
anos, com exceção dos que se referem aos acontecimentos no atol de Bikini. Mesmo
assim, a matéria dos jornalistas lusitanos é muito interessante, e muito bem
escrita – por isso, mantivemos integralmente a prosódia do português falado
naquele país
Na
sua sede de Albuquerque, o DOE (Departamento de Energia norte-americano)
armazena 6500 rolos de filme cujo visionamento foi negado durante décadas à
opinião pública dos Estados Unidos e que tiveram de esperar até meados da década
de 1990 para que perdessem o seu caráter de matéria reservada.
Que tem de especial
esta documentação para que tenhamos fixado a nossa atenção nela? Muita coisa. Em
princípio, não se trata de nada remotamente parecido com aquelas filmagens
propagandísticas da guerra fria, em que instavam os cidadãos norte-americanos a
ver o átomo como um amigo e o armamento nuclear como a garantia das liberdades
democráticas frente à horda vermelha que chegava do outro lado do oceano. Pelo
contrário, estas imagens mostram a realidade nua e crua dos testes atômicos.
Mostram paisagens e situações nas quais o adjetivo “apocalíptico” deixa de ser
uma expressão literária gratuita para recuperar o seu verdadeiro sentido.
Episódios
lamentáveis passam, uns atrás dos outros, como a existência de ensaios nucleares
na catástrofe - ecológica e humana - provocada pelas detonações levadas a cabo
no atol de Bikini, cujas consequências ainda tardaram muitos anos em ser
disfarçadas e que causaram a evacuação de praticamente toda a população das
ilhas Marshall.
“Somos uns filhos
da puta”.
Foram estas as históricas e pouco solenes palavras pronunciadas a 16 de Julho de
1945, às 5 horas, 29 minutos e 45 segundos, pelo doutor Kenneth Bainbridge.
Acabava de ser testemunha da primeira explosão nuclear no campo de tiro de
Alamogordo (Novo México), concretamente num lugar que tinha o nome adequado de
“Jornada do Morto”. Ali, a humanidade entrou na denominada “era atômica”. Com
aquela explosão culminava o Projeto Manhattan, a maior operação militar secreta
de todos os tempos. A maior parte do mérito daquele êxito pertencia ao doutor J.
Robert Oppenheimer, que tinha conseguido levar a bom porto a empresa de que se
tinha encarregado em 1942: fabricar uma bomba atômica antes dos alemães.
Apenas um mês depois
deste teste, 200 mil pessoas pereciam queimadas nas cidades japonesas de
Hiroxima e Nagasáqui. Foram elas as vítimas imoladas em prol de uma “boa causa”
para encurtar a guerra, e que passaram oficialmente à história como as primeiras
vítimas do armamento nuclear. No entanto, os primeiros seres humanos que
sofreram na carne a dentada da radiação de uma bomba atômica foram na realidade
norte-americanos.
Não havia
precedentes, assim teve de se improvisar, o que fez com que em Alamogordo se
cometessem os primeiros, embora nem por isso menos graves, ensaios nucleares
norte-americanos. Por exemplo, a auto-estrada nacional 380, que passava apenas a
15 quilômetros do local da explosão, foi atingida por uma considerável dose de
radiação. Uma dose semelhante de radiação abateu-se sobre as propriedades de
duas famílias na cidade vizinha de Bingham, as quais não foram nem alertadas nem
evacuadas pelas autoridades militares. Até em locais mais distantes se puderam
apreciar efeitos da detonação sobre o gado de algumas quintas dos arredores, já
que muitos destes animais apresentavam graves queimaduras produzidas pela
radiação beta.
Apesar de todo este
acumular de irresponsabilidades, em 1975, o lugar mereceu a designação de
monumento histórico nacional, e uma equipa de trabalhadores (que receberam uma
gratificação extraordinária por trabalharem ali) ergueram um obelisco
comemorativo no local exato em que teve lugar a explosão.
EXPULSOS DO
PARAÍSO
Não se tinha passado
um ano desde Hiroxima e Nagasáqui quando a marinha de guerra norte-americana
começou a interrogar-se até que ponto a nova arma também lhes poderia ser útil.
Para dar resposta a essa pergunta, planejou-se a denominada Operação Crossroads.
A data fixada para
este novo teste foi o dia 1 de Julho de 1946. A Operação Crossroads consistia
basicamente em comprovar os efeitos que teria uma detonação nuclear sobre uma
frota naval. O lugar escolhido para a quarta explosão nuclear da História foi o
atol de Bikini, no arquipélago das ilhas Marshall, cenário de uma das mais
sangrentas batalhas da guerra do Pacífico. Em Fevereiro de 1946, o comodoro Ben
H. Wyatt, governador militar das ilhas, comunicou oficialmente aos seus
habitantes que deveriam abandonar temporariamente as suas casas, já que o
Governo dos Estados Unidos tinha previsto efetuar ali uma prova nuclear. O seu
sacrifício contaria com a gratidão de toda a humanidade, já que esta prova seria
uma peça fundamental no futuro desenvolvimento tecnológico e no fim definitivo
de todas as guerras. Assim, em Março de 1946, começou o penoso êxodo dos 167
habitantes de Bikini, com o seu rei à cabeça, que foram deportados para outro
atol a 200 quilômetros de distância, Rongerik, um lugar muito menor, com
escassos recursos de água e alimentos. Para cúmulo das humilhações, Rongerik era
tradicionalmente considerado como um lugar maldito pelos habitantes de Bikini.
Tudo isto contribuiu para que os nativos se arrependessem de ter acatado tão
docilmente a decisão dos Estados Unidos. Mas já era demasiado tarde.
O certo é que Bikini
era o lugar perfeito para aquele objetivo; isolado, deserto (uma vez deportada a
população aborígene, claro) e afastado das rotas marítimas habituais. Durante
dias espalhou-se pela área circundante uma sinistra frota de barcos fantasma,
formada por embarcações de todos os tipos e tamanhos, que se encontravam prestes
a serem desmanteladas e que serviam de “alvo”, levando a bordo uma tripulação
formada por 5400 porcos, ratos, cabras e ovelhas que substituiriam os
marinheiros e permitiriam estudar os efeitos da radiação sobre os organismos
afetados pela detonação.
O principal
resultado daquela experiência foi que os habitantes de Bikini jamais regressaram
à sua ilha, convertendo-se no primeiro povo da História a ter sofrido um êxodo
nuclear. Hoje em dia, levam uma vida errante, dependendo da hospitalidade de
outros povos e sonhando em regressar um dia a um paraíso que já não existe.
O ARSENAL
ATÔMICO
O ano de 1951 foi
quando os Estados Unidos conceberam um arsenal nuclear tal como o entendemos na
atualidade, o qual foi testado ao longo de uma série de ensaios coletivamente
conhecidos como Buster/Jangle e que decorreram num campo de testes instalado no
deserto de Nevada para tal efeito.
Yucca Flat, um
antigo território de garimpeiros situado a menos de cem quilômetros a norte de
Las Vegas, foi o local escolhido para as sete detonações nucleares que foram
executadas enquanto durou o projeto. Nessa altura, cientistas e militares tinham
interesses diferentes e os testes tiveram de ser planejados para satisfazer as
expectativas de ambos. Os cientistas necessitavam de afinar os aspectos
tecnológicos, como o aperfeiçoamento de dispositivos de descarga mais
confiáveis, ou encontrar formas de obter uma energia maior com a mesma
quantidade de material físsil. Pelo seu lado, os generais precisavam desenvolver
a tática da guerra nuclear, um estilo de combate inédito que necessitaria de
procedimentos próprios. Para desenvolver estas táticas, efetuaram-se uma série
de manobras militares que coincidiam com os testes e em que centenas de soldados
foram expostos à radiação das explosões atômicas. A primeira destas
desafortunadas unidades foi o 354th Engineer Combat Group, que foi a encarregada
de preparar o campo para as primeiras manobras atômicas da História.
COBAIAS HUMANAS
No outono de 1950, a
guerra da Coreia encontrava-se no seu apogeu e os Estados Unidos tinham perdido
o monopólio nuclear ao ter sido detonado com êxito o primeiro artefato atômico
soviético. A guerra fria era um fato e o fantasma de um apocalipse radioativo
abatia-se sobre o mundo. A única maneira viável para que o arsenal termonuclear
não fosse uma ameaça inútil era conseguir que a sua utilização não fosse um
sinônimo do fim do mundo, quebrando a doutrina da destruição “mútua assegurada”
que mantinha o precário equilíbrio entre as superpotências. Tratava-se de
desenvolver armas menores que fossem suscetíveis de ser utilizadas de modo
“seguro” numa batalha real. No entanto, os cientistas não se encontravam ali
para testar uma arma, mas sim uma teoria. Concretamente estavam muito mais
interessados nos efeitos da radiação sobre os organismos vivos, algo que já
tinha começado a ser estudado no atol de Bikini. Desta vez, a novidade era que
as centenas de animais que deram as suas vidas pelo progresso atômico foram
piedosamente anestesiados, antes de serem expostos aos efeitos da explosão e
mais tarde dissecados. Claro que, se na verdade queriam conhecer os efeitos da
radiação sobre o corpo humano, podiam ter recorrido aos 75 mil doentes de cancro
da tiróide devido, segundo o Instituto Nacional do Cancro, às provas nucleares
de Nevada ou às vítimas do aumento de 40% dos casos de leucemia infantil que
aconteceram no vizinho Estado de Utah entre 1951 e 1958.
A fase seguinte de
testes nucleares foi executada sob o nome de código de Tumbler/Snapper, e
passará à História como a experiência nuclear em que mais seres humanos se viram
envolvidos como cobaias. Sob o patrocínio da recém-criada Comissão de Energia
Atômica, centenas de seres humanos foram expostos, agora mais diretamente que
nunca, à ação das detonações atômicas. Houve abusos de todo o tipo e até se
deram casos em que foi ordenado aos pilotos que atravessassem o cogumelo
radioativo para recolherem amostras da atmosfera. O objetivo desta atitude
aparentemente inexplicável era efetuar um minucioso estudo psicológico acerca do
comportamento das tropas num campo de batalha atômico. Em caso de guerra era
preciso contar com operacionais eficazes que apoiassem de imediato a contundente
ação dos bombardeiros nucleares e, ao serem treinados velhos cavalos de batalha
com o disparo de armas de fogo perto deles para que, chegado o momento, não se
assustassem, chegou-se à conclusão de que com seres humanos se podia fazer o
mesmo. Assim teve início uma autêntica loucura em que a cada teste os soldados
eram colocados cada vez mais próximos do núcleo da explosão: “Antes destes
homens serem designados para a operação”, disse em tom enfático o narrador do
documentário, “tinham um monte de preconceitos em relação à bomba e aos seus
efeitos. Tal como tantas outras pessoas na sua situação, muitos deles estavam
assustados. Nunca tinham dedicado tempo ou esforço a aprender os fatos, bem como
aquilo que teriam de fazer no que se referia ao armamento atômico. Estes homens
foram doutrinados acerca do que sucederá e do que devem fazer se a bomba cair”.
No entanto, apesar
do entusiasmo do narrador, os resultados não puderam ser mais desanimadores.
Segundo os psicólogos, os soldados sofriam um enorme stress emocional quando
presenciavam uma explosão nuclear e isso tornava-os imprevisíveis em situação de
combate. É compreensível que estivessem assustados.
Durante os anos que
se seguiram os membros deste coletivo desenvolveram todo o gênero de cancros,
enfermidades sanguíneas, degenerativas e psíquicas. Isto sem contar com os danos
genéticos que transmitiram aos seus filhos e netos, e que fazem com que os
afetados recordem amargamente como os seus instrutores ridicularizavam os seus
medos no que se referia ao impacto da radiação sobre a sua capacidade
reprodutora. O pior de tudo é que não obtiveram qualquer auxílio ou indenização
já que, dada a condição de elevada confidencialidade daquelas experiências, não
existia maneira de demonstrar perante um tribunal a relação entre os seus males
e os testes nucleares nos quais participaram.
Logicamente, a
opinião pública mantinha-se alheia a tudo isto, apesar do programa de testes nem
sequer ser um segredo, e meios da comunicação social como a revista Life
mantinham os norte-americanos informados do que estava a suceder no Estado de
Nevada, publicando até fotografias das nuvens nucleares - encontrávamo-nos no
apogeu de uma campanha propagandística a todos os níveis para que os
norte-americanos vissem aquilo que dizia respeito à energia nuclear com absoluta
naturalidade.
Durante o programa
Tumbler/Snapper testaram-se vários tipos de bomba atômica com potências que
oscilavam entre 1 e 30 quilotoneladas. Foi construída uma cidade com edifícios e
árvores junto à zona de ensaios para reproduzir com a maior fidelidade possível
os efeitos de uma explosão atômica num núcleo urbano. Pouco a pouco, o campo de
Yucca Flat foi-se cobrindo de crateras de diferentes tamanhos e profundidades,
dependendo da intensidade de cada explosão e das condições geológicas do
terreno. A Comissão de Energia Atômica nunca parecia satisfeita, e solicitava
sempre “mais um teste” para verificação de uma ou outra teoria no terreno.
A BOMBA H
A perda do monopólio
nuclear por parte dos Estados Unidos tinha colocado as superpotências num
equilíbrio incômodo. O desenvolver da bomba de hidrogênio era o projeto em que
os norte-americanos tinham posto todas as suas esperanças, de modo a fazerem com
que a balança voltasse a pender para o seu lado. Sobre o estirador do projeto, a
construção do novo artefato atômico não se revestia de especial dificuldade. Mas
não bastava fabricá-lo: também era necessário comprovar no terreno o seu
potencial destruidor, pelo que se voltaram para o Pacífico, onde tiveram lugar
os ensaios a que se deu o nome de código Operação Ivy. Desta vez, o cenário do
teste seria o atol de Enewetak, mais uma vez nas já castigadas ilhas Marshall,
onde se montaria e se faria rebentar a Mike, a primeira bomba de hidrogênio da
História, cujo nome foi escolhido pelo “M” de megatonelada.
Ninguém sabia com
toda a certeza o que poderia acontecer, já que até àquele momento a “bomba H”
tinha sido apenas uma mera concepção teórica.
Mike era assim uma
verdadeira incógnita, e estimativas como as distâncias de segurança
estabeleceram-se praticamente a olho. As 10,4 megatoneladas do artefato
outorgavam-lhe uma potência 650 vezes superior à da bomba de Hiroxima, e isso
despertou uma certa inquietação entre os responsáveis pela experiência, a
chamada “Comissão Panda” encabeçada por J. Carson Mark, no laboratório de Los
Alamos. Mas a tentação de ir mais além do que alguém tinha alguma vez sonhado,
desencadeando uma energia apenas comparável com aquela que vibra no coração do
sol, era grande. Tratava-se de executar a maior demonstração de poder que jamais
se tinha realizado na História humana. Mas a natureza tinha uma surpresa
reservada para os cientistas e militares responsáveis pelo projeto.
Mike foi um êxito
para lá das expectativas dos que a projetaram e ainda hoje é a quarta maior
explosão nuclear da História dos Estados Unidos. Com o passar do tempo foram
muitos os militares que confessaram terem-se sentido horrorizados ao comprovar
que tinham nas mãos o instrumento para exterminar para sempre da face da Terra
enormes núcleos populacionais.
Mas, como sempre, a
Comissão de Energia Atômica não estava satisfeita e começou a fabricar King -
neste caso, o “K” era de quilotoneladas -, um segundo protótipo completamente
operacional e projetado para ser lançado por um bombardeiro B-36 sobre a ilha
Kwajalein, também no arquipélago das Marshall. King chegou quase a superar o seu
irmão apesar de ter um tamanho consideravelmente menor. Esta única detonação
libertou mais poder destrutivo do que todo aquele que tinha sido utilizado
durante a Segunda Guerra Mundial. King foi o modelo utilizado no desenvolvimento
da Mk-18, uma arma nuclear, da qual os Estados Unidos construíram dezenas de
unidades durante os anos que se seguiram.
REGRESSO A
BIKINI
No meio deste clima
tornou-se necessária uma nova bateria de testes nucleares que, sob o nome de
Operação Castle, se realizaram num cenário que já se tinha convertido num
clássico das experiências atômicas: o atol de Bikini. O objetivo principal nesta
ocasião consistia em testar artefatos nucleares baratos e de pouco peso que
pudessem ser produzidos em massa e eficazmente utilizados como arma de
bombardeamento. Podemos fazer uma ideia das intenções que animavam o projeto
através das palavras do general Clarkson, a mando da Junta da Força Operativa 7,
encarregada da execução do projeto: “Castle foi, sem dúvida, a mais completa e
significativa operação na curta mas impressionante História dos testes militares
e, na minha opinião, absolutamente vital para a segurança nacional e para o
resto do mundo livre.”
A ilha de Perry foi
a escolhida como o lugar onde se montariam as bombas e Enyu seria o sítio de
onde se dispararia o primeiro artefato, conhecido com o nome de código de Bravo.
A tecnologia nuclear já não era algo de novo e, assim, nesta ocasião
respirava-se confiança entre os participantes na missão; no entanto, neste caso
a confiança foi inevitavelmente a antecâmara do erro. A quantidade de radiação
emitida foi sensivelmente maior que a esperada e, se as provas anteriores já
tinham afetado a ilha, a Operação Castle converteu-a num verdadeiro cemitério
nuclear em que foram registradas leituras que ultrapassavam os 100 rad por hora.
A 1º de Março de
1954, e devido a um inexplicável erro de cálculo, as 3 megatoneladas previstas
converteram-se em 1512. A bomba explodiu com muitíssimo mais potência do que o
previsto, espalhando-se rapidamente uma chuva de radiação que se expandiu a 300
quilômetros em redor, cobrindo uma área de oito mil quilômetros quadrados. A
ofuscante bola de fogo produziu um cogumelo de 25 quilômetros de altura que
aspirou com uma força irresistível milhões de toneladas de areia, água, corais,
plantas e fauna marinha, que foram pulverizados, radioativamente carregados e
espargidos por todo o arquipélago. A explosão gerou um furacão artificial que
arrancou pela raiz todas as árvores de Bikini. Toda a população das Marshall
ficou afetada e houve até quem tivesse ficado queimado pelas cinzas radioativas.
O povo exilado de Bikini tinha agora de sofrer na pele o mesmo que a sua terra
natal já tinha experimentado. Os militares norte-americanos tão-pouco se
libertaram dos efeitos da radiação.
NAÇÕES UNIDAS
O mais triste de
toda a situação é que tudo isto ocorria com a cumplicidade das Nações Unidas
que, em 1947, tinha qualificado a zona como de interesse estratégico,
colocando-a sob a administração dos Estados Unidos, uma medida estranha que não
tinha precedentes e que nunca mais voltou a ser tomada. Para além de outorgar
autorização aos norte-americanos para fazer e desfazer a seu gosto o
arquipélago, a resolução da ONU também impunha certas obrigações aos
administradores, como “promover o desenvolvimento econômico e a auto-suficiência
dos habitantes” e “proteger os habitantes contra a possível perda das suas
terras e recursos”.
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